Um robô controlado por inteligência artificial (IA) conseguiu realizar, com alto grau de precisão, uma das cirurgias mais delicadas da oftalmologia: a canulação de veias da retina. O procedimento foi executado com sucesso em testes laboratoriais e aponta para um futuro no qual sistemas autônomos podem assumir etapas críticas de microcirurgias.
O sistema foi desenvolvido por pesquisadores da Johns Hopkins University e descrito num estudo publicado na revista científica Science Robotics nesta semana. Os experimentos usaram olhos de porcos e combinaram robótica, visão computacional e aprendizado profundo.
No entanto, os próprios autores deixam claro: o avanço é relevante, mas ainda distante da aplicação clínica em humanos.
Como a IA conseguiu operar no limite da precisão humana
A técnica em questão busca tratar a oclusão da veia da retina, condição que pode provocar complicações graves, como edema macular e até perda de visão. Hoje, o tratamento padrão envolve injeções frequentes de medicamentos dentro do olho, um processo invasivo, caro e que exige repetição constante.
A alternativa estudada é a canulação direta da veia da retina, com aplicação do medicamento exatamente no local do bloqueio. O problema é a escala: essas veias têm entre 100 e 250 micrômetros, menores do que um fio de cabelo humano. E qualquer mínimo desvio pode comprometer todo o procedimento.
Para enfrentar esse desafio, os pesquisadores recorreram ao Steady-Hand Eye Robot (SHER), robô cirúrgico de alta precisão. O sistema cruza imagens de um microscópio cirúrgico com dados de uma tomografia de coerência óptica intraoperatória (iOCT), que permite visualizar cortes internos do tecido em tempo real. Com isso, o robô consegue localizar a veia, encostar na parede do vaso, perfurá-lo e retirar a agulha com extrema precisão.
Três redes neurais treinadas com aprendizado profundo fazem o trabalho pesado:
Uma prevê a direção do movimento da agulha;
Outra identifica o momento exato de contato com a veia;
A terceira confirma a perfuração correta.
As etapas mais críticas ficam a cargo do sistema autônomo, enquanto o operador humano seleciona o alvo e supervisiona o processo.
Resultados animadores indicam potencial, mas pesquisadores pedem cautela
Nos testes com 20 olhos de porcos mantidos estáticos, o robô alcançou uma taxa de sucesso de 90%. O critério foi: a entrada correta do líquido na veia, confirmada tanto pela observação ao microscópio quanto pelas imagens de B-scan da tomografia.
Os pesquisadores foram além e simularam movimentos oculares semelhantes aos causados pela respiração. Em seis olhos submetidos a esse movimento sinusoidal, a taxa de sucesso caiu para 83%, ainda assim considerada alta para um procedimento tão sensível. O resultado indica que o sistema mantém estabilidade mesmo em condições menos controladas.
Entre os pontos fortes destacados no estudo estão a capacidade de eliminar limitações humanas, como tremores involuntários, e a melhoria na percepção de profundidade (um dos maiores desafios da microcirurgia ocular). O uso de imagens em tempo real também permite ajustes precisos durante toda a operação.
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Apesar disso, os próprios autores reforçam as limitações. Os testes foram feitos apenas em olhos de porcos fora do corpo, sem circulação sanguínea real, com um número reduzido de amostras e sem envolvimento de animais vivos ou pacientes humanos.
Nas palavras dos pesquisadores, o trabalho representa “um passo inicial rumo à tradução clínica”. Mas ainda exige novos estudos antes de chegar ao consultório.
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