Cultivada há milhares de anos, a cebola está na alimentação humana desde as primeiras civilizações agrícolas. Há registros do uso no Egito Antigo, na Grécia e em Roma, tanto como alimento quanto como planta medicinal. Com o tempo, o ingrediente se espalhou e se tornou uma das bases da culinária de várias culturas diferentes.
Mesmo tão presente no dia a dia, a cebola continua a provocar ardor nos olhos e lágrimas de quem a corta. Essa reação não é uma sensibilidade exagerada e nem acontece por acaso: ela é resultado de um processo químico próprio da planta, desenvolvido como forma de proteção.
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O que acontece quando a cebola é cortada
Enquanto está inteira, a cebola mantém as suas substâncias químicas separadas dentro das células. Cada composto fica guardado em um compartimento específico, sem causar nenhum efeito irritante.
O problema começa no momento do corte. A lâmina rompe as células e permite que essas substâncias se misturem. A partir dessa combinação, é formado um gás que se espalha de forma bem rápida no ar e alcança os olhos de quem prepara o alimento.
Além disso, o professor de biologia Marcello Lasneaux, da Heavenly International School, em Brasília, explica que esse mecanismo só é ativado quando a cebola sofre um dano real, como o corte.
“As substâncias que formam o gás irritante ficam separadas dentro da célula e só entram em contato quando a estrutura é rompida, o que evita que a própria planta se prejudique. É um sistema de defesa bastante eficiente e comum em várias espécies vegetais”, explica o professor.
Gás irritante da cebola como sistema de defesa
Na natureza, a liberação desse gás funciona como um recurso de sobrevivência. A substância irrita mucosas e afasta animais que poderiam se alimentar da cebola e comprometer a sua reprodução. Para os seres humanos, o efeito é passageiro, mas, para a planta, é uma defesa eficaz contra herbívoros.
Nem todas as cebolas provocam o mesmo nível de ardor. As variedades branca e amarela costumam liberar maiores quantidades do composto irritante. Já a roxa e a doce têm menor produção da substância responsável pelas lágrimas.
Na natureza, o gás irritante da cebola ajuda a afastar animais que se alimentam da planta
Por que os olhos lacrimejam ao cortar cebola?
No momento em que o gás liberado pela cebola entra em contato com a umidade natural dos olhos, ele se transforma em uma substância ácida que é responsável pela sensação de ardor.
Mesmo que seja levemente ácida, ainda é suficiente para irritar os olhos. Por isso, ao perceber essa irritação, o cérebro aciona um reflexo de proteção aumentando a produção de lágrimas, com o objetivo de diluir a substância irritante e limpar os olhos o mais rápido possível.
Mesmo que cause ardor, não costuma causar lesões
Em pessoas com olhos saudáveis, o desconforto provocado pela cebola não costuma causar grandes danos. A sensação de ardor geralmente desaparece poucos minutos depois do fim da exposição ao gás.
“O maior risco está no hábito de esfregar a região, que pode provocar pequenas abrasões na córnea ou levar bactérias das mãos para os olhos”, ressalta a médica oftalmologista Isabela Porto, do CBV-Hospital de Olhos, em Brasília.
Pessoas com olho seco, alergias oculares ou inflamações nas pálpebras tendem a sentir o efeito de forma mais intensa, já que o filme lacrimal, responsável pela proteção natural dos olhos, pode estar comprometido.
A médica oftalmologista ainda explica que em pessoas que usam lentes de contato, o cuidado deve ser maior, porque a lente pode reter o agente irritante por mais tempo.
O que ajuda a aliviar o desconforto
A primeira e principal orientação dos especialistas é não esfregar os olhos, já que o atrito pode piorar a irritação e causar feridas na superfície ocular. Para aliviar o ardor, o mais indicado é usar soro fisiológico estéril, que ajuda a limpar os olhos e a eliminar a substância irritante com segurança.
Caso a ardência não passe em poucos minutos ou venha acompanhada de dor forte, vermelhidão que não melhora ou visão embaçada, a recomendação é procurar um médico. Nesses casos, o contato com a cebola pode ter agravado um problema nos olhos que já existia.






