O aparecimento repentino de diabetes em pessoas com 50 anos ou mais pode ser mais do que um simples quadro recente da doença. Uma pesquisa publicada em julho na revista científica Gastroenterology analisou 18.838 adultos acompanhados em tempo real por prontuários médicos nos Estados Unidos.
Todos haviam sido diagnosticados com diabetes de início recente (GNOD, na sigla em inglês) definida por alterações na glicemia. Durante um período mediano de 2,3 anos de acompanhamento, os cientistas observaram que 82 participantes desenvolveram câncer de pâncreas.
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Embora o número absoluto seja pequeno, o estudo mostrou um aumento expressivo no risco quando comparado à população sem diabetes nova. A incidência ajustada do tumor foi de cerca de 0,62% em três anos.
Em termos relativos, o risco variou entre os grupos étnicos avaliados: 6,4 vezes maior entre brancos não hispânicos; 4,2 vezes entre hispânicos; 2,4 vezes entre afro-americanos; e 3 vezes entre asiáticos.
Câncer de pâncreas
Esse tipo de câncer ocorre quando células anormais crescem e se multiplicam no pâncreas, formando um tumor.
Entre os principais sintomas da condição, estão: dor abdominal ou nas costas, perda de apetite e perda de peso involuntária, icterícia (pele e olhos amarelados), urina escura e fezes claras, coceira na pele, indigestão e fadiga.
Dependendo do estágio da doença, o câncer de pâncreas pode ser tratado através de cirurgia, quimioterapia ou radioterapia.
Não há medidas específicas para prevenir o câncer de pâncreas, porém, evitar o tabagismo, consumo excessivo de álcool e obesidade são boas alternativas para diminuir o risco da doença.
Outro dado importante é o tempo de manifestação do câncer após o surgimento da diabetes. Segundo o estudo, 61,8% dos diagnósticos ocorreram nos primeiros 12 meses após a detecção da alteração glicêmica — sendo 30,5% nos primeiros quatro meses e 31,3% entre quatro e doze meses. O restante foi identificado entre um e três anos.
Esses resultados reforçam uma suspeita crescente entre especialistas: quando a diabetes aparece de forma súbita em adultos mais velhos — especialmente sem fatores clássicos como obesidade, histórico familiar ou resistência à insulina — ela pode ser um efeito precoce de um tumor no pâncreas.
O órgão é responsável por produzir a insulina e regular o açúcar no sangue. Quando há um tumor interferindo nessa função, o organismo pode desenvolver um descontrole glicêmico inesperado.
No entanto, o estudo não aponta que toda pessoa com diabetes recente terá câncer. Na verdade, o risco absoluto segue baixo, e a maioria dos casos continua sendo de diabetes tipo 2 comum.
O achado principal está na associação temporal e estatística: quando há diabetes surgindo “do nada” em pessoas acima dos 50 anos, convém olhar mais de perto.
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O diabetes é uma doença que tem como principal característica o aumento dos níveis de açúcar no sangue. Grave e, durante boa parte do tempo, silenciosa, pode afetar vários órgãos do corpo, tais como: olhos, rins, nervos e coração, quando não tratada
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O diabetes surge devido ao aumento da glicose no sangue, que é chamado de hiperglicemia. Isso ocorre como consequência de defeitos na secreção ou na ação do hormônio insulina, que é produzido no pâncreas
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A função principal da insulina é promover a entrada de glicose nas células, de forma que elas aproveitem o açúcar para as atividades celulares. A falta da insulina ou um defeito na sua ação ocasiona o acúmulo de glicose no sangue, que em circulação no organismo vai danificando os outros órgãos do corpo
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Uma das principais causas da doença é a má alimentação. Dietas ruins baseadas em alimentos industrializados e açucarados, por exemplo, podem desencadear diabetes. Além disso, a falta de exercícios físicos também contribui para o mal
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O diabetes pode ser dividido em três principais tipos. O tipo 1, em que o pâncreas para de produzir insulina, é a tipagem menos comum e surge desde o nascimento. Os portadores do tipo 1 necessitam de injeções diárias de insulina para manter a glicose no sangue em valores normais
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Já o diabetes tipo 2 é considerada a mais comum da doença. Ocorre quando o paciente desenvolve resistência à insulina ou produz quantidade insuficiente do hormônio. O tratamento inclui atividades físicas regulares e controle da dieta
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O diabetes gestacional acomete grávidas que, em geral, apresentam histórico familiar da doença. A resistência à insulina ocorre especialmente a partir do segundo trimestre e pode causar complicações para o bebê, como má-formação, prematuridade, problemas respiratórios, entre outros
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Além dessas, existem ainda outras formas de desenvolver a doença, apesar de raras. Algumas delas são: devido a doenças no pâncreas, defeito genético, por doenças endócrinas ou por uso de medicamento
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É comum também a utilização do termo pré-diabetes, que indica o aumento considerável de açúcar no sangue, mas não o suficiente para diagnosticar a doença
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Os sintomas do diabetes podem variar dependendo do tipo. No entanto, de forma geral, são: sede intensa, urina em excesso e coceira no corpo. Histórico familiar e obesidade são fatores de risco
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Alguns outros sinais também podem indicar a presença da doença, como saliências ósseas nos pés e insensibilidade na região, visão embaçada, presença frequente de micoses e infecções
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O diagnóstico é feito após exames de rotina, como o teste de glicemia em jejum, que mede a quantidade de glicose no sangue. Os valores de referência são: inferior a 99 mg/dL (normal), entre 100 a 125 mg/dL (pré-diabetes), acima de 126 mg/dL (diabetes)
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Qualquer que seja o tipo da doença, o principal tratamento é controlar os níveis de glicose. Manter uma alimentação saudável e a prática regular de exercícios ajudam a manter o peso saudável e os índices glicêmicos e de colesterol sob controle
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Quando o diabetes não é tratado devidamente, os níveis de açúcar no sangue podem ficar elevados por muito tempo e causar sérios problemas ao paciente. Algumas das complicações geradas são surdez, neuropatia, doenças cardiovasculares, retinoplastia e até mesmo depressão
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O diagnóstico inesperado de diabetes nessa faixa etária, sobretudo quando acompanhado de perda de peso sem explicação ou piora rápida do controle glicêmico, pode justificar exames complementares, como imagem do abdômen e avaliação com especialistas. No câncer de pâncreas — um tumor notoriamente silencioso — qualquer pista precoce aumenta as chances de um diagnóstico em estágio tratável.
Os próprios autores do estudo destacam que os resultados devem ser interpretados com cautela. O estudo se baseia em dados de prontuários de um sistema de saúde específico, e fatores como genética, estilo de vida e acesso à saúde podem influenciar os desfechos.
Em síntese, a pesquisa indica que a diabetes de início recente após os 50 anos pode funcionar como um marcador precoce de câncer de pâncreas em uma parcela pequena, porém significativa, da população.
Reconhecer esse padrão permite que médicos investiguem sinais discretos que, de outra forma, passariam despercebidos. No contexto de uma doença agressiva e de detecção difícil, trata-se de uma pista valiosa.
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