Os lucros das big techs continuam a subir, impulsionados pela explosão da inteligência artificial (IA). Empresas como Microsoft, Nvidia, Alphabet e Amazon registraram resultados trimestrais recordes graças à demanda crescente por chips, nuvem e infraestrutura de dados. Mas, por trás dos números positivos, há uma realidade menos evidente: as startups de IA generativa — como OpenAI e Anthropic — estão acumulando perdas em escala bilionária, sustentando, de forma indireta, o lucro das gigantes. As informações são do The Wall Street Journal.
Enquanto as big techs prosperam com a venda de componentes e serviços para o setor, as startups de IA enfrentam o lado mais caro da revolução tecnológica. Seus investimentos massivos em pesquisa, desenvolvimento e poder computacional criam um ciclo de perdas que beneficia diretamente as empresas que as abastecem.
O contraste entre lucros e perdas
Segundo dados recentes, a OpenAI, criadora do ChatGPT, teve prejuízo superior a US$ 12 bilhões apenas no trimestre encerrado em 30 de setembro — um dos maiores do mundo corporativo. Embora a empresa não divulgue balanços oficiais, estimativas baseadas na participação da Microsoft indicam que o valor representa perdas reais, não ajustes contábeis.
A OpenAI teve prejuízo superior a US$ 12 bilhões apenas no trimestre encerrado em 30 de setembro (Imagem: JarTee/Shutterstock)
A Anthropic, responsável pelo chatbot Claude e apoiada pela Amazon, enfrenta cenário semelhante. Ambas as startups estão gastando bilhões em chips e computação em nuvem, contratando engenheiros altamente especializados e firmando contratos que devem gerar ainda mais custos nos próximos anos.
Entre os compromissos da OpenAI com as big techs estão:
US$ 250 bilhões em serviços de nuvem com a Microsoft;
US$ 300 bilhões em contratos com a Oracle;
US$ 38 bilhões em infraestrutura da Amazon;
US$ 22 bilhões em acordos com a CoreWeave.
Esses valores explicam por que o setor de data centers está em expansão acelerada — e por que as big techs, ao mesmo tempo em que investem, colhem os lucros dessa corrida tecnológica.
O dilema financeiro da inteligência artificial
Os desafios financeiros das startups de IA não se resumem às perdas momentâneas. As previsões de receita da OpenAI, por exemplo, indicam um crescimento agressivo: US$ 13 bilhões este ano, com expectativa de dobrar em 2026 e novamente em 2027. Contudo, os custos devem aumentar ainda mais rápido. As projeções apontam que as perdas podem triplicar e ultrapassar US$ 40 bilhões até 2027, com equilíbrio financeiro esperado apenas em 2030.
As dificuldades financeiras das startups de IA vão muito além dos prejuízos temporários (Imagem: thanmano / Shutterstock)
Essa discrepância entre faturamento e despesa mostra que, por trás da euforia com a IA, há uma estrutura econômica instável. Para o modelo se sustentar, é necessário o desenvolvimento de produtos realmente rentáveis, capazes de cobrir os altos custos de operação, além do contínuo interesse dos investidores, que precisam financiar as perdas até que as empresas consigam se equilibrar.
Caso o entusiasmo do mercado diminua ou o fluxo de investimentos desacelere — cenário possível em tempos de recessão ou saturação do setor —, a dependência das big techs em relação às startups de IA pode se tornar um problema.
A dependência mútua entre big techs e startups de IA
Hoje, a simbiose é evidente. As big techs ganham com a infraestrutura que fornecem às startups, enquanto essas dependem dos recursos e da tecnologia das gigantes para treinar seus modelos. Nvidia, por exemplo, é beneficiada pela alta demanda por seus chips; Microsoft e Amazon lucram com contratos bilionários de computação em nuvem.
Mas, como alertam analistas, o entusiasmo pode mascarar riscos. A antiga máxima “receita é vaidade, lucro é sanidade e caixa é realidade” resume o desafio do momento. Se os produtos de IA não se tornarem rentáveis em larga escala, o que hoje impulsiona os lucros das big techs poderá se transformar em uma crise de financiamento para todo o setor.
As big techs lucram ao oferecer a infraestrutura que sustenta as startups, que, por sua vez, precisam dos recursos e da tecnologia dessas gigantes (Imagem: Tada Images/Shutterstock)
Por enquanto, os balanços seguem positivos para as gigantes, mas é o capital das startups — e seus prejuízos bilionários — que mantém as engrenagens da nova era da inteligência artificial girando.
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Como big techs têm financiado seus data centers de IA?
A Meta, dona do Facebook e do Instagram, está por trás de um dos acordos mais ousados: o projeto Hyperion, um data center de US$ 30 bilhões (cerca de R$ 168 bilhões) construído em parceria com o fundo Blue Owl Capital.
Para bancar a obra, a empresa combinou instrumentos típicos de diferentes mundos — private equity, financiamento de projeto e títulos de dívida — numa engenharia financeira inédita. Conheça mais detalhes nesta outra matéria do Olhar Digital.
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