Picada de escorpião: entenda como é feito soro para o tratamento

Escorpiões assustam e causam pânico em muita gente porque podem ser perigosos. Mesmo assim, esses animais têm uma função importante na medicina. É com o veneno deles que se produz o soro usado para tratar picadas.

O Brasil registra milhares de acidentes por escorpião todos os anos. Embora a maioria dos casos seja leve, com dor e inchaço local, as crianças menores de 7 anos estão entre os grupos mais vulneráveis.

Elas correm maior risco de desenvolver sintomas graves e, nesse cenário, o soro pode ser essencial. Quanto antes ele for administrado, maiores as chances de sucesso no tratamento.

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Processo em várias etapas

A produção do soro antiescorpiônico é considerada uma das mais complexas entre os soros antivenenos. O processo começa com a extração do veneno dos escorpiões, que são mantidos em viveiros específicos para esse fim.

Segundo o engenheiro químico Mauricio Abreu Santos, da Diretoria Industrial da Fundação Ezequiel Dias (Funed), cada escorpião fornece em média 0,20 mg de veneno por extração. “Atualmente, temos cerca de 3.500 escorpiões em nosso plantel, e as extrações são feitas mensalmente”, explica.

Esse veneno passa por etapas de centrifugação, liofilização (desidratação) e armazenamento. Depois, é usado na imunização dos equinos, animais que desenvolvem anticorpos após receberem pequenas doses do antígeno. O sangue desses cavalos é coletado em ciclos e, a partir dele, separa-se o plasma, que é a matéria-prima do soro.

“Cada cavalo produz cerca de 110 litros de plasma por ano. Hoje, contamos com 14 equinos dedicados exclusivamente a essa função”, afirma Santos. Com os ciclos de imunização, são realizadas quatro coletas por animal a cada etapa.

Quantos escorpiões são necessários para fazer uma dose

Ao contrário do que possa se imaginar, não é possível dizer quantos escorpiões são necessários para fabricar uma dose de soro. “A produção não funciona exatamente assim. O que fazemos é calcular o rendimento médio em ampolas por litro de plasma”, explica Santos.

Na Funed, um litro de plasma antiescorpiônico rende, em média, 45 ampolas de 5 mL. Para formar um único lote de soro, são necessários 400 litros de plasma.

A etapa final envolve a diluição do plasma e a formulação do produto acabado, com controle de qualidade antes da liberação. Todo o processo é feito em condições rigorosas para garantir a segurança e a eficácia do soro.

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Efeito do soro no organismo

O médico Adebal de Andrade Filho explica que o soro age neutralizando o veneno do escorpião nos casos em que é indicado. O objetivo é impedir a progressão dos sintomas quando o acidente é moderado ou grave.

“O tratamento deve ser iniciado o mais rápido possível para garantir sua eficácia”, explica o coordenador do Centro de Informação e Assistência Toxicológica de Minas Gerais (CIATox-MG).

Segundo Adebal, apenas 5% dos acidentes com escorpiões são classificados como moderados ou graves. Em todos os casos, no entanto, é necessário realizar tratamento sintomático, principalmente para controlar a dor, presente em quase 100% das ocorrências.

Distribuição depende da demanda das regiões

A produção do soro é feita por laboratórios públicos, como a Funed, que entregam o material ao Ministério da Saúde. A pasta é responsável por coordenar a distribuição aos estados, que por sua vez, encaminham o produto aos municípios e unidades de saúde.

“A quantidade necessária é definida com base em dados epidemiológicos e nas demandas regionais. Nossa produção é programada para atender à meta estipulada pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI)”, afirma Santos.

Com esse sistema, busca-se garantir que o soro esteja disponível em todo o território nacional, especialmente em locais com maior número de ocorrências.

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