O cérebro não dorme. Entre trazer memórias do passado e projetar o futuro, ele ainda observa, interpreta e analisa tudo ao redor. O pensamento pula de um lugar para outro, gerando um encadeamento de ideias sem fim.
Segundo termos científicos, o pensamento pode ser definido como um estado mental cognitivo ou emocional transitório, que tem por excelência a relação do sujeito com seus conteúdos, como, por exemplo, perceber, acreditar, temer, imaginar ou lembrar.
Ou seja, o tempo todo estamos imersos nesse complexo sistema mental elaborando conceitos, criando juízo de valor sobre as coisas e pessoas e realizando raciocínios de ordem prática para resolver questões do dia a dia.
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Quantos pensamentos temos por dia?
Essa é uma dúvida que também intrigou os pesquisadores Jordan Poppenk e Julie Tseng, que desenvolveram um método para descobrir quando um pensamento termina e outro começa. Esse estudo foi publicado na revista Nature Communications.
O método consiste no isolamento dos chamados “vermes do pensamento”, apesar do nome não ser muito agradável, ele se encaixa perfeitamente na definição desse estado mental. Os “vermes do pensamento” são aqueles momentos consecutivos em que uma pessoa está focada numa mesma ideia.
Geralmente são ideias persistentes, intrusivas, e, assim como os vermes reais se apossam e se multiplicam rapidamente numa superfície, os “vermes do pensamento” também parecem escavar a nossa mente por longos períodos num assunto único, mas que geram ideias variadas.
“O cérebro ocupa um ponto diferente nesse ‘espaço de estados’ a cada momento. Quando uma pessoa passa para um novo pensamento, ela cria um novo verme do pensamento que podemos detectar com nossos métodos”, afirma Poppenk em comunicado.
Para isso, os autores da pesquisa observaram as funções cerebrais de um grupo de participantes por meio da ressonância magnética funcional (fMRI) enquanto assistiam filmes e também quando estavam em repouso. E descobriram que temos em média 6.200 pensamentos por dia.
O foco da pesquisa não está na descoberta dos conteúdos dos pensamentos, mas sim nas análises de transições de um pensamento para outro, isto é, o instante em que uma pessoa muda de ideia. E não foi observada uma diferença estrutural entre os participantes que assistiram ao filme e aqueles que estavam em repouso.
“Descobrimos que, independentemente de os participantes estarem assistindo a um filme ou em repouso, as transições estavam associadas a padrões de ativação muito semelhantes”, diz um trecho do artigo.
Segundo Poppenk, quando pensamos, os estados mentais são relativamente estáveis no que se refere à atividade cerebral, mas a atenção sustentada está mais associada ao giro angular – sendo possível identificar transições de um estado a outro por meio do fMRI, considerada por ele uma metodologia fundamental.
“As transições de pensamento têm sido difíceis de serem alcançadas ao longo da história da pesquisa sobre o pensamento que frequentemente se baseou em voluntários descrevendo seus próprios pensamentos, um método que pode ser notoriamente pouco confiável”, explica.
Muito além de sanar uma curiosidade sobre quantos pensamentos temos por dia, este estudo deve abrir portas para investigações futuras sobre o funcionamento da mente. E tem o potencial de auxiliar no tratamento de alguns transtornos, uma vez que ele poderia ajudar na detecção precoce de pensamentos desordenados em casos de esquizofrenia e TDAH, por exemplo.
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