Fim do match: governo chinês manda remover apps LGBTQIAPN+ da App Store

A Apple retirou os populares aplicativos de namoro gay Blued e Finka da App Store chinesa, informou a Wired. Segundo o site, a ação foi tomada após uma determinação do órgão regulador da internet no país.

O episódio representa mais um duro golpe à comunidade LGBTQIAPN+ na China, que já enfrenta censura e restrições crescentes nas plataformas digitais. Apesar da remoção, usuários que já haviam baixado os aplicativos ainda conseguem acessá-los.

A Apple retirou os aplicativos para seguir com uma ordem da Administração do Ciberespaço da China. “Seguimos as leis dos países que operamos”. Imagem: Jonathan Weiss / Shutterstock

Controle crescente sobre a comunidade LGBTQIAPN+

A China descriminalizou a homossexualidade na década de 1990, mas o casamento entre pessoas do mesmo sexo continua sem reconhecimento legal. Nos últimos anos, o Partido Comunista Chinês tem reforçado o controle sobre a sociedade civil e a liberdade de expressão, o que impactou diretamente grupos LGBTQIAPN+.

Diversas organizações de direitos civis foram fechadas, e redes sociais locais intensificaram a censura de contas e conteúdos voltados à comunidade queer.

O bloqueio dos aplicativos reforça esse avanço da censura – o Grindr, por exemplo, foi retirado da App Store chinesa em 2022. A decisão também reflete um histórico de medidas que restringem os direitos e a visibilidade desse grupo no país.

O episódio representa mais um duro golpe à comunidade LGBTQIAPN+ na China, que já enfrenta censura e restrições crescentes nas plataformas digitais. Imagem: Ink Drop – shutterstock

Entre as políticas que evidenciam esse cenário estão:

a descriminalização da homossexualidade nos anos 1990;

a ausência de reconhecimento do casamento entre pessoas do mesmo sexo;

a intensificação do controle estatal sobre a sociedade civil;

o fechamento de ONGs e a censura em redes sociais.

“Seguimos as leis dos países onde operamos. Com base em uma ordem da Administração do Ciberespaço da China, removemos esses dois aplicativos apenas da loja chinesa”, explicou a Apple em comunicado.

Qual o impacto sobre os usuários

A decisão não apenas limita o acesso a espaços digitais de convivência, mas também prejudica serviços de saúde e apoio ligados aos aplicativos. A BlueCity, empresa controladora do Blued, chegou a operar uma farmácia digital e uma clínica de telemedicina voltada para homens, oferecendo tratamento para condições como disfunção erétil e infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).

Em nota, a companhia – que também havia adquirido o aplicativo Finka – explicou que ele era exclusivo da China e já havia sido retirado das lojas de aplicativos anteriormente. Além disso, no início de 2024, renomeou a versão internacional do Blued para HeeSay, aplicativo que se tornou popular em países como Índia e Filipinas.

O Grindr também foi banido na China. Agora, a dúvida é se os aplicativos poderão retornar às lojas digitais após as revisões exigidas pelo governo. Imagem: Faizal Ramli/Shutterstock

Um símbolo que vai além do namoro

O Blued, que chegou a ter mais de 49 milhões de usuários, sempre teve papel relevante na visibilidade e apoio à comunidade LGBTQIAPN+ chinesa. Em 2021, o fundador do app, Ma Baoli, chegou a se reunir com o então vice-primeiro-ministro Li Keqiang para discutir ações de prevenção ao HIV – um encontro visto como uma rara demonstração de aceitação institucional.

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Hoje, porém, a situação é bem diferente. Mesmo mantendo programas reconhecidos, como um projeto de testes de HIV premiado em Pequim, o espaço para iniciativas LGBTQIAPN+ encolheu consideravelmente. A incerteza agora é se os aplicativos poderão retornar às lojas digitais após as revisões exigidas pelo governo.

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