Ética x tecnologia: até onde vai o limite para criar robôs humanoides?

A produção de robôs humanoides tem evoluído mundialmente. Recentemente, a fabricante chinesa Ubtech apresentou um “exército” de protótipos inspirados em humanos que serão utilizados para trabalhar na indústria do país. O anúncio mostra como a convivência com eles é uma realidade próxima.

Mesmo com tamanho avanço tecnológico, algumas questões surgem com a introdução dos “humanos tecnológicos”: por que produzir humanoides? Eles irão nos substituir? Será seguro conviver com eles sem medo de panes no sistema? Até que ponto é ético fabricar robôs com traços parecidos aos dos humanos? Para responder às questões, o Metrópoles entrevistou especialistas na área.

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Para iniciar a discussão, é importante entender porque engenheiros passaram a investir no desenvolvimento de humanoides. A principal razão tem a ver com o envelhecimento populacional mundial: com o crescimento do número de idosos no mundo, os robôs surgem como uma solução para otimizar a rotina e melhorar a qualidade de vida de pessoas mais velhas.

“Muitos jovens deixam cidades pequenas em busca de oportunidades em outros lugares e os idosos ficam sozinhos. Para substituí-los, os humanoides podem acompanhar rotinas, monitorar sinais de risco, perceber alterações comportamentais, além de poder acionar serviços de emergência automaticamente”, aponta o professor Frank Ned Santa Cruz, pesquisador na área de inteligência artificial (IA) e mentes artificiais da Universidade do Porto, em Portugal.

Muitos especialistas tem preocupação com as relações entre humanos e robôs no futuro

Também há duas outras aplicações para robôs humanoides na sociedade: realizar atividades críticas e de alto risco e o emprego bélico, no qual os protótipos poderiam fazer o reconhecimento de áreas minadas ou ser a primeira linha em confrontos armados. Para Cruz, esses tipos de uso protegeriam os humanos de trabalhos que colocam suas vidas em risco.

“Com o envelhecimento populacional, muitos postos que exigem força física ou vitalidade não terão mão de obra humana suficiente para preenchê-los. Claro que muitas tarefas podem ser mecanizadas, mas em outras, um humanoide pode simplificar e ocupar melhor esse espaço”, defende o especialista da Universidade do Porto.

Tipos de robôs

Robótica assistiva (AR): consiste no uso de robôs e dispositivos robóticos, como exoesqueletos, para auxiliar pessoas com deficiências ou idosos em suas atividades diárias, mobilidade ou manipulação de objetos, com foco na funcionalidade física e independência.
Robótica socialmente interativa (SIR): robôs projetados para interagir e comunicar-se naturalmente com humanos em ambientes sociais, usando habilidades como reconhecimento de fala, expressões faciais e gestos, com foco principal na interação social e a comunicação.
Robótica socialmente assistiva (SAR): combina os conceitos anteriores, onde os robôs são projetados para fornecer assistência e suporte por meio de uma interação social contínua e natural com o usuário, com o foco em bem-estar e o suporte através da interação social.

Ética na criação de robôs

Tirar o emprego de humanos e substituí-los por robôs é uma discussão ética cada vez mais latente quando o assunto são humanoides. Apesar de especialistas defenderem que eles virão para otimizar rotinas e deixar tarefas mais fáceis, muitos se sentem ameaçados, com medo de ficarem sem ocupação.

“Os robôs já estão substituindo os humanos em tarefas repetitivas, perigosas ou que exigem alta precisão. No futuro, essa substituição poderá avançar em áreas que exigem colaboração e suporte físico complexo. No entanto, a troca total em áreas que dependem da empatia humana, criatividade e tomada de decisão moral complexa é improvável no futuro próximo” afirma o professor de engenharia da computação Marcelo Gaiotto, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

Outro ponto bastante discutido é a convivência: ao ver robôs muito parecidos com a nossa espécie, mas que possuam imperfeições ou movimentos não naturais, a tendência humana é gerar sentimentos de repulsa, medo ou estranheza. Por isso, um dos principais objetivos da indústria robótica é criar protótipos mais “naturais”, visando buscar aceitação da população mundial.

Além disso, o especialista da PUCPR alerta para o perigo das relações entre humanos e robôs no futuro, pois a interação pode gerar prejuízos emocionais. “Dependendo da forma como forem aplicados, podem gerar um ambiente fantasioso e o usuário pode mergulhar neste ambiente, confundindo a realidade com a imagem criada pelo robô na interação”, alerta Gaiotto.

Muitas questões só poderão ser respondidas na prática: como toda nova tecnologia, a chegada dos humanoides traz prós e contras, porém a tendência é que os robôs sejam cada vez mais aprimorados para conviverem em paz com os humanos.

Mas afinal, será seguro conviver com robôs?

Por décadas, um dos maiores desafios da ciência foi fazer as máquinas humanas andarem como nós. Porém, com a evolução dos materiais envolvidos na construção de robôs, o problema foi praticamente superado.

No entanto, um ponto ainda gera bastantes questionamentos: a segurança de viver com humanoides. Apesar de ter avançado muito, a ciência ainda não foi capaz de criar robôs com sentimentos ou que saibam utilizar e interpretar sinais verbais e não verbais de forma natural. Por isso, muitos têm receio de usá-los, temendo panes no sistema e que as máquinas se virem contra o próprio dono.

Segundo o pesquisador da Universidade de Porto, não há motivo para alarde, pois os protótipos atuais tem segurança suficiente para operar tranquilamente. “Existem mecanismos de travas, protocolos e sistemas que impedem ações que coloquem humanos em risco. Esse é um desafio amplamente superado”, finaliza Cruz.

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