Um estudo publicado nesta sexta-feira (15) na revista Science Advances revelou um feito histórico e inédito: pela primeira vez, cientistas conseguiram registrar o momento em que um embrião se implanta.
A pesquisa, conduzida por especialistas do Instituto de Bioengenharia da Catalunha (IBEC), mostrou como esse processo milimétrico ocorre em uma região profunda do útero — até então, apenas fotografias desse momento haviam sido capturadas.
A descoberta tem potencial para revolucionar os tratamentos de fertilidade e, nas palavras dos cientistas, abriu uma “caixa-preta” do desenvolvimento humano.
O que exatamente foi registrado?
A implantação do embrião é o processo em que ele, já no estágio de blastocisto, se fixa no endométrio (revestimento interno do útero), marcando o início da gravidez.
Esse fenômeno ocorre geralmente entre o quinto e o sexto dia após a fertilização. Nessa fase, o embrião é um aglomerado de 100 a 200 células — pequeno demais para ser detectado por ultrassom.
Até então, apenas os primeiros cinco dias de desenvolvimento haviam sido observados em laboratório. Mas o novo método desenvolvido pelos pesquisadores do IBEC pode mudar esse cenário.
A implantação de um embrião de camundongo versus um embrião humano usando a nova matriz 2D. (Godeau et al., Sci. Adv. , 2025)
Como os cientistas registraram a implantação do embrião?
O registro foi possível graças a uma plataforma desenvolvida pela equipe, que permite que os embriões se implantem fora do útero. Assim, em um ambiente controlado, o vídeo foi realizado.
O sistema utiliza um gel artificial à base de colágeno, material presente no útero humano. Quando os blastocistos são colocados sobre uma superfície plana de gel, é possível observá-los se ligando ao colágeno e, em seguida, invadindo-o.
Já quando inseridos em gotículas, os embriões parecem “puxar” as fibras de colágeno dos tecidos maternos em direção ao seu centro, remodelando o ambiente ao redor.
“A plataforma nos permitiu quantificar a dinâmica da implantação do embrião e determinar a mecânica das forças envolvidas nesse processo complexo em tempo real”, explica Anna Seriola, pesquisadora do IBEC e coautora principal do estudo.
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O estudo pode transformar os tratamentos de fertilidade atuais. Essa é uma etapa crítica que frequentemente falha em condições naturais: cerca de 60% das gestações mal sucedidas ocorrem durante ou logo após a implantação, tornando-a um gargalo decisivo para a vida.
“Nossa tecnologia nos permite identificar onde o embrião exerce força, e descobrimos que ele aplica uma força mecânica significativa para se implantar e invadir”, afirmou o autor sênior Samuel Ojosnegros, bioengenheiro do Instituto de Ciência e Tecnologia de Barcelona (BIST), ao ScienceAlert.
Compactação e invasão de embriões humanos. (BIST)
No entanto, ainda há uma limitação importante: a matriz de colágeno não contém células uterinas humanas, o que significa que só pode oferecer metade do panorama.
Por outro lado, essa restrição também traz uma vantagem. A composição da matriz pode ser ajustada para analisar como os embriões humanos reagem a diferentes ambientes ou compostos — um avanço que pode melhorar as taxas de implantação.
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