Apesar de a energia renovável ser amplamente reconhecida como essencial para um futuro mais limpo e econômico, ela ainda está distante da rotina da maioria dos brasileiros.
Segundo o estudo ESG Trends 2025, conduzido no Brasil pela Demanda Pesquisa e Desenvolvimento de Mercado, 76% da população considera o uso de energia limpa importante, mas apenas 26% de fato colocam a prática em ação.
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A diferença de 50 pontos percentuais é o maior hiato entre os 24 hábitos sustentáveis avaliados pela pesquisa, realizada em 13 países. De acordo com Silvio Pires de Paula, presidente da instituição de pesquisa, a discrepância entre discurso e prática revela o chamado “gap” de atitude e comportamento.
“As pessoas valorizam causas ambientais, mas ainda enfrentam barreiras para transformar essa consciência em ação concreta. Entre os fatores estão o custo inicial elevado, o acesso limitado a fornecedores e a falta de informação sobre alternativas viáveis”, explica.
24 hábitos sustentáveis para adotar agora
Evitar o desperdício de alimentos.
Reduzir o consumo de energia (apagar luzes, tomar banhos curtos, etc.).
Separar e reciclar resíduos.
Reduzir o desperdício de plástico descartável.
Prestar atenção às empresas que usam seus dados (certificar-se de que elas respeitam a privacidade dos dados).
Comprar apenas o que você precisa, evitando compras por impulso.
Comprar produtos produzidos de forma ética e responsável.
Melhorar a eficiência energética da sua casa (isolamento, fontes de energia, etc.).
Comprar produtos reutilizáveis ou biodegradáveis.
Comprar produtos de empresas com considerações éticas (bem-estar dos funcionários, consideração pelas populações locais, políticas de diversidade e inclusão, etc.).
Comprar produtos de qualidade, feitos ao longo do tempo.
Dar uma segunda vida aos objetos/roupas.
Comprar produtos feitos com ingredientes orgânicos/naturais.
Comprar produtos locais.
Comprar produtos de empresas com considerações ecológicas (impacto ambiental dos produtos, produção, etc.).
Comprar produtos sem embalagens desnecessárias.
Investir em empresas que tenham impacto positivo em causas éticas e/ou ambientais.
Escolher um empregador com considerações éticas e/ou ecológicas.
Comprar energia de fontes renováveis.
Limitar o uso do carro em seu deslocamento diário (usar transporte público, caminhada, bicicleta, carona, etc).
Apoiar ONGs (através de doações, voluntariado etc.).
Escolher seu banco de acordo com a natureza de seus investimentos.
Limitar o número de viagens aéreas.
Comprar objetos/roupas de segunda mão.
Fonte: Demanda Pesquisa e Desenvolvimento de Mercado e Global Market Research
Barreiras técnicas e culturais
O engenheiro de energia Rodrigo Porto, da Universidade de Brasília (UnB), reforça que os principais entraves para a expansão da energia renovável no país são estruturais e financeiros.
“As redes elétricas brasileiras ainda não estão totalmente adaptadas para receber energia descentralizada, e o investimento inicial em painéis solares continua alto para a maioria das famílias”, aponta. Além disso, ele cita a burocracia regulatória e a falta de informação técnica como obstáculos importantes.
Outro aspecto, segundo Porto, é a percepção de que o Brasil já tem uma matriz majoritariamente limpa, o que reduz a sensação de urgência em investir em energia solar doméstica.
“Muitos pensam que o país já faz a sua parte, mas a participação individual é essencial para a ampliação da transição energética e para o fortalecimento de fontes descentralizadas”, afirma.
Fator econômico e conscientização
Francisco Moreira, coordenador de sustentabilidade da COP30, destaca que o chamado “fator bolso” é determinante. “O brasileiro entende a importância da sustentabilidade, mas quando a mudança exige investimento alto, como um sistema solar de dezenas de milhares de reais, ela se torna inviável para grande parte da população”, explica.
Ele lembra que o país é de renda média e que incentivos públicos são fundamentais para estimular a transição. “Quando o Estado oferece isenção de impostos ou linhas de crédito acessíveis, a adesão cresce rapidamente. As pessoas querem contribuir, mas precisam de meios concretos para isso”, aponta.
Para Moreira, o desafio também é cultural: a consciência ambiental existe, mas a ação ainda não está no mesmo nível. “Muitos esperam que certas práticas se tornem obrigatórias para agir. Por isso, políticas públicas e programas educativos são essenciais para transformar o discurso em hábito”, conclui.
De acordo com Porto, o Brasil, por sua abundância de sol e vento, está em posição privilegiada para acelerar a transição energética. “Temos um imenso potencial técnico e natural, mas o verdadeiro desafio é social e informativo”, reflete.
Para o especialista, compreender a lacuna entre intenção e ação é o primeiro passo para superá-lo e que o maior objetivo nos dias de hoje é justamente munir governos, empresas e cidadãos de informações que permitam fechar o “buraco” entre boa intenção e prática.
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