Como a inteligência artificial já influencia nosso pensamento crítico, alertam pesquisadores

A rápida expansão da inteligência artificial está levantando alertas entre pesquisadores sobre como ela influencia nossa forma de pensar e interpretar o mundo, comenta matéria no TechXplore.

Petter Bae Brandtzæg, professor de inovação em mídia na Universidade de Oslo e cientista-chefe na SINTEF Digital, afirma que a IA já molda nosso julgamento e até enfraquece nossa capacidade de pensamento crítico.

Expansão acelerada da IA transforma hábitos e levanta alertas sobre como essas tecnologias moldam o pensamento crítico e o comportamento cotidiano. Imagem: krungchingpixs/Shutterstock

Uma nova força para moldar como pensamos

A popularização da IA generativa ocorreu em uma velocidade inédita. Em poucos anos, ferramentas como o ChatGPT passaram de desconhecidas a parte do cotidiano de milhões de pessoas. Isso não representa apenas um avanço tecnológico, mas também uma mudança cultural profunda.

Podemos evitar as mídias sociais em grande parte, mas não a IA. Ela está integrada às redes sociais, ao Word, aos jornais online, aos programas de e-mail e a outros serviços. Todos nos tornamos parceiros da IA – quer queiramos ou não.

Petter Bae Brandtzæg, professor de inovação em mídia na Universidade de Oslo e cientista-chefe na SINTEF Digital, em comunicado.

Essa presença constante não passa despercebida. Brandtzæg liderou o projeto “Uma Sociedade Impulsionada por IA”, em parceria com o instituto SINTEF, para entender como essas tecnologias influenciam a forma como lemos, escrevemos, tomamos decisões e até nos relacionamos com outras pessoas.

Segundo ele, o relatório nacional sobre liberdade de expressão, apresentado pela Comissão Norueguesa para a Liberdade de Expressão em 2022, ignorou o impacto da IA generativa — um erro que se tornou ainda mais evidente após o lançamento do ChatGPT meses depois.

IA assume funções antes humanas, oferecendo apoio e orientação, enquanto estudantes passam a recorrer mais a chatbots do que a fontes tradicionais de pesquisa. Imagem: Wright Studio/Shutterstock

Quando a IA vira uma parceira emocional

O estudo introduziu o conceito de “individualismo em IA”, uma evolução da ideia de individualismo em rede, que explicava como celulares e redes sociais permitiam construir conexões personalizadas. A diferença agora é que as fronteiras entre “pessoas” e “sistemas” começam a se misturar.

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Brandtzæg explica que a IA passou a ocupar papéis antes exclusivamente humanos, como apoiar decisões, ouvir desabafos e até oferecer conforto. Em pesquisas com estudantes do ensino médio, muitos afirmaram preferir usar chatbots em vez de consultar livros ou pesquisar na internet. Um deles declarou que “o ChatGPT me ajuda com problemas, posso me abrir e falar sobre coisas difíceis, receber conforto e bons conselhos”.

Essa autonomia personalizada pode ser prática, mas também levanta questões sociais, já que reduz a dependência de interações humanas e enfraquece vínculos comunitários.

Uso crescente de IA no cotidiano reduz interações humanas e reforça a preferência por respostas automatizadas, alterando hábitos e vínculos sociais. Imagem: Cast Of Thousands / Shutterstock

Como esse individualismo aparece no dia a dia?

Preferência por respostas geradas por IA em vez de humanos.

Dependência crescente de chatbots para dúvidas pessoais ou emocionais.

Redução do tempo gasto em pesquisa manual.

Interações sociais substituídas por conversas com sistemas.

Sensação de que a IA “entende” melhor do que pessoas reais.

Brandtzæg alerta para o avanço do chamado “poder do modelo”, conceito que descreve como a falta de alternativas leva a sociedade a adotar a visão dominante — hoje moldada pela IA.

Segundo ele, a tecnologia já permeia relatórios públicos, buscas, pesquisas e notícias, criando um potencial monopólio sobre a interpretação da realidade. O pesquisador destaca ainda que usuários seguem orientações de IA mesmo quando acreditam agir de forma crítica, em um diálogo que considera “unilateral”.

Outro ponto sensível é a predominância de modelos criados por big techs dos Estados Unidos. Segundo o professor, cerca de 99,9% das IAs usadas na Noruega têm origem nos EUA, o que pode impactar valores locais. Brandtzæg ressalta que essas ferramentas são controladas por empresas privadas, sem compromissos democráticos.

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