No filme Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge (2012), o fiel mordomo Alfred afirma que qualquer um pode ser um herói, “fazendo algo tão simples e reconfortante como colocar um casaco em torno dos ombros de um menino, para que o garoto saiba que o mundo não é tão frio assim”. A tão repetida citação acabou se tornando verdadeira em um estudo. Segundo os pesquisadores, na verdade, somos um pouco mais bondosos quando estamos perto do homem-morcego.
Pesquisadores da Università Cattolica del Sacro Cuore (UniCatt), na Itália, realizaram experimentos no metrô de Milão para analisar, em diferentes momentos, como passageiros reagem diante de gestantes, sendo bondosos e oferecendo o lugar para sentar ou sendo egoistas e ignorando a gestante. O grupo descobriu, curiosamente, que pessoas cedem assentos com mais frequência quando alguém vestido de Batman aparece no mesmo vagão.
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Embora o estudo seja bastante cômico e pareça perfeito para ganhar um prêmio Ig Nobel de pesquisa mais boba, a presença incomum do personagem dos quadrinhos, na realidade, trouxe reflexões interessantes para os psicólogos que chefiaram o estudo. Os cientistas acreditam que o homem mascarado pode tanto ampliar a atenção das pessoas sobre o que ocorre ao redor como sensibilizá-las através de memórias afetivas.
Batman mudava o cenário
A equipe criou dois cenários. No primeiro, uma pessoa usava prótese abdominal e aguardava a reação dos demais passageiros. No segundo cenário, um integrante do estudo vestia o traje do herói e embarcava por outra porta, sem interações. A figura permanecia afastada da passageira que simulava gravidez, com a intenção de evitar associação direta entre os participantes.
Em 138 viagens, passageiros cederam o assento em 67,21% das ocasiões quando Batman estava no mesmo vagão. O índice caiu para 37,66% quando apenas a falsa grávida estava presente, sem o homem-morcego.
O personagem Batman é conhecido por proteger pessoas desconhecidas
A explicação dos diferentes cenários na decisão dos passageiros
Após cada viagem, os pesquisadores pediram explicações a quem ofereceu o assento. As respostas não mencionaram Batman como influência direta. Os passageiros destacaram preocupação com a gestação e alguns citaram normas sociais, educação ou segurança como motivos.
Entre os que ajudaram na presença do herói, ninguém relacionou a atitude à figura icônica. Quatorze participantes afirmaram que nem perceberam a pessoa com a fantasia. O relato reforçou a ideia de que o estímulo pode atuar de forma não consciente.
O estudo sugere que a visão do Batman no metrô aumenta a percepção do ambiente. A mente, antes dispersa, passa a captar detalhes ignorados durante deslocamentos rotineiros. Assim, a presença da gestante se torna mais evidente.
Quebra do foco
Pesquisadores apontam que o efeito não depende especificamente da fantasia, mas da alteração no ambiente. A reação das pessoas à presença de Batman pode modificar a atenção de quem está por perto, mesmo entre os que dizem não ter notado o personagem.
Há, porém, a hipótese de que o aumento de gentileza envolva valores culturais ativados pela imagem de super-heróis. O psicólogo Francesco Pagnini, da UniCatt, afirma que “a figura de Batman poderia, em outras palavras, desempenhar um papel de preparação, reforçando padrões de conduta presentes no imaginário coletivo”.
Próximo passageiro: Darth Vader
Para testar a hipótese, os pesquisadores planejam novos experimentos com o traje de Darth Vader, vilão da saga Star Wars. A comparação pode revelar se o aumento de atenção basta para estimular gestos de ajuda.
Casos com figuras negativas podem esclarecer se o impacto depende apenas da surpresa ou da carga simbólica do personagem. A resposta pode definir limites do fenômeno observado nos trens de Milão. A equipe pretende avaliar a influência de estímulos distintos.
O estudo também abre caminho para investigar outros ambientes urbanos. A análise pode explicar como figuras inesperadas influenciam decisões rápidas de cuidado em locais com grande fluxo. Os pesquisadores afirmam que a dinâmica pode se repetir em diferentes cidades.
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