Acidente fatal com Autopilot rende condenação bilionária à Tesla

Um júri federal de Miami decidiu que a Tesla tem responsabilidade parcial por um acidente fatal ocorrido em 2019, envolvendo o sistema de assistência de direção Autopilot. A montadora foi condenada a pagar US$ 329 milhões (cerca de R$ 1,8 bilhão) em indenizações punitivas e compensatórias às vítimas.

O caso marca uma das primeiras decisões judiciais importantes contra a Tesla relacionadas à tecnologia de assistência ao motorista. O acidente resultou na morte da jovem Naibel Benavides Leon, de 20 anos, e deixou ferimentos graves em seu namorado, Dillon Angulo.

Segundo o júri, o sistema Autopilot e o motorista não frearam a tempo de evitar a colisão com um SUV em um cruzamento. A responsabilidade foi dividida: dois terços atribuídos ao condutor e um terço à Tesla. O motorista foi processado separadamente.

O julgamento ocorreu em um momento estratégico para a Tesla, que está iniciando os testes de sua rede de Robotáxis em Austin, no Texas. Essa nova fase utiliza uma versão mais avançada do sistema de assistência, chamada de Full Self-Driving (FSD).

Resultado do julgamento chega num momento crucial para a Tesla (Imagem: Artistic Operations/Shutterstock)

Acusação de negligência no uso do Autopilot

Durante o julgamento, os advogados da acusação argumentaram que a Tesla projetou o Autopilot para ser usado apenas em rodovias com acesso controlado, mas não restringiu o uso em outras vias. Além disso, destacaram declarações públicas de Elon Musk, fundador e CEO da empresa, dizendo que o sistema dirigia “melhor que humanos”.

Declarações de Elon Musk serviram como argumento contra a Tesla no julgamento (Imagem: miss.cabul / Shutterstock.com)

“O Autopilot foi promovido com promessas exageradas que colocaram vidas em risco”, afirmou Brett Schreiber, advogado da família das vítimas, em comunicado ao TechCrunch. “As mentiras da Tesla transformaram nossas ruas em pistas de teste para uma tecnologia fundamentalmente falha.”

Defesa da Tesla e intenção de recorrer

A Tesla, por sua vez, contestou a decisão e declarou que pretende recorrer da sentença. Para a empresa, houve “erros substanciais de direito e irregularidades no julgamento”. Em nota enviada ao TechCrunch, a companhia afirmou que nenhum carro em 2019, nem mesmo os atuais, teria conseguido evitar o acidente.

“Este veredicto está errado e prejudica os avanços na segurança automotiva, colocando em risco os esforços da indústria para desenvolver tecnologias que salvam vidas”, afirmou a Tesla. Segundo a montadora, o acidente não deveria ser atribuído ao Autopilot, mas sim à falha do condutor, que teria assumido a responsabilidade desde o início.

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Histórico de confiança excessiva no sistema

O caso reflete um padrão de confiança exagerada no Autopilot, alimentado por declarações de executivos da Tesla.

O próprio Elon Musk reconheceu, em uma teleconferência de 2018, que muitos motoristas se tornam complacentes ao usar sistemas de assistência à direção.

“Eles ficam acostumados demais. Não é que não entendam o que o Autopilot faz, é que acham que sabem mais do que realmente sabem”, disse Musk na ocasião.

Essa percepção já havia sido apontada pelo National Transportation Safety Board (NTSB), que investigou outro acidente fatal em 2018 envolvendo o Autopilot.

O órgão concluiu que a Tesla ignorou diversas recomendações de segurança feitas após a análise do caso, em que o motorista estava jogando no celular no momento da colisão.

O próprio CEO da Tesla reconheceu complacência de motoristas com o sistema de assistência à direção da Tesla (Imagem: Flystock / Shutterstock.com)

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