Endometriose e gestação

Para muitas mulheres, o desejo de ser mãe acompanha a vida desde cedo. Está nas brincadeiras de boneca, nos cuidados com os irmãos mais novos ou naquele brilho no olhar ao ver um bebê no colo. Mas, quando o diagnóstico de endometriose chega, esse sonho pode ser tomado por incertezas. Será que vou conseguir engravidar? É possível ser mãe mesmo com a doença? A resposta é positiva, embora o caminho possa exigir mais planejamento, cuidados e, acima de tudo, informação.

Endometriose e fertilidade: sempre há impacto?

Segundo o ginecologista e obstetra Paulo Noronha, membro da FEBRASGO, a endometriose interfere, sim, na fertilidade — ainda que o impacto varie de mulher para mulher. “Pelo menos 30% das mulheres com endometriose terão infertilidade independentemente do grau da doença, e até 50% das mulheres inférteis podem ter a doença como fator contribuinte”, conta.

Mulheres com endometriose também apresentam uma taxa mensal de chance de engravidar 2 a 5% menor quando comparadas com mulheres sem a condição. Apesar disso, endometriose e infertilidade não são sinônimos.

“É perfeitamente possível uma mulher com endometriose engravidar, dependendo principalmente da idade e da gravidade da doença”, acrescenta a ginecologista e obstetra Paula Fettback, especialista em reprodução humana pela FEBRASGO.

Ela reforça que o tempo é um fator determinante nesse processo. Quanto mais a mulher com diagnóstico de endometriose posterga a gestação, maiores são as chances de enfrentar dificuldades para engravidar.

Os caminhos possíveis

Quando o assunto é gestação e endometriose, o primeiro passo é entender a situação da paciente como um todo. “Primeiro, um bom diagnóstico clínico e mapeamento por imagem da endometriose. Avaliar a reserva ovariana, a idade em que a mulher está começando as tentativas e o fator masculino também é fundamental, pois esses dados vão guiar o melhor caminho”, explica Paula.

Os tratamentos possíveis variam conforme o quadro. Em muitos casos, a mulher pode tentar a concepção natural por até um ano (ou seis meses, se tiver mais de 35 anos). Se a gestação não acontecer, entram em cena alternativas como:

Estímulo da ovulação e coito programado;
Cirurgia para remoção dos focos da doença (laparoscopia ou robótica);
Fertilização in vitro (FIV).

“Cada caso é um caso. Essas alternativas dependem de muitas variáveis que devem ser consideradas e discutidas com o casal”, orienta a médica.

Tratamentos que aumentam as chances de engravidar

A medicina evoluiu – e hoje existem diversos tratamentos que ajudam mulheres com endometriose a engravidar. Paula destaca a importância de um estilo de vida equilibrado: “manter uma dieta específica para a endometriose, exercício físico regular, corpo e mente saudáveis fazem toda a diferença.”

Em muitos casos, a combinação entre mudanças de hábitos, medicação e intervenção médica dá bons resultados. O segredo está em um acompanhamento multidisciplinar e personalizado.

A condição pode dificultar a fertilidade, mas com o tratamento certo, a gravidez pode, sim, acontecer – Crédito: FreePik

Gravidez alivia os sintomas da endometriose?

Uma dúvida comum é se a gestação interfere nos sintomas da doença – e a resposta costuma ser positiva. Segundo Paula, “durante a gravidez dizemos que a ‘endometriose adormece’. Mas, após o bloqueio hormonal da gestação e da lactação, ela retorna, ‘acorda’, se não for instituído tratamento adequado.”

Isso acontece porque, na gravidez, devido à suspensão da menstruação e às altas taxas de progesterona, os sintomas tendem a desaparecer – e só retornam no pós-parto, com o restabelecimento do ciclo menstrual. No entanto, Paulo Noronha alerta que, em alguns casos, mulheres com aderências mais profundas ainda podem sentir dores durante a gestação.

Antes, durante e depois

Antes de engravidar, o ideal é cuidar do corpo como um todo. Alimentação equilibrada, rotina de exercícios e bem-estar emocional fazem parte do tratamento. Durante a gestação, um pré-natal de excelência, boa suplementação e escuta ativa do corpo são essenciais para garantir a saúde da mãe e do bebê. E, no pós-parto, o cuidado continua.

“Caso a mulher ainda apresente sintomas importantes e falha no tratamento clínico, ela deve considerar a cirurgia, a laparoscopia, com um especialista na área. A cirurgia com um bom e experiente cirurgião também é fator essencial na condução da doença”, finaliza Paula.

A matéria acima foi produzida para a revista AnaMaria Digital (25 de julho). Se interessou? Baixe agora mesmo seu exemplar da Revista AnaMaria nas bancas digitais: Bancah, Bebanca, Bookplay, Claro Banca, Clube de Revistas, GoRead, Hube, Oi Revistas, Revistarias, Ubook, UOL Leia+, além da Loja Kindle, da Amazon. Estamos também em bancas internacionais, como Magzter e PressReader.

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