Falta pouco! Nesta sexta-feira (19), o cometa 3I/ATLAS vai chegar ao ponto de máxima aproximação com a Terra. A passagem pelo planeta, no entanto, será a uma distância segura (cerca de 270 milhões de km), não oferecendo risco de impacto ou qualquer outro tipo de ameaça.
Desde que foi visto pela primeira vez, o objeto está na mira de diversos telescópios espaciais e terrestres. As observações são analisadas por cientistas do mundo todo, empenhados em desvendar os segredos do corpo celeste, que é apenas o terceiro visitante interestelar já detectado no Sistema Solar.
O cometa interestelar 3I/ATLAS capturado pelo Projeto Telescópio Virtual no início a madrugada de 11 de novembro de 2025, mostrando um núcleo brilhante e uma cauda iônica bem definida. Crédito: Gianluca Masi/Projeto Telescópio Virtual
Muitas descobertas interessantes já foram feitas a respeito do “forasteiro” ao longo dos últimos meses desde a primeira observação, feita por astrônomos do Sistema de Último Alerta para Impacto de Asteroides com a Terra (ATLAS, na sigla em inglês) – projeto financiado pela NASA que monitora objetos que possam representar risco de colisão com o nosso planeta. Entre elas:
Ele pode ter mais de sete bilhões de anos, sendo assim mais velho que o Sistema Solar;
A liberação de níquel atômico, o que desafia os padrões de cometas e gera especulações sobre sua origem;
Nuvem de gás que envolve o cometa tem 350 mil km de extensão e contém dióxido de carbono;
Desenvolvimento de uma anticauda;
“Modo turbo” – aceleração não explicada pela gravidade;
Emissão de sinal de rádio;
Pode estar coberto por “vulcões de gelo” em atividade;
A Agência Espacial Europeia (ESA) detectou sinais de raios X – a primeira emissão desse tipo detectada em um objeto interestelar;
Em março que vem, quando passar por Júpiter, o cometa pode ter sua rota levemente alterada pela força gravitacional do planeta.
Uma imagem profunda do cometa interestelar 3I/ATLAS capturada pelo Espectrógrafo Multi-Objeto Gemini (GMOS) no Gemini Norte , em Maunakea, Havaí. Crédito: Processamento de imagens: J. Miller e M. Rodriguez (Observatório Internacional Gemini/NSF NOIRLab), TA Rector (Universidade do Alasca em Anchorage/NSF NOIRLab), M. Zamani (NSF NOIRLab)
O que os especialistas gostariam de ver no 3I/ATLAS?
Apenas como uma questão hipotética, a plataforma Time And Date perguntou a especialistas o que eles mais gostariam de ver nos dados do 3I/ATLAS. “Eu gostaria de ver a moeda da vida, que é o fósforo”, respondeu Thomas H. Puzia, doutor em astrofísica e professor no Instituto de Astrofísica da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Chile, em Santiago.
Ele, que tem observado o cometa com um grupo de alunos de pós-graduação, explica que o fósforo é um elemento fundamental no DNA, no gerenciamento de energia nas células e em outros componentes essenciais para a vida como a conhecemos. “Imagine confirmar os ingredientes da vida em um visitante interestelar de bilhões de anos. Isso aumentaria drasticamente as chances de que a vida complexa tenha surgido muito antes na história da Via Láctea e, por extensão, do Universo.”
O Olhar Digital perguntou o mesmo para alguns dos mais conceituados nomes da astronomia profissional e amadora no Brasil.
Maria Elisabeth Zucolotto, mestre em geologia e doutora em engenharia de materiais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), concorda em partes com a resposta de Puzia. “A presença de fósforo sozinho não indicaria nada, mas sim a combinação específica de elementos conhecida como CHONPS (carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio, fósforo e enxofre) em estados químicos biologicamente relevantes organofosfatos, ou mesmo aminoácidos simples, os ‘blocos de construção’ da vida que vemos em meteoritos carbonáceos e cometas do nosso Sistema Solar”.
Elementos CHONPS (carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio, fósforo e enxofre) em estados químicos relevantes, como organofosfatos e aminoácidos simples, formam os blocos da vida em meteoritos e cometas. Crédito: Pablo P. L. Oliveira – Shutterstock
Segundo ela, que integra o grupo de divulgação científica e estudo de meteoros “As Meteoríticas”, isso seria uma constatação de que a química que origina a vida, como a conhecemos, não é uma exceção local, mas um processo comum na galáxia ou no Universo. “O fósforo puro é um elemento comum que se forma no interior estelar e que está presente em todos os meteoritos ou em forma de fosfetos ou fosfatos”, explica.
Amanda Tosi, mestre e doutora em geologia pela UFRJ e também “meteorítica”, destaca a taxa de níquel em excesso – maior até do que a de ferro – que o 3I/ATLAS apresenta. “O cometa tem uma quantidade de níquel muito diferente, bem acima do que a gente normalmente espera. Essa relação também aparece na quantidade de metano, cianeto e outros compostos, que é diferente do que costumamos encontrar nos cometas do nosso Sistema Solar”.
Para ela, “o que mais chama a atenção e torna tão interessante o estudo de um cometa vindo de fora do Sistema Solar é a possibilidade de observar e entender como outros sistemas planetários se formam e como produzem corpos como cometas, asteroides e planetas”.
Imagem obtida pelo telescópio espacial SPHEREx, da NASA, mostra uma abundância de dióxido de carbono na nuvem de poeira e gás conhecida como coma do cometa 3I/ATLAS. Crédito: NASA/SPHEREx
Entusiasta da astronomia desde a infância, o astrônomo amador Marcelo Domingues, que é membro do Clube de Astronomia de Brasília e da Rede Brasileira de Monitoramento de Meteoros (Bramon), também gostaria de ver uma química reveladora no 3I/ATLAS. “Para mim, a descoberta mais empolgante seria encontrar no 3I/ATLAS uma química orgânica complexa ou assinaturas isotópicas muito diferentes das do Sistema Solar. Isso mostraria que os ingredientes da vida e da água se formam naturalmente em outros sistemas planetários, transformando o cometa em uma cápsula do tempo de outra região da galáxia”.
Para o físico, engenheiro e também astrônomo amador Cristóvão Jacques, fundador do Observatório SONEAR, em Oliveira (MG), a descoberta mais interessante seria a estrela de origem, ou seja, o sistema estelar de onde o 3I/ATLAS veio. “Aí, poderíamos comparar a composição da estrela, a evolução da estrela, com a composição do 3I/ATLAS e entender melhor a sua formação”.
Segundo Jacques, que é integrante da Bramon, do Centro de Estudos Astronômicos de Minas Gerais (CEAMIG) e da Rede de Astronomia Observacional (REA), “o problema é que retroagir a órbita dele para descobrir a estrela de origem, por onde ele passou, é uma tarefa quase que impossível”.
Uma composição em ultravioleta mostra átomos de hidrogênio ao redor do cometa interestelar 3I/ATLAS enquanto ele cruza o Sistema Solar. A imagem, feita em 28 de setembro de 2025 pela missão MAVEN, revela três fontes de hidrogênio: o cometa, Marte e o hidrogênio interplanetário. Usando um modo especial que separa as emissões pela velocidade, o instrumento distinguiu cada origem, tornando visível o cometa como um ponto pequeno e circular no céu. Crédito: NASA/Goddard/LASP/CU Boulder
Pós-doutor em Engenharia, professor e diretor regional da Bramon no Sul do país, Carlos Fernando Jung é responsável pelo Observatório Heller & Jung, localizado na cidade de Taquara (RS). Assim como o colega de Minas Gerais, ele também gostaria que fosse descoberta a origem do objeto.
“O 3I/ATLAS é um cometa excepcional porque não segue o padrão clássico dos cometas. Ele é dominado por CO₂, possui química orgânica incomum e apresenta enriquecimento metálico. Sua estrutura é densa e resistente, com baixíssima erosão ao longo de bilhões de anos. Essas características indicam que pode ser um fragmento de crosta planetária, e não um núcleo cometário típico”, explica Jung. “Assim, ele é um fóssil interestelar que revela a diversidade química e geológica de outros sistemas planetários”.
Gabriel Hickel, astrônomo formado pela UFRJ e doutor em astrofísica pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), destaca que o 3I/ATLAS, até o momento, apresenta comportamentos esperados para um cometa interestelar, com características como maior quantidade de gás carbônico e uma atividade compatível com cometas do Sistema Solar. Ele aponta que uma possível surpresa seria a identificação de “uma molécula nunca antes detectada no material ejetado por um cometa”.
“Outra coisa que ainda pode ocorrer com o 3I/ATLAS são fenômenos anômalos de ejeção de material, a exemplo do que ocorre com o cometa do Sistema Solar, 17P/Holmes, que produz ejeções repentinas e esfero-simétricas, aumentando em centenas de milhares de vezes a luz refletida do Sol”, cita Hickel. “Ou até mesmo um processo de fragmentação parcial ou total”.
O cometa interestelar 3I/ATLAS foi analisado pela visão infravermelha do Telescópio Espacial James Webb, que descobriu uma composição química muito peculiar. Crédito: NASA/Telescópio Espacial James Webb
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E para você, o que seria interessante descobrir sobre o visitante interestelar?
Na sua opinião, a descoberta mais interessante sobre o objeto celeste mais falado do ano seria:
De onde ele veio
Presença da química de origem da vida
Revelar informações sobre outros sistemas estelares
Algo nunca antes encontrado em outro cometa
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Na sua opinião, a descoberta mais interessante sobre o objeto interestelar 3I/ATLAS seria:
— Olhar Digital (@olhardigital) December 16, 2025
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