A cidade de São Paulo registrou no último verão, diferenças impressionantes de temperatura entre bairros separados por poucas ruas. Segundo um estudo do Cefavela publicado nesta quinta-feira (27/11) pela Fapesp, a superfície de favelas como Paraisópolis e Heliópolis chegou a marcar de 44 °C a 45 ºC, enquanto áreas de alto padrão, como o Morumbi, ficaram próximas de 30 ºC. Trata-se de um contraste térmico que chega a 15 °C entre regiões vizinhas.
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A pesquisa analisou 19 imagens termais do satélite Landsat 8 capturadas entre dezembro de 2024 e fevereiro de 2025. Elas mostram que o calor da cidade não se distribui de maneira uniforme.
Em áreas mais pobres e densamente ocupadas, o acúmulo de construções, a falta de vegetação e as ruas estreitas criam um ambiente que retém calor por horas, deixando a temperatura da superfície muito mais alta que a do ar.
Paraisópolis foi um dos casos mais marcantes: enquanto o Morumbi registrou por volta de 30 °C, a favela atingiu 45 °C na superfície. Heliópolis também ultrapassou 44 °C. Por outro lado, nem todas as favelas apresentaram valores extremos. No Jardim Apurá, que fica ao lado da represa Billings, as medições ficaram em 23,7 °C, evidenciando como a presença de água e vegetação ajuda a amenizar o calor.
Os autores do estudo — Rohit Juneja, Flávia Feitosa e Victor Nascimento — apontam que essas diferenças revelam desigualdades produzidas pela própria forma de ocupação urbana.
Locais sem áreas verdes, com construções muito próximas e pouca circulação de ar tendem a funcionar como “ilhas de calor”, intensificando a sensação térmica e aumentando riscos para a saúde.
O grupo defende que intervenções simples podem fazer grande diferença. Corredores verdes, arborização, telhados verdes, hortas comunitárias e soluções de drenagem que tragam mais permeabilidade ao solo estão entre as medidas capazes de reduzir a temperatura e tornar esses territórios menos hostis em dias quentes.
Além do desconforto, o calor extremo representa risco real para a população: aumenta casos de desidratação, exaustão e agrava doenças pré-existentes.
Por isso, os pesquisadores reforçam que o tema deve ser tratado também como parte do debate sobre habitação. Viver com temperaturas seguras precisa ser considerado um componente básico de moradia digna.
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