Durante os seis meses em que morei na Toscana, gostava de testar meu italiano prestando atenção nas conversas das pessoas que compartilhavam o transporte público comigo. Todas as manhãs, o assunto era o mesmo: o jantar da noite anterior. Com o celular colado na orelha, os italianos passavam muitas vezes o caminho inteiro descrevendo para a pessoa do outro da linha não só o que tinham comido mas também como tinham preparado a refeição, com uma riqueza de detalhes que me fascinava. Era ótimo para aprender vocabulário – e também foi um exemplo prático da importância que a cozinha tem na vida do italiano.
Massas, risotos, pizzas e gelatos podem até ser os representantes mais emblemáticos da gastronomia italiana, mas a verdade é que há uma enorme variedade de cozinhas em cada região da Bota. Só para citar um exemplo: no norte, predomina a manteiga, os risotos, as carnes e os queijos mais robustos; enquanto no sul, entra em cena o azeite, as massas grano duro, os frutos do mar e as burratas.
Em comum, está a tradição e a valorização dos ingredientes, o que envolve tanto a preferência por insumos frescos e sazonais quanto a simplicidade dos preparos para realçar os sabores naturais. Práticas essas que também podem ser vistas como altamente sustentáveis e saudáveis. Comprar do produtor mais próximo minimiza o impacto ambiental dos meios de transporte e fortalece a economia local. Valorizar a sazonalidade respeita os ciclos da natureza e ainda diminuiu o uso de conservantes e aditivos.
Todos esses fatores levaram a Unesco a declarar o conjunto da obra, ou seja, a culinária italiana como um todo, patrimônio cultural imaterial. A decisão, anunciada na quarta-feira (10), é considerada histórica. A entidade já tinha reconhecido elementos individualmente, como a pizza napolitana e o café espresso. E também já tinha reconhecido práticas específicas da gastronomia francesa, como a estrutura de refeição em quatro pratos. Mas essa é a primeira vez que toda a gastronomia de um país entra para a lista de patrimônio cultural imaterial, o que foi recebido com grande alegria na Itália.
“Esse título honra quem somos e nossa identidade”, resumiu a primeira-ministra Giorgia Meloni. Em comunicado, a chefe de governo acrescentou ainda que a culinária italiana representa muito mais do que um conjunto de receitas: “é cultura, tradição, trabalho, riqueza. Nasce de cadeias agrícolas que unem qualidade e sustentabilidade. Preserva um patrimônio milenar que é transmitido de geração em geração”, afirmou.
Com o reconhecimento da Unesco, vem também o compromisso de proteger e valorizar a culinária italiana. A Itália tem agora o dever de apoiar pesquisas e projetos que protejam e transmitam para as próximas gerações essa prática cultural.
Curador da candidatura e professor da Universidade de Roma Unitelma Sapienza, Pier Luigi Petrillo justificou que “reconhecer a cozinha italiana significa demonstrar que a cultura e a comida são duas faces da mesma moeda”. E ainda completou: “em todos os povos, em todas as nações, o ato de comer reflete a cultura daquele lugar. Há povos em que a comida tem um papel secundário, mas há povos em que ele tem uma dimensão sagrada, como na Itália“. Falou tudo, Pier.
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