As canetas emagrecedoras, como Mounjaro e Wegovy, tornaram-se uma das estratégias mais procuradas para perder peso, por reduzirem o apetite e ajudarem a controlar o consumo alimentar.
Embora sejam eficazes, o uso inadequado — seja por falta de orientação, doses erradas ou suspensão abrupta — aumenta significativamente o risco de efeito rebote. Por isso, especialistas reforçam que a indicação correta, o acompanhamento médico e a mudança de hábitos são essenciais.
Segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), as canecas emagrecedoras são indicadas para pessoas com índice de massa corporal (IMC) igual ou acima de 30 30 kg/m² e pessoas com sobrepeso (IMC igual ou maior que 27 kg/m²) que apresentam comorbidades associadas.
Além disso, a instituição defende que o uso deve ser feito somente com acompanhamento médico obrigatório como parte de um tratamento integrado e somente com produtos aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
“Indico para quem tem obesidade ou excesso de peso com alguma doença associada”, afirma o endocrinologista Renato Zilli, membro da SBEM. Antes de prescrever, ele solicita exames que avaliam glicemia, colesterol, função hepática, renal e tireoidiana, além de ultrassom abdominal em alguns casos, para garantir segurança e personalização da dose.
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A forma como o tratamento começa também interfere diretamente na tolerância e nos resultados. Zilli conta que inicia sempre com a menor dose e aumenta gradualmente. Segundo ele, esse ajuste progressivo respeita o ritmo do organismo e reduz os efeitos adversos, especialmente no sistema gastrointestinal.
“Doses altas não aceleram o emagrecimento; elas só aumentam náuseas e riscos desnecessários”, reforça. Entre os efeitos que exigem atenção imediata estão dor abdominal intensa, vômitos persistentes e sinais de desidratação — situações que pedem interrupção e reavaliação.
Efeito Rebote
O reganho de peso após a suspensão da medicação é uma das queixas mais comuns. A endocrinologista Andressa Di Filippo, da Santa Casa de São José dos Campos, explica que isso acontece quando a caneta é usada como única estratégia de emagrecimento.
“A caneta nunca pode ser a única ferramenta. Se a base do tratamento for só a medicação, é muito possível o reganho de peso ao interrompê-lo”, afirma.
Além disso, o metabolismo passa por mudanças importantes durante a perda de peso. Quando o paciente elimina gordura corporal, o corpo reduz o gasto energético e aumenta sinais de fome como forma de proteção.
“Toda vez que emagrecemos há uma redução do metabolismo. Se o desmame não for feito de forma correta, o apetite volta rápido e o reganho é favorecido”, explica. Essa fase é especialmente delicada nos primeiros 12 meses, quando a adaptação metabólica é maior.
O endocrinologista Renato Zilli reforça que, mesmo com a ajuda da medicação, a construção de novos hábitos continua sendo decisiva. Para o especialista, a caneta é um apoio para reduzir a fome, mas não resolve comportamentos alimentares enraizados.
Ele alerta que muitos pacientes não alcançam a meta de proteína diária, o que favorece perda de massa magra — um fator que dificulta a manutenção de peso a longo prazo.
Canetas emagrecedoras só funcionam de forma segura quando associadas a mudanças de hábito e acompanhamento médico
Como deve ser o desmame da medicação?
Um dos pontos mais importantes para evitar o efeito rebote é a forma como o tratamento é interrompido. Andressa explica que não existe um único protocolo, mas sim um plano personalizado. O desmame deve ser progressivo, calculado e acompanhado de perto.
Para alguns pacientes, especialmente aqueles com obesidade mais resistente, o uso contínuo pode ser indicado. “Obesidade é uma doença crônica”, pontua a médica, reforçando que o objetivo é manter a saúde metabólica estável.
Após suspender o medicamento, o acompanhamento deve ser mais frequente, especialmente no primeiro ano. A endocrinologista recomenda avaliações trimestrais, incluindo medidas corporais ou bioimpedância — ferramenta que indica a proporção entre massa magra e gordura. Marcadores metabólicos, como PCR ultrassensível e resistência à insulina, também ajudam a monitorar a adaptação do organismo.
Mesmo com todos os cuidados, o reganho pode acontecer e não deve ser encarado como fracasso. “Se o paciente encontra dificuldades na manutenção, não há problema em reiniciar algum tipo de tratamento, pois as novas medicações são seguras a longo prazo”, afirma Andressa.
Suspender a medicação sem desmame adequado aumenta o risco de efeito rebote
Resultado a longo prazo
O período de uso da caneta é considerado uma “janela de oportunidade”, porque a redução da fome facilita mudanças comportamentais duradouras. Andressa destaca três pilares que precisam ser construídos ainda durante o tratamento:
Prática de atividade física regular;
Alimentação equilibrada;
Apoio psicológico quando necessário.
Como a obesidade é multifatorial, a médica lembra que sentimentos, estresse e padrões alimentares emocionais também influenciam o resultado. O medicamento é apenas parte da estratégia.
Sono inadequado, alimentação desorganizada e falta de movimento continuam sendo gatilhos potentes para o ganho de peso, mesmo com a ajuda da medicação. O sucesso está na combinação entre ciência e rotina: indicação correta e individualizado, ajustes semanais e consistência.
Usar canetas emagrecedoras de forma segura significa integrar acompanhamento médico, construção de novos hábitos e um desmame planejado. Assim, o medicamento deixa de ser um recurso temporário e passa a ser uma ferramenta aliada para controlar a obesidade e proteger a saúde a longo prazo.
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