Os neandertais tinham uma língua própria?

A capacidade de se comunicar veio muito antes do aparecimento dos humanos modernos. Um trabalho publicado recentemente, que ainda aguarda revisão por pares, resolveu entender se os neandertais, que vieram antes dos Homo sapiens, tinham uma língua própria.

A conclusão não apenas nos dá mais detalhes sobre nossos ancestrais, mas também ajuda a desvendar os motivos para sua extinção.

De acordo com estudo, diferença de comunicação entre neandertais e Homo sapiens pode ter contribuído para extinção dos nossos ancestrais (Crédito: Efrat Bakshitz via Universidade Hebraica de Jerusalém)

Neandertais e outros hominídios provavelmente podiam falar

Mesmo antes dos humanos modernos, os hominídeos provavelmente conseguiam falar. A língua é peça fundamental não apenas para a comunicação, mas também para diferenciar um determinado grupo de outro, criando uma sensação de “nós” e “eles”.

Um estudo publicado no servidor EcoEvoRxiv (que ainda precisa ser revisado) resolveu se aprofundar nos sistemas linguísticos ancestrais. Os pesquisadores responsáveis destacaram que a linguagem é caracterizada pela “ergodicidade”, que se refere à capacidade de inventar múltiplos dialetos que refletem diferenças culturais entre diferentes grupos.

O trabalho queria entender quando a ergodicidade começou. O objetivo era descobrir se os neandertais tinham essa capacidade e, portanto, poderiam ter criado uma língua própria.

Evidências arqueológicas indicaram uma diferença crucial na comunicação de neandertais e Homo sapiens (Imagem gerada com IA via DALL-E/Vitória Gomez/Olhar Digital)

Estudo buscou evidências de marcadores culturais

Como explicou o IFLScience, a pesquisa buscou sinais de “polifilia”, uma tendência a diversificar costumes locais com o objetivo de criar marcadores culturais que definem um grupo, em oposição a outros. Isso ajuda a criar uma sensação de comunidade e diferenciação em relação a outros grupos.

A polifilia não é específica. Os marcadores podem ser desde obras de arte e vestimentas até costumes alimentares e estilo de vida. Nesse sentido, a língua é um dos maiores marcadores deste tipo. Até hoje, idiomas e sotaques ajudam a diferenciar pessoas de origens distintas.

No entanto, o estudo lembra que, mesmo com as diferenças, todos nós temos a capacidade de aprender uma língua estrangeira – ou outros costumes.

Para entender qual a relação dos neandertais com a polifilia, os pesquisadores examinaram evidências arqueológicas e descobriram que, há pouco menos de 500 mil anos, características comuns na produção de ferramentas se espalharam pelas populações de Homo sapiens da Eurásia. Essas evidências resultaram em artefatos e ferramentas que podem ter sido a identidade de um grupo específico (e, portanto, entrariam como polifilia).

Em comparação, os artefatos produzidos pelos neandertais não tinham esse tipo de variação. Os pesquisadores entenderam que eles não tinham essa mesma capacidade de diferenciação.

Além disso, a anatomia do córtex pré-frontal dos neandertais é bem diferente da anatomia da nossa espécie, que tem maior capacidade de criatividade. Isso corrobora com a teoria de que eles realmente não chegaram a uma língua própria.

Incapacidade em aprender a linguagem dos Homo sapiens pode ter sido fator na extinção dos neandertais (Imagem: Esin Deniz/Shutterstock)

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Língua própria pode ter surgido apenas depois dos neandertais

As descobertas do estudo sugerem que a ergodicidade surgiu apenas depois da separação entre Homo sapiens e neandertais.

Inclusive, a falta de comunicação entre as espécies pode ter sido um dos fatores que contribuiu na extinção dos neandertais, já que eles não conseguiram se comunicar com nossa espécie.

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