Cérebro ambulante? Entenda como funciona o sistema nervoso dos ouriços

Ao avistar um ouriço-do-mar (Echinoidea), muitas pessoas pensam se tratar de uma criatura simples, em forma de bola e cheia de espinhos. No entanto, um estudo realizado por pesquisadores europeus mostra que o animal possui um sistema nervoso mais sofisticado, como se tivesse um “cérebro espalhado” por todo o corpo.

A descoberta ocorreu enquanto cientistas investigavam a metamorfose de ouriços-do-mar roxos (Paracentrotus lividus). A pesquisa foi liderada pelo biólogo Periklis Paganos, do instituto de pesquisa biológica e ecológica Stazione Zoologica Anton Dohrn, na Itália. Os resultados foram publicados na revista científica Science Advances, em 5 de novembro.

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Durante a análise inicial, foi possível observar que há duas fases no crescimento do animal: uma larval de nado livre e com simetria bilateral; e outra na fase adulta, já no formato em que estamos acostumados a encontrá-lo, cheio de espinhos e com simetria radial.

Na fase adulta, o animal carrega uma variedade de células neuronais, formando um sistema integrado pelo corpo. No entanto, os nervos não vêm de um cérebro. O sistema espalhado pelo corpo representa o órgão do animal, como se o ouriço fosse um cérebro ambulante.

Intrigados com o achado, os cientistas criaram um atlas celular para mapear qual tipo de gene funcionava nas células ativas. A investigação apontou que a maioria das células trabalhavam de forma semelhante antes e depois da metamorfose de larva para ouriço. Porém, os neurônios se alteraram, ficando mais diversos e sofisticados após a fase adulta.

“Embora o mesmo conjunto de ferramentas genéticas seja usado para gerar neurônios, os resultados do programa neurogênico diferem substancialmente entre os dois estágios de vida analisados”, afirmam os pesquisadores no artigo.

A maioria dos grupos celulares identificados no ouriço eram compostos por neurônios, que carregavam neurotransmissores comuns no corpo humano, como dopamina, serotonina, GABA, glutamato, histamina e neuropeptídeos. De acordo com os pesquisadores, a presença das substâncias mostra como o sistema nervoso do animal é bem mais sofisticado do que se pensava anteriormente.

“Nossos resultados mostram que animais sem um sistema nervoso central convencional ainda podem desenvolver uma organização semelhante à do cérebro. Isto muda fundamentalmente a forma como pensamos sobre a evolução dos sistemas nervosos complexos”, diz o coautor do artigo, Jack Ullrich-Lüter, biólogo evolucionista do Museu de História Natural de Berlim (ALE), em comunicado.

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