O curativo biológico feito com pele de tilápia, desenvolvido pela Universidade Federal do Ceará (UFC), dará um novo passo rumo ao uso amplo na rede hospitalar brasileira. Após dez anos de pesquisas e aplicações bem-sucedidas em pacientes queimados, a tecnologia terá produção industrial pela primeira vez, graças ao licenciamento da patente para a farmacêutica Biotec. As informações são do UOL.
A decisão marca um momento raro no cenário acadêmico brasileiro: a transferência de uma patente pública para a iniciativa privada, permitindo que uma inovação criada dentro da universidade se torne produto em escala nacional.
Produção industrial e expansão do uso da tecnologia
Criado em 2015 pelo Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos da UFC, o curativo de pele de tilápia vinha sendo utilizado apenas em projetos pontuais no Brasil e no exterior. A falta de capacidade de produção em larga escala impedia sua adoção ampla em hospitais. Com o licenciamento, isso deve mudar.
A farmacêutica Biotec — vencedora da oferta pública e sediada em São José dos Campos (SP) — construirá uma fábrica exclusiva para o produto, com investimento previsto de R$ 48 milhões. Desse total, R$ 44 milhões serão destinados à planta industrial e R$ 4 milhões à operacionalização.
O curativo de pele de tilápia vinha sendo utilizado apenas em projetos pontuais no Brasil e no exterior (Imagem: Viktor Braga/ UFC Informa)
Segundo a empresa, a tecnologia representa um avanço importante no tratamento de queimaduras, reduzindo significativamente a dor — muitas vezes eliminada em até 48 horas — e diminuindo a necessidade de morfina. O material adere ao corpo do paciente, adquirindo características semelhantes às da pele humana.
Além de queimaduras, o curativo também vem sendo utilizado para reconstrução vaginal em mulheres submetidas à radioterapia.
Economia, demanda e impacto no sistema de saúde
Com a expansão industrial, a Biotec planeja atender ao alto volume de pacientes brasileiros. Apenas no país, estima-se que um milhão de pessoas sofram queimaduras anualmente. Cada paciente usa, em média, 22 unidades de pele de tilápia — o que gera uma demanda superior a 22 milhões de unidades por ano.
O produto será ofertado a hospitais, incluindo o SUS, e também terá versão veterinária. Além disso, a tecnologia poderá ser exportada para países como China e Estados Unidos, onde já é conhecida.
Cada paciente com queimaduras usa, em média, 22 unidades de pele de tilápia (Imagem: moxumbic / iStock)
A fábrica deve produzir um milhão de unidades no primeiro ano e alcançar até 30 milhões em três anos, com operação prevista para iniciar até o fim de 2027, após licenciamento e adequações técnicas.
A seguir, os principais pontos da nova fase da tecnologia:
Produção industrial inédita do curativo biológico
Investimento total de R$ 48 milhões
Capacidade inicial de 1 milhão de unidades
Potencial de até 30 milhões em três anos
Uso hospitalar, com foco no SUS e possibilidade de exportação
A UFC e os inventores receberão R$ 850 mil pelo direito de exploração, além de 3,7% de royalties sobre o lucro líquido da fábrica e possibilidade de reinvestimento adicional de 0,5% em pesquisa.
Localização da fábrica e próximos passos
Embora a pesquisa tenha surgido no Ceará, a Biotec afirma que a instalação da fábrica pode ocorrer em São Paulo, que concentra os maiores produtores de tilápia do país e estrutura logística mais favorável à esterilização do material.
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O processo produtivo começará de forma manual, mas será automatizado ao longo do tempo para atender à demanda crescente. Para os pesquisadores, a industrialização representa a consolidação de um conhecimento desenvolvido dentro da universidade e que, agora, pode gerar impacto social, econômico e científico de forma ampla.
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