A internet virou a primeira parada de muita gente sempre que aparece um sintoma estranho — e isso tem alimentado um comportamento cada vez mais comum. A chamada cybercondria transforma uma simples pesquisa sobre saúde em uma espiral de ansiedade, como explica um artigo publicado no The Conversation.
Com filas intermináveis na saúde pública e a dificuldade em conseguir horário com especialistas, buscar respostas online parece, à primeira vista, uma solução prática. O problema é quando essa consulta vira hábito compulsivo e passa a gerar mais preocupação do que alívio.
Quando a busca por saúde vira ansiedade
A cybercondria surge quando a pessoa procura informações sobre sintomas repetidas vezes e, em vez de se tranquilizar, fica ainda mais inquieta. O ciclo é quase automático: quanto mais pesquisa, mais ansiosa fica — e quanto mais ansiosa, mais volta a pesquisar.
“A obsessão por verificar sintomas pode levar a pessoa a negligenciar trabalho, estudos ou as relações pessoais”, comentam Bárbara Badanta Romero, que atua no Departamento de Enfermaria da Universidade de Sevilha (Espanha) e Maria Catone, enfermeira y doutoranda em Saúde Pública na mesma universidade, autoras do artigo.
O termo começou a ganhar força em 2009, quando os pesquisadores Ryen White e Eric Horvitz, da Microsoft, mostraram que buscas sobre saúde poderiam intensificar preocupações e estimular o autodiagnóstico.
Durante a pandemia de Covid-19, esse efeito se ampliou. O excesso de informações — a chamada infodemia, segundo a OMS — confundiu ainda mais os usuários, aumentou o medo e levou a comportamentos arriscados, como automedicação e recusa de vacinas. Hoje, milhões de pessoas recorrem à internet para tentar decifrar sintomas, muitas vezes sem conseguir separar conteúdo confiável de material enganoso.
Por que caímos nessa espiral perigosa chamada cybercondria?
Diversos fatores ajudam a entender por que tanta gente acaba presa na espiral da cybercondria. Entre os mais comuns estão:
Intolerância à incerteza: quem tem dificuldade para lidar com a dúvida busca respostas compulsivamente, imaginando cenários cada vez piores.
Dificuldade para identificar fontes confiáveis: a internet mistura ciência, opinião, influenciadores e promessas milagrosas, e nem sempre é simples separar tudo isso.
Algoritmos que ampliam a preocupação: buscadores tendem a exibir resultados chamativos — às vezes alarmistas — que só aumentam o senso de urgência e medo.
Isso não significa que a internet seja uma inimiga. “A OMS reconhece os grandes benefícios da saúde digital, como a telemedicina, os chatbots ou as mensagens via celulares, que podem salvar milhões de vidas. Mas é fundamental entender que a rede não tem todas as respostas em matéria de saúde”, explicam.
Ou seja: o problema não é a internet em si, mas a forma como traduzimos suas informações para a nossa própria vida.
Como navegar melhor pelo oceano de informações
Uma maneira prática de lidar com esse excesso de dados é fortalecer o chamado letramento em saúde, especialmente no ambiente digital. Isso envolve aprender a reconhecer o que é confiável, o que realmente tem base científica e o que deve ser descartado sem culpa.
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Perguntas simples ajudam bastante — como verificar a data da última atualização, observar se há interesse comercial no conteúdo ou conferir se o material cita instituições reconhecidas. Além disso, “desconfie de promessas milagrosas” e, principalmente, lembre-se de que “os algoritmos priorizam o que é chamativo, não necessariamente o que é verdadeiro”.
Assim, a internet deixa de ser gatilho para o medo e volta a ser uma aliada na busca por orientação segura.
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