As borboletas-monarca são conhecidas por terem asas de um laranja intenso, pelo tamanho e também pelo hábito de, na América do Norte, fazerem migrações longas do Canadá ao México para escapar do inverno. Tal como na canção de Xuxa, porém, a cada vez que elas vão para além das montanhas, menos delas têm voltado de lá.
Pesquisadores estimam que a população do inseto diminuiu 22% entre os anos 2000 e 2020. Uma revisão de 35 programas de monitoramento que registrou 12 milhões de borboletas ao longo destes anos descobriu que em todas as 554 subespécies norte-americanas há declínios populacionais previstos, segundo estudo divulgado na revista Science em março deste ano.
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Tecnologia para achar as borboletas
Pensando em reduzir esses impactos e entender para onde as borboletas desaparecidas foram, pesquisadores criaram uma solução tecnológica para seguir os indivíduos durante as migrações. Eles fixaram sensores minúsculos em mais de 100 mil borboletas-monarca e leram sinais com celulares.
Os dados revelam que as perdas populacionais ocorrem por motivos ligados a mudanças climáticas, perda de habitat e uso de inseticidas agrícolas. A redução de prados com plantas hospedeiras afetou a reprodução da espécie e tem mudado as rotas migratórias a ponto de ameaçar a conservação das monarcas em geral.
Os chips minúsculos para acompanhar as borboletas transmitem em frequência semelhante à do bluetooth. Qualquer pessoa pode detectar passagem se instalar o aplicativo Project Monarch para fazê-lo. O projeto permitiu descobrir rotas inesperadas e desvios costeiros dos animais.
Em alguns casos, as borboletas cruzaram grandes áreas de água antes de alcançar terra firme, desafiando a crença anterior de que estes animais não voavam longas distâncias sobre a água.
“Já podemos constatar que muitas coisas que pensávamos saber sobre como esses insetos se movem são simplificações excessivas”, afirmou Orley Taylor, fundador do projeto e professor da Universidade do Kansas, ao New York Times.
Pesquisadores querem replantar plantas que favoreçam a alimentação e repouso das borboletas nos pontos de parada do inseto
Rastreamento revela rotas e paradas
O chip de 60 miligramas é movido a energia solar e não afeta o desempenho de voo delas. O equipamento é caro, custa cerca de US$ 200 por unidade, mas permitiu saber a velocidade média dos insetos, encontrar pontos de parada e locais de descanso que agora receberão ações de conservação.
Os pesquisadores notaram que rotas mais longas como as que têm sido adotadas implicam em desafios maiores para sobrevivência. Ventos contrários e predadores inesperados reduziram a taxa de sucesso em parte dos trajetos de migração. Por isso, o projeto agora quer dar “estrutura” para esses pontos de parada, plantando vegetação que sirva de abrigo e alimento para elas.
Traçar um mapa tão detalhado só foi possível com a colaboração do público geral através do aplicativo que roda nos Estados Unidos e permite que a população alimente dados sobre os animais. Para os pesquisadores, a colaboração do público também serve para educação ambiental.
A borboleta mais veloz e o “magnetismo”
Além de acompanhar as borboletas, o rastreador também permite medir o comportamento de voo sob condições reais, entendendo como os insetos ajustam suas rotas baseados na variação solar. Os dados coletados mostraram que insetos compensam erros de orientação e recuperam curso usando até luz ultravioleta para detectar o ângulo do campo magnético da Terra e restaurar a rota.
O monitoramento também serviu para uma brincadeira entre os pesquisadores: descobrir quem era a borboleta mais rápida. A vencedora foi a JMU004. Ela viajou em 47 dias de Harrisonburg, no estado da Virgínia, até o santuário de borboletas-monarca em Michoacán, no México, uma distância de mais de 3,7 mil km, maior que a que separa as cidades de Natal (RN) e Curitiba (PR) no Brasil.
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