Entenda como o Brasil monitora tornados e outros eventos climáticos

A passagem de um tornado causou destruição e mortes em Rio Bonito do Iguaçu, no Centro-Sul do Paraná, na tarde de 7 de novembro. O fenômeno, classificado como categoria F3 na escala Fujita — que mede a intensidade dos tornados — teve ventos estimados entre 300 km/h e 330 km/h e atingiu a área urbana por volta das 18h, derrubando casas, galpões e torres de energia. Ao menos cinco pessoas morreram e mais de 400 ficaram feridas.

De acordo com o Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar), as tempestades resultaram na ocorrência de três tornados no estado, também registrados em Turvo e Guarapuava.

No Brasil, a detecção de tempestades severas e tornados depende de uma rede de estações meteorológicas espalhadas pelo território nacional. Esses equipamentos registram dados sobre umidade, temperatura e precipitação, que são analisados por softwares de modelagem para prever tendências de tempo e clima.

“Quanto mais estações meteorológicas espalhadas, maior a probabilidade de modelar e prever esses fenômenos. Mas, como o país é muito grande, ainda é necessário investir mais nessa estrutura”, afirma o geólogo Silas Costa, do Seridó Unesco Global Geopark.

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Ele lembra que o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) tem papel central nesse monitoramento, embora a abrangência territorial e a falta de investimentos dificultem a precisão dos alertas.

O pesquisador aponta que os sistemas de alerta da Defesa Civil ainda são limitados. “Hoje, as mensagens de SMS e comunicados na TV são as principais formas de aviso, mas os sistemas municipais de alerta e os treinamentos para resposta a desastres ainda são incipientes”, observa.

Confira imagens aéreas de como ficou a cidade:

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Tornado com ventos de até 250 km:h devastou o município de Rio Bonito do Iguaçu, no Paraná. Ao menos seis pessoas morreram

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Tornado com ventos de até 250 km:h devastou o município de Rio Bonito do Iguaçu, no Paraná. Ao menos seis pessoas morreram

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Tornado com ventos de até 250 km:h devastou o município de Rio Bonito do Iguaçu, no Paraná. Ao menos seis pessoas morreram

Ari Dias/AEN

Mudanças climáticas e necessidade de novos investimentos

A frequência e a intensidade dos fenômenos meteorológicos também estão ligadas às mudanças climáticas globais, que têm alterado padrões antes previsíveis.

“As mudanças climáticas influenciam, não só na frequência, mas também na previsibilidade dos fenômenos. Eventos como tornados estão se tornando mais comuns, mesmo em anos neutros, sem El Niño ou La Niña”, explica Costa.

Para a meteorologista Andrea Ramos, que atua em Brasília, o aprimoramento do monitoramento depende de uma modernização tecnológica ampla. “É importante expandir e modernizar a rede de radares Doppler, especialmente nas regiões mais vulneráveis, para detectar em tempo real as características de rotação dentro das supercélulas”, afirma.

Ela também destaca a necessidade de novos supercomputadores para rodar modelos de previsão numérica de alta resolução e de integrar melhor os órgãos de pesquisa e defesa civil.

“Os alertas precisam ser emitidos de forma rápida, clara e localizada, inclusive por celular. Além disso, a infraestrutura urbana deve ser adaptada, com construções mais resistentes a ventos extremos e planos de evacuação bem definidos”, alerta.

Corredor de tornados

Embora raros em boa parte do território nacional, os tornados têm maior frequência nos estados do Sul. Andrea explica que a região está localizada no Corredor de Tornados da América do Sul, que abrange áreas do Uruguai, Paraguai, Argentina e parte do Brasil.

“A Região Sul é mais propensa à formação de tornados por sua posição geográfica, que a transforma em um corredor atmosférico onde há o encontro de massas de ar quente e úmido vindas da Amazônia e massas de ar frias que avançam do Oceano Atlântico Sul e da Argentina”, detalha.

Segundo Andrea, o choque entre essas correntes, com temperaturas e pressões distintas, fornece a energia necessária para a formação das supercélulas, estruturas de tempestade que podem gerar tornados.

“O contraste entre o ar frio e o ar quente e úmido cria o cisalhamento do vento, ou seja, a variação da velocidade em diferentes altitudes, condição essencial para o desenvolvimento de fenômenos intensos”, explica.

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