O gás lacrimogêneo é uma substância química amplamente utilizada em situações de controle de multidões e dispersão de manifestações.
Apesar de o nome sugerir algo gasoso, na prática, ele é formado por partículas sólidas muito pequenas, que se espalham pelo ar e atingem olhos, pele e vias respiratórias. O efeito é imediato: forte irritação ocular, lacrimejamento constante, sensação de ardência e, muitas vezes, dificuldade para respirar.
Mesmo classificado como uma arma “não letal”, o gás lacrimogêneo gera debates acalorados sobre segurança, legalidade e riscos à saúde. Criado inicialmente para fins militares, acabou sendo incorporado às forças policiais em diferentes países, mas também passou a ser alvo de críticas de organizações de direitos humanos que questionam seus impactos de longo prazo.
O que é o gás lacrimogêneo?
O chamado gás lacrimogêneo não é exatamente um gás, mas um conjunto de compostos químicos sólidos, reduzidos a partículas muito finas e dispersados por sprays, granadas ou cartuchos. Ao entrar em contato com o corpo, essas partículas ativam receptores nervosos sensíveis à dor e causam irritação imediata. Por isso, a sensação de ardência é tão forte e repentina.
Entre os compostos mais conhecidos estão o CS (orto-clorobenzilideno malononitrila), o CN (cloroacetofenona) e a oleoresina capsicum, derivada da pimenta e popularizada nos sprays de defesa pessoal.
Cada versão tem efeitos parecidos, mas com intensidades e riscos diferentes. O CS, por exemplo, é o mais utilizado pelas polícias em todo o mundo, enquanto o CN caiu em desuso por ser mais tóxico. Já o OC é preferido para uso individual em sprays de bolso.
Essas substâncias são classificadas como agentes químicos irritantes, e não como armas químicas de guerra. Essa distinção é o que permite seu uso por forças de segurança em vários países, embora continue a gerar polêmica.
Como o gás lacrimogêneo age no corpo humano?
O impacto do gás lacrimogêneo no corpo é quase instantâneo. Quando as partículas atingem os olhos, surge uma sensação de areia que impede a abertura das pálpebras. A pele começa a arder, principalmente em regiões mais sensíveis, e o sistema respiratório reage com tosse, espirros e até sensação de sufocamento.
Em poucos segundos, a pessoa exposta perde a capacidade de se concentrar, já que o corpo entra em um estado automático de defesa. A visão fica turva, a respiração se torna difícil e o instinto é buscar ar fresco imediatamente.
Em ambientes abertos, os efeitos tendem a durar entre 15 e 30 minutos. Já em locais fechados, a intensidade aumenta e pode se tornar perigosa, especialmente para quem sofre de asma, bronquite ou problemas cardíacos.
O desconforto é passageiro, mas em casos extremos há relatos de lesões oculares, queimaduras químicas na pele e complicações respiratórias. É justamente por isso que o debate sobre sua segurança continua em aberto.
Tipos mais comuns de gás lacrimogêneo
Existem diferentes versões de gás lacrimogêneo, cada uma com características próprias.
CS (2-clorobenzilideno malononitrila): é o mais utilizado mundialmente por forças policiais. Seu efeito é rápido, forte e relativamente curto.
CN (cloroacetofenona): foi muito usado no passado, mas caiu em desuso por apresentar maior toxicidade e riscos de danos permanentes à visão.
OC (oleoresina capsicum): popularmente conhecido como spray de pimenta, é feito a partir de extratos naturais. Usado tanto por policiais quanto em defesa pessoal.
CR (dibenzoxazepina): mais potente que o CS, porém menos comum. Costuma ser empregado em situações de alto risco.
Cada um desses compostos é fabricado em granadas, cartuchos ou sprays pressurizados, podendo ser lançado manualmente ou por equipamentos específicos.
Efeitos e riscos à saúde
O efeito imediato do gás lacrimogêneo é incapacitante, mas passageiro. Ele provoca lacrimejamento constante, tosse, sensação de sufoco e ardência intensa na pele. Em alguns casos, também gera náusea e tontura. Em ambientes abertos, esses sintomas desaparecem em pouco tempo, mas em locais fechados podem se prolongar e se agravar.
O grande problema é que, apesar de ser rotulado como “não letal”, o gás lacrimogêneo não é completamente seguro. Pessoas com condições respiratórias crônicas, idosos e crianças são especialmente vulneráveis.
Exposições prolongadas já foram associadas a danos respiratórios duradouros e, em situações extremas, até a óbitos. Também há registros de queimaduras de pele e lesões oculares em casos de contato intenso.
O uso do gás lacrimogêneo no mundo
Hoje, o gás lacrimogêneo é presença constante em protestos, manifestações e situações de desordem pública. Forças policiais recorrem a ele como alternativa a armas letais, alegando que sua função é dispersar multidões sem causar mortes. O exército também o utiliza em treinamentos, justamente para preparar soldados para situações de exposição a agentes químicos.
No entanto, o uso não é isento de controvérsia. A Convenção sobre Armas Químicas, assinada por mais de 190 países, proíbe o uso do gás lacrimogêneo em cenários de guerra, mas permite seu emprego em operações de segurança interna. Essa brecha jurídica gera debates constantes.
Organizações de direitos humanos denunciam o abuso da substância, alegando que muitas vezes ela é usada em excesso ou em condições inadequadas, como em locais fechados, onde o risco de morte aumenta significativamente.
O que fazer em caso de exposição?
Em caso de contato com o gás lacrimogêneo, a primeira atitude deve ser sair imediatamente da área afetada e buscar ar fresco. Lavar o rosto com água fria ajuda a reduzir a ardência, mas é importante não esfregar os olhos para não piorar a irritação. Retirar as roupas expostas também é essencial, já que os tecidos retêm partículas químicas que continuam agindo na pele.
Algumas pessoas usam soluções salinas para aliviar a irritação ocular, mas o ideal é recorrer a atendimento médico se os sintomas não passarem em poucos minutos. Pacientes com asma ou outros problemas respiratórios devem buscar ajuda médica imediatamente, já que a exposição pode desencadear crises graves.
Polêmicas e debates
Apesar de ser classificado como uma ferramenta de controle “menos letal”, o gás lacrimogêneo está longe de ser inofensivo. A principal crítica é ética: até que ponto é aceitável causar dor e sofrimento físico para conter manifestações? Além disso, há denúncias de que seu uso costuma ser abusivo, afetando não apenas quem oferece risco real, mas também pessoas pacíficas e transeuntes.
Outro ponto de controvérsia é o contexto. Em áreas abertas e ventiladas, o risco é menor, mas em espaços fechados ele pode se transformar em uma arma perigosa. Diversos especialistas defendem que deveria ser mais restrito, justamente porque já foi proibido em guerras por representar risco excessivo à vida.
O post O que é e como age o gás lacrimogêneo no corpo humano? apareceu primeiro em Olhar Digital.