Um grupo de psiquiatras da Universidade de Leipzig, na Alemanha, descobriu que um único gene pode estar associado a doenças mentais. Anteriormente, a medicina acreditava que todos os transtornos psíquicos eram produto de uma combinação de fatores genéticos e ambientais, mas segundo os pesquisadores alemães, a alteração de apenas uma parte do DNA pode estar por trás de casos de esquizofrenia, transtornos de ansiedade ou depressão.
Os psiquiatras analisaram mutações no gene GRIN2A e encontraram uma ligação direta entre alterações nele e sintomas psiquiátricos em pacientes humanos. A equipe avaliou 121 indivíduos e observou diagnósticos que incluíam transtornos de humor, ansiedade e quadros psicóticos. Os resultados da pesquisa foram publicados em outubro na revista Nature Molecular Psychiatry.
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O resultado não significa que todas as pessoas com doenças mentais tenham essa alteração do DNA, mas que ela pode ser uma forma de manifestação, a única com uma origem tão facilmente identificável, e que pode estar por trás especialmente de manifestações precoces dessas doenças.
Durante o estudo, crianças e adolescentes apresentaram alterações comportamentais antes da fase em que esses transtornos costumam surgir na população geral. Casos isolados exibiram apenas sinais psiquiátricos, sem condições neurológicas de comprometimento cognitivo associadas.
“Conseguimos demonstrar que certas variantes desse gene estão associadas não apenas à esquizofrenia, mas também a outras doenças mentais. O que chama a atenção é que, no contexto de uma alteração no GRIN2A , esses transtornos já se manifestam na infância ou adolescência em contraste com a manifestação mais típica na idade adulta”, afirma o professor Johannes Lemke, geneticista líder do estudo.
Como foi feito o estudo?
Para o estudo, a equipe criou um registro internacional com o maior grupo global de pacientes com alterações no GRIN2A. O banco reuniu diferentes níveis de variantes classificadas como provavelmente causadoras de distúrbios, inclusive mutações nulas que sugerem perda de função do gene.
Os pesquisadores encontraram 25 indivíduos com diagnósticos psiquiátricos entre os 121 analisados. Os quadros incluíram transtornos alimentares, ansiosos e de personalidade. A distribuição reforçou a hipótese de que a alteração genética tem impacto direto na saúde mental.
Novos tratamentos com base no gene
O gene GRIN2A participa do controle da atividade elétrica neuronal. Mutações nele reduzem a ação do receptor NMDA e alteram a transmissão de sinais no cérebro. Como a maioria dos transtornos mentais leva a essas alterações nas sinapses, os médicos decidiram avaliar se tratamentos experimentais poderiam beneficiar pessoas com a mutação.
No estudo, quatro indivíduos receberam doses de L-serina, um suplemento alimentar que é conhecido por ativar receptores de glutamato e é usado para controlar convulsões. Todos os pacientes mostraram melhora em sintomas psiquiátricos ao usá-lo. Um deles interrompeu totalmente as alucinações do distúrbio.
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Os demais apresentaram remissão de sintomas paranoicos e redução de crises. A amostra pequena limita conclusões, mas sugere que parte dos transtornos pode responder a intervenções precisas baseadas em perfis genéticos específicos.
Os pesquisadores indicam a necessidade de ampliar as análises sobre o impacto funcional do gene. A equipe acredita, porém, que a alteração pode definir um subgrupo de transtornos com origem molecular clara e curso distinto daqueles com raízes multifatoriais.
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