Há poucos dias do início da Conferência do Clima da ONU (COP30), os países já se preparam para as várias rodadas de negociação em Belém (PA). O objetivo é avaliar, melhorar e criar medidas para combater às mudanças climáticas na Terra. No entanto, um assunto pode virar o “calcanhar de Aquiles” durante as conversas: o financiamento climático. O evento acontecerá entre 10 e 21 de novembro.
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“O financiamento climático diz respeito aos fundos e à movimentação financeira necessária para dar suporte às ações que o planeta precisa adotar diante da crise climática. Isso inclui subsídios e investimentos voltados à implementação de políticas, tecnologias e mudanças estruturais em diferentes países”, explica a pesquisadora do Instituto Serrapilheira Marina Hirota, membro do conselho científico da presidência da COP30.
A chegada de recursos para a recuperação ambiental é essencial, pois qualquer transformação nessa área tem um custo elevado. Como grande parte das riquezas do mundo estão concentradas nas mãos de poucos, vários países não têm condições financeiras, tecnológicas ou humanas para arcar com as mudanças.
No entanto, mesmo sabendo da importância da pauta, o consenso entre os países ainda é algo complicado. Muitos impasses estão ligados ao que deve ser priorizado, o ritmo e as particularidades de cada país. Enquanto uns priorizam investimentos em mitigação e energia limpa, outros preferem se adaptar às mudanças já em curso ou fazer o ressarcimento por perdas e danos. Com diferentes cartas na mesa, as dificuldades aumentam.
“As diferenças de perspectiva tornam o processo de negociação complexo. É preciso que os países cheguem a um entendimento comum para que o dinheiro seja distribuído de forma justa e as ações possam realmente avançar”, ressalta Marina.
A especialista em clima Tatiana Oliveira também aponta que a insuficiência de financiamento público, lentidão para criar novas fontes de renda, a falta de representatividade de povos indígenas e comunidades locais, além da disputa geopolítica impactam negativamente as negociações.
“Belém será um grande teste: o mundo quer ver se a agenda de Baku – acordos firmados na COP29, no Azerbaijão – ganhará tração real rumo a um sistema que financie a vida e não crises”, afirma a líder de estratégia internacional do WWF-Brasil.
De onde saem os recursos?
Para os recursos chegarem, eles têm que partir de algum lugar. Normalmente, a verba é levantada de fontes filantrópicas, governamentais e privadas. Fundos de investimentos internacionais também podem ajudar.
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Uma das propostas para o assunto será liderada pelo Brasil. Nosso país irá propor o Fundo Tropical das Florestas para Sempre (TFFF, na tradução em inglês). O projeto visa captar recursos para a criação de um fundo internacional que irá recompensar financeiramente países responsáveis com a preservação de suas florestas.
“Para que esse tipo de fundo ganhe legitimidade, é preciso que apresente tecnologias e mecanismos de aplicação que realmente funcionem e que estejam de acordo com a realidade e os interesses de cada país participante”, aponta Marina.
E se as negociações pelo financiamento climático travarem?
Para o professor Paulo Artaxo, da Universidade de São Paulo (USP), o financiamento climático será uma das pautas mais importantes desta COP. “Ele é absolutamente estratégico para que os países em desenvolvimento, principalmente, possam implementar transições energéticas e estratégias de redução do desmatamento de florestas como um todo”, diz o membro da Academia Brasileira de Ciências.
Caso as negociações travem, falhas e atrasos no financiamento climático podem aumentar as perdas humanas, econômicas e ambientais. Com a piora das mudanças climáticas, a ocorrência de eventos climáticos extremos, como secas, chuvas fortes e ondas de calor, aumentaria. Esses fatores causam mais mortalidade e impactam diretamente a segurança alimentar e a cultura dos povos tradicionais.
“O atraso no financiamento climático não é apenas uma postergação administrativa e sim a aceleração do colapso climático e humanitário”, afirma Tatiana.
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