Pandemias são inevitáveis? Médicos explicam por que o risco nunca some

As pandemias não são um fenômeno moderno, tampouco raro. A história registra ciclos repetidos em que microrganismos saltam de espécie, encontram um ambiente propício e se espalham antes que os sistemas de saúde consigam reagir. O avanço tecnológico reduziu algumas vulnerabilidades, mas ampliou outras: o mundo está mais conectado, mais urbano e mais sujeito a desequilíbrios climáticos que aceleram a circulação de vírus.

Especialistas ouvidos pelo Metrópoles explicam que, mesmo que seja possível evitar que surtos locais ganhem proporções globais, eliminar totalmente o risco é impossível. Os vírus evoluem rápido, adaptam-se a novos hospedeiros e exploram falhas de vigilância. Por isso, quando a detecção ocorre tarde, a transmissão supera as tentativas de contenção.

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Por que as pandemias acontecem?

Os vírus acumulam mutações o tempo todo e muitas dessas alterações passam despercebidas até que uma combinação específica permita ao microrganismo se ajustar a um novo hospedeiro e encontrar condições para se espalhar.

O processo faz parte da evolução natural desses patógenos e ocorre tanto em vírus quanto em bactérias. A cada nova mutação, surgem chances diferentes de adaptação, o que ajuda a explicar por que alguns surtos aparecem sem aviso prévio.

A infectologista Giovanna Marssola, do Hospital Samaritano Higienópolis, da Rede Américas, explica que o salto entre espécies depende de fatores biológicos e também das condições do ambiente.

“Em muitos episódios, o vírus tenta se adaptar e não consegue avançar, mas quando encontra um hospedeiro compatível e condições favoráveis, a transmissão pode se estabelecer e ganhar velocidade”, afirma Giovanna.

A forma como vivemos também interfere nesse movimento. A proximidade entre humanos e animais, motivada pela expansão urbana e pelo avanço sobre áreas naturais, aumenta as chances de um vírus ultrapassar essa barreira.

Atividades agropecuárias intensivas reforçam esse cenário, já que grandes concentrações de animais criam condições que favorecem o aparecimento e a transformação de microrganismos.

O deslocamento constante de pessoas entre cidades e países completa esse conjunto de fatores. Mesmo surtos pequenos podem ganhar força de forma rápida em um mundo onde viagens de distâncias longas são feitas em poucas horas.

Vírus se adaptam rápido e, com viagens constantes, surtos locais ganham alcance global

Urbanização e clima reforçam a vantagem dos vírus

A dinâmica das mutações e o salto entre espécies ganham força porque encontram condições favoráveis fora do ambiente biológico. O crescimento acelerado das cidades e a concentração de pessoas em áreas reduzidas criam espaços onde a transmissão se instala com muito mais facilidade.

A circulação de pessoas nos grandes centros, principalmente em metrôs, ônibus e terminais, funciona como uma rede que amplia qualquer foco inicial. Esse movimento se junta aos deslocamentos internacionais e encurta distâncias que antes serviam como barreiras naturais para vírus e bactérias. Assim, infecções que estariam restritas a regiões pequenas conseguem atravessar fronteiras antes de serem detectadas.

“O deslocamento aéreo encurta o percurso de qualquer agente infeccioso e transforma eventos locais em problemas globais em poucos dias. Sem identificação precoce, a contenção rapidamente se torna limitada”, afirma o infectologista Marcelo Neubauer, de São Paulo.

Outro fator é que as mudanças climáticas aumentam ainda mais esse potencial. Frentes frias, maior umidade e mudanças bruscas de temperatura favorecem a sobrevivência de vírus no ar, dando mais tempo para que encontrem novos hospedeiros.

Desigualdade ainda molda as respostas globais

As condições que favorecem a disseminação dos vírus ganham outra camada quando pensamos nas diferenças econômicas e estruturais entre os países. Mesmo com avanços científicos, nem todas as regiões conseguem acessar vacinas, medicamentos e testes no mesmo ritmo, o que cria uma defasagem difícil de corrigir.

Essa distância se amplia com as limitações logísticas, falta de insumos e infraestrutura insuficiente para distribuir doses ou realizar diagnósticos de forma contínua. Enquanto algumas populações conseguem conter surtos com rapidez, outras enfrentam atrasos que prolongam a circulação do vírus.

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