Barata tem cheiro? Para muita gente, sim — e é inconfundível. A diferença não é frescura nem imaginação: ciência e anatomia ajudam a entender por que um mesmo ambiente pode “cheirar a barata” para uns e permanecer neutro para outros.
Parte da explicação está nas moléculas que a própria barata libera e na maneira como cada organismo detecta esses sinais. O nariz reage de forma única: fatores genéticos, hormonais, idade e até pequenas diferenças na anatomia nasal determinam se os receptores olfativos captam ou não essas substâncias.
Receptores no fundo do nariz captam as substâncias voláteis e enviam informações ao cérebro, mas nem todo mundo tem a mesma sensibilidade ou o mesmo “caminho livre” para que o odor chegue aos sensores. Isso significa que duas pessoas na mesma sala podem ter experiências completamente diferentes com o mesmo cheiro.
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O que define quem sente ou não o cheiro de barata
Segundo Priscila de Freitas, professora de biologia do colégio Marista Águas Claras, a responsável pelo chamado “cheiro de barata” é uma molécula chamada trimetilamina.
“As baratas liberam naturalmente a substância, presente em seu corpo e utilizada na comunicação entre elas. Esse composto tem um odor forte e característico, que é associado ao cheiro de barata”, explica Priscila.
Entre quem sente o odor, é comum associá-lo ao de peixe podre, mofo ou comida em decomposição — a trimetilamina também é encontrada em peixes.
A percepção do cheiro depende da presença de receptores específicos no nariz. Algumas pessoas nascem com variações genéticas que impedem a detecção da molécula; outras possuem a versão do gene que mantém essa capacidade.
Como o cheiro de barata chega ao cérebro
As moléculas liberadas pela barata entram pelas narinas ou pela via retronasal, que conecta a boca à cavidade nasal.
Ao alcançar o epitélio olfativo, localizado no topo da cavidade nasal, elas se ligam a receptores específicos nas células olfatórias.
Essa ligação gera impulsos elétricos que percorrem o nervo olfatório até o bulbo olfatório, estrutura na base do cérebro responsável por interpretar os sinais recebidos.
Do bulbo, os impulsos são enviados para o córtex olfativo e para o sistema límbico, regiões que processam o cheiro e o associam a emoções e memórias. Por isso, certos odores podem despertar sensações de prazer, nojo ou até lembranças antigas.
Além da genética, fatores hormonais também influenciam a chance de sentir o odor. As mulheres costumam ter maior sensibilidade olfativa, especialmente no período fértil. Crianças e jovens tendem a perceber mais cheiros do que idosos, já que o envelhecimento reduz a função dos receptores olfativos.
“Isso ocorre principalmente pelo envelhecimento dos receptores olfativos e pela perda de neurônios olfativos, assim como de outros nervos, associados ao envelhecimento”, explica Thiago Zago, otorrinolaringologista de Campinas.
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Fatores físicos e fisiológicos que impedem sentir o cheiro de barata
Nem sempre a ausência do cheiro está ligada à genética. Em muitos casos, o problema é físico: obstruções no nariz, como desvio de septo, pólipos ou inflamações crônicas, podem impedir que as moléculas odoríferas cheguem ao epitélio olfativo, região responsável por detectar os cheiros.
Doenças como rinite alérgica e rinossinusite também reduzem a passagem de ar, dificultando que os odores alcancem os receptores, inclusive o da barata. Mesmo com receptores normais, o nariz pode não conseguir “captar” o cheiro devido a esses bloqueios.
Outro fator importante é o limiar olfativo, que indica a menor concentração de uma substância capaz de ser detectada pelo olfato. Esse valor varia de pessoa para pessoa e de odor para odor. Assim, algumas pessoas só perceberiam a presença de um cheiro se ele estivesse em alta concentração.
Além disso, existe a adaptação olfatória: quando uma pessoa é exposta de forma constante a um cheiro, os receptores olfativos reduzem a resposta e o cérebro deixa de registrar o estímulo. No caso das baratas, quem convive em ambientes infestados pode parar de notar o odor, mesmo que ele continue presente.
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