Materiais biodegradáveis ganharam espaço nas prateleiras e nas discussões sobre sustentabilidade. Apesar disso, nem sempre fica claro a forma de decomposição de cada um deles. Alguns, por exemplo, só se decompõem em locais específicos, como usinas de compostagem industrial.
A ideia de que “tudo se degrada um dia” costuma gerar confusão já que, de fato, qualquer material se quebra com o passar dos anos, pela exposição ao sol, pelo calor ou pela oxigenação. Entretanto, isso não significa que ele seja biodegradável.
A biodegradação envolve critérios químicos, ambientais e de tempo. Para receber essa classificação, o material precisa ser transformado por organismos vivos e reintegrado à natureza sem deixar substâncias tóxicas no ambiente.
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O que define um material biodegradável?
Um material é considerado biodegradável quando microrganismos como bactérias e fungos, conseguem “comer” o material e transformá-lo em substâncias simples, como gás carbônico, água ou matéria orgânica. Ou seja, ele precisa virar algo que a natureza consegue reintegrar sem prejuízo.
Algumas normas internacionais e brasileiras determinam, por exemplo, que pelo menos 90% do carbono presente no material deve ser convertido em CO2 em até 180 dias. Além disso, o processo não pode deixar resíduos tóxicos no solo ou na água.
“Um material só cumpre de fato o que promete quando atende aos critérios padronizados de biodegradação, que incluem prazos definidos e a ausência de toxicidade ao final do processo”, explica o engenheiro ambiental Pedro Montenegro, do Rio de Janeiro.
Isso significa que o material precisa servir de alimento ou participar das reações químicas desses microrganismos. Se a degradação ocorre motivada pelo sol, calor, ar ou tempo, não se trata de biodegradação, mas sim de uma decomposição física ou química, um processo que não garante a reintegração segura ao ambiente.
Materiais biodegradáveis são produtos que se desfazem com a ajuda de microrganismos e retornam ao ambiente sem causar dano
Por que alguns materiais não se decompõem tão facilmente?
Alguns materiais têm estruturas químicas muito estáveis, o que torna difícil de serem quebradas pelos microrganismos. É o caso dos polímeros sintéticos, como polietileno e polipropileno, usados em itens do dia a dia.
O professor de química Walter Ruggeri Waldman, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em São Paulo, explica que os polímeros sintéticos foram criados para durar e dar firmeza aos produtos. Por isso não se desfazem com facilidade.
“Os polímeros sintéticos fazem parte de equipamentos, como partes de carros, eletrodomésticos e materiais da construção civil. O desafio atual é desenvolver materiais que sejam resistentes durante o uso, mas biodegradáveis apenas ao final da vida útil”, destaca Waldman.
Mesmo quando sofrem desgaste pelo sol ou pelo ar, só uma parte desses materiais fica pronta para a biodegradação. Além disso, a presença de aditivos usados para dar cor, flexibilidade ou resistência, também atrapalha o trabalho dos microrganismos e pode liberar substâncias tóxicas no ambiente.
Condições ideais para a biodegradação
A decomposição biológica depende de fatores ambientais específicos. Temperatura, umidade, tipo de solo, presença de oxigênio e diversidade de microrganismos determinam se o processo vai avançar ou não. Em regiões frias, o ritmo pode ser mais lento. Já em locais tropicais, o calor acelera a ação biológica.
Por isso, alguns materiais classificados como biodegradáveis se decompõem só em instalações industriais, que mantêm condições controladas de temperatura, oxigenação e mistura periódica do material. Em composteiras domésticas, essas exigências raramente são atendidas.
Por que o rótulo de biodegradável nem sempre garante decomposição rápida?
Mesmo quando um produto recebe o rótulo de “biodegradável”, isso não significa que ele vai se decompor em qualquer ambiente. A maior parte dos resíduos urbanos é enviada para aterros sanitários, onde falta oxigênio e há pouca diversidade de microrganismos capazes de conduzir a biodegradação.
Nessas condições, o processo pode demorar muito mais do que o previsto pelas normas ou simplesmente não acontecer. Além disso, o rótulo indica que o material pode biodegradar, mas só se exposto às condições adequadas, que geralmente são as de compostagem industrial.






