Pinturas em cerâmicas indicam primeiros registros de uso da matemática

Ao examinar cerâmicas com desenhos de plantas datadas de 8 mil anos, pesquisadores descobriram que os detalhes das pinturas eram planejados de acordo com estruturas geométricas e ordem numérica pré-definidas. As obras são exemplares da cultura halafiana, que emergiu entre 6200 a 5500 a.C. no norte da Mesopotâmia.

A descoberta indica que certos conhecimentos matemáticos eram utilizados antes mesmo dos primeiros registros sobre esse aprendizado encontrados na Suméria, datados de aproximadamente 3300 a.C.. O estudo liderado pela Universidade Hebraica de Jerusalém, em Israel, foi publicado no Journal of World Prehistory em 5 de dezembro.

“Esses padrões mostram que o pensamento matemático começou muito antes da escrita. As pessoas visualizavam divisões, sequências e equilíbrio por meio de sua arte”, aponta a coautora do artigo, Sarah Krulwich, em comunicado.

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Outro fato que chamou a atenção é a substituição dos temas de desenhos pré-históricos. Anteriormente, artistas retratavam mais pessoas ou animais, já na cerâmica halafiana, eram pintadas flores, arbustos, galhos e árvores.

Entre 29 artefatos analisados, parte dos vegetais eram desenhados a partir do estilo realista, enquanto outros eram mais abstratos. “Isso reflete uma mudança cognitiva ligada à vida na aldeia e a uma crescente consciência da simetria e da estética”, escrevem os autores no artigo.

Matemática “comandava” a organização das artes

Ao produzir as artes, o desenho das flores respeitavam padrões matemáticos. Por exemplo, o número de pétalas seguia sequências numéricas de 4, 8, 16, 32 e até 64 agrupamentos.

De acordo com os pesquisadores, as análises mostraram que a disposição das flores não era acidental e acontecia com intenção, indicando uma compreensão avançada da cultura halafiana para dividir o espaço de forma uniforme e seguindo padrões.

“A capacidade de dividir o espaço de forma igualitária, refletida nesses motivos florais, provavelmente tinha raízes práticas na vida cotidiana, como o compartilhamento de colheitas ou a alocação de campos comunitários”, explica o autor principal do estudo, Yosef Garfinkel.

O achado é responsável por oferecer novas pistas de como as sociedades primitivas enxergavam a natureza antigamente e mostra que mesmo antes de ser descoberta, a matemática já era utilizada pelos artistas da época.