Vírus da gripe aviária possui gene que neutraliza a febre e preocupa cientistas

Pesquisadores descobriram que o vírus da gripe aviária carrega um gene capaz de resistir ao calor do nosso corpo, tornando a febre — uma das nossas principais defesas — praticamente inútil contra a infecção.

O achado, segundo o New Atlas, revela um dos motivos pelos quais algumas cepas provocam quadros tão graves quando chegam a humanos.

Cientistas descobrem que a gripe aviária possui gene capaz de resistir à febre, explicando sua alta gravidade. Imagem: Vitória Gomez via DALL-E/Olhar Digital

Por que esse vírus “não sente” a febre

O estudo, conduzido por equipes da Universidade de Cambridge e da Universidade de Glasgow, mergulhou no comportamento do vírus para entender por que ele representa um risco maior do que a gripe sazonal. O ponto-chave é o gene PB1, uma peça genética que permite ao patógeno continuar se replicando mesmo quando a temperatura sobe.

Enquanto o vírus da gripe humana perde força perto dos 40 °C, o vírus aviário opera tranquilamente nessa faixa porque aves — seus hospedeiros naturais — mantêm temperaturas corporais entre 40 °C e 42 °C, ambiente ideal para sua adaptação.

“Os autores mostram que a replicação do vírus da gripe adaptado a humanos é atenuada quando as temperaturas sobem. Mas os vírus da gripe aviária […] não são controlados pela resposta febril quando infectam mamíferos”, explica Wendy Barclay, do Conselho de Pesquisa Médica (MRC) do Reino Unido.

O gene PB1 ajuda a gripe aviária a se replicar mesmo acima de 40 °C, tornando o vírus mais perigoso que a gripe sazonal. Imagem: Prostock-studio/Shutterstock

Quando a genética vira uma ameaça

O vírus da gripe A possui oito segmentos genéticos capazes de embaralhar informações quando duas cepas infectam a mesma célula. Esse mix pode fazer com que o gene PB1 de origem aviária migre para o vírus humano, como já ocorreu nas pandemias de 1957 e 1968.

Já vimos acontecer antes […] isso pode ajudar a explicar por que essas pandemias causaram doenças graves em humanos.

Matt Turnbull, pesquisador do Centro de Pesquisa de Vírus do Conselho de Pesquisa Médica da Universidade de Glasgow, em nota.

Os cientistas alertam que o gene resistente ao calor pode ter permitido que surtos antigos ultrapassassem nossas defesas naturais, e o mesmo pode ocorrer novamente caso uma nova cepa aviária consiga se espalhar de pessoa para pessoa.

O que esse gene ajuda a explicar?

Porque algumas cepas aviárias causam quadros muito mais graves em humanos.

Como pandemias antigas ganharam força após misturas genéticas.

Porque a febre simplesmente não freia esses vírus.

A necessidade urgente de vigilância sobre variantes aviárias.

O risco persistente de novas pandemias de origem animal.

“Compreender o que faz com que o vírus da gripe aviária cause doenças graves em humanos é crucial para a vigilância epidemiológica e os esforços de preparação para pandemias”. Imagem: Freepik Gerada com IA

Casos recentes reforçam o alerta

Há poucas semanas, um morador de Washington morreu ao contrair uma nova cepa de gripe aviária nunca registrada antes em humanos.

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Embora esses episódios sejam raros, costumam resultar em quadros severos, o que preocupa especialistas como o professor Sam Wilson, da Universidade de Cambridge, lembrando que infecções históricas por H5N1 chegaram a registrar mais de 40% de mortalidade.

“Compreender o que faz com que o vírus da gripe aviária cause doenças graves em humanos é crucial para a vigilância epidemiológica e os esforços de preparação para pandemias”, afirma.

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