Quando o pequeno Lucca, então com cinco anos, começou a ter episódios de escape de xixi na escola, o pai, Marcelo Lopes, 44 anos, analista de sistemas, percebeu que algo estava errado. Ele já vivia com diabetes tipo 1 e reconheceu imediatamente os sinais de que o filho poderia ter a mesma condição.
Ao testar a glicemia da criança, veio a confirmação que mudaria a rotina de toda a família: Lucca também tinha diabetes tipo 1. A partir daquele momento, alimentação, horários, hábitos e até a dinâmica do dia a dia passaram a ser reorganizados para garantir um controle glicêmico seguro e constante.
“Foi um susto, mesmo já convivendo com a doença”, conta.
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Marcelo faz questão de mostrar ao filho que conviver com o diabetes não significava viver com medo. Um dos pontos que mais trouxe segurança ao menino foi o uso de uma bomba de insulina que funciona em conjunto com um sensor de monitoramento contínuo da glicose.
O dispositivo acompanha a glicemia de Lucca em tempo real, durante as 24 horas do dia, e ajusta automaticamente a liberação de insulina a cada cinco minutos, inclusive durante a madrugada.
“Depois da bomba, as hipoglicemias noturnas diminuíram muito, e a glicada dele passou a ficar dentro da meta. É uma tranquilidade para nós”, conta o pai.
O endocrinologista pediátrico Luís Eduardo Calliari, da Santa Casa de São Paulo, explica que o dispositivo automatizado é interessante para crianças pois combina precisão e segurança. A bomba calcula e corrige a dose de insulina de maneira contínua, algo que reduz episódios de hipoglicemia e melhora o controle glicêmico como um todo.
Para Calliari, esse avanço representa uma mudança significativa na forma de cuidar de crianças acima de sete anos, público para o qual o sistema está indicado. Na prática, significa menos interrupções, menos picadas no dedo e uma rotina mais leve.
A experiência da família confirma esse impacto. Enquanto o pai e Lucca utilizam o sistema automatizado, Marcela, a filha adolescente que também tem diabetes tipo 1, ainda administra o próprio tratamento com múltiplas aplicações diárias de insulina.
O que é diabetes tipo 1?
A diabetes mellitus tipo 1 (DM1) é uma doença crônica não transmissível, hereditária, caracterizada pela deficiência de insulina no organismo.
O pico de incidência do DM1 ocorre em crianças e adolescentes, entre 10 e 14 anos, mas pode aparecer em adultos de qualquer idade.
No Brasil, estima-se que ocorram 25,6 casos por 100 mil habitantes a cada ano, sendo considerada uma incidência elevada.
O tratamento exige o uso diário de insulina para regular os níveis de glicose no sangue, evitando complicações da doença.
A fase da adolescência, marcada por mais autonomia, faz com que as oscilações sejam comuns, e Marcelo reconhece como o uso da bomba poderia oferecer mais estabilidade. Mesmo assim, ele valoriza o aprendizado da filha e reforça que a vivência com o diabetes tipo 1, embora exigente, também desperta maior consciência sobre saúde e autocuidado.
Diabetes tipo 1 em crianças
O Brasil é o terceiro país com maior prevalência da doença entre crianças e adolescentes e cerca de 600 mil pessoas convivem com diabetes tipo 1 no país.
Em 2022, 26 mil jovens morreram por falta de diagnóstico adequado, e cada pessoa diagnósticada aos dez anos perde, em média, 33,2 anos de vida saudável. Os números ajudam a mostrar o peso do diagnóstico precoce e de tratamentos modernos, que podem reduzir e garantir maior qualidade de vida.
Nos últimos anos, soluções tecnológicas como o monitoramento contínuo e as bombas automatizadas têm se mostrado fundamentais para esse processo. O acesso ampliado a esses dispositivos poderia preservar até 56 mil vidas no Brasil até 2040, mas apenas 2% dos brasileiros com DM1 utilizam as tecnologias.
Em comparação, nos Estados Unidos, o número chega a 30%, evidenciando a necessidade de políticas de acesso e educação em saúde. Para Marcelo, compartilhar a própria experiência é uma forma de acolher quem está começando a lidar com o diagnóstico.
Ele reforça que a diabetes tipo 1 exige atenção diária, mas não impede uma rotina cheia de vida. “O diagnóstico assusta, mas não é uma sentença. É uma virada de chave. Com informação, cuidado e tecnologia, dá para viver muito bem. Sou a prova disso”, lembra.
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