China amplia domínio sobre o níquel brasileiro

A venda das minas de níquel pertencentes à Anglo American no Brasil para a MMG Limited, subsidiária da estatal chinesa China Minmetals, movimentou o setor mineral e gerou debates sobre concentração de mercado.

Anglo American vendeu as minas por US$ 500 milhões, embora a Corex Holding, ligada ao grupo turco Yildirim, tenha declarado que apresentou oferta de US$ 900 milhões para os mesmos ativos.

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Os ativos negociados abrangem os complexos de Barro Alto e Codemin, localizados em Goiás, além de projetos exploratórios no Pará e em Mato Grosso.

Com esse acordo, a participação chinesa na produção nacional de níquel sobe para cerca de 60%, ampliando o domínio global da China sobre o metal fundamental para baterias, veículos elétricos e aço inoxidável.

Preocupações com soberania

O Incra foi acionado para analisar se houve descumprimento das normas que limitam a aquisição de terras rurais por estrangeiros, já que as áreas minerárias ficam em regiões sensíveis dos três Estados.

O órgão destacou preocupações relativas à soberania nacional.

“Revela-se contraditório que o Brasil, detentor de significativa diversidade e abundância de recursos minerais estratégicos, permita a sistemática exploração dessas riquezas por agentes estrangeiros, sem o correspondente desenvolvimento de sua cadeia produtiva nacional”, declarou o Incra em ofício no dia 27 de junho de 2025.

A Corex Holding contestou o acordo no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e na Comissão Europeia, apontando riscos de concentração e possíveis impactos negativos no fornecimento para mercados ocidentais.

Segundo a empresa, “a operação permitirá à MMG Limited, controlada em última instância pela China Minmetals Corporation, adquirir o controle da totalidade do negócio de níquel da Anglo American no Brasil”.

De acordo com a Corex, a venda pode consolidar ainda mais o domínio chinês sobre o mercado global de níquel.

“Em um cenário pós-operação, estima-se que entidades controladas em última instância pelo governo chinês representariam até 60% do fornecimento global de níquel, um nível de poder de mercado que traz implicações estruturais substanciais para o Brasil e para a dinâmica do mercado global”, informou a Corex.

A companhia ainda advertiu sobre possíveis consequências para o mercado brasileiro.

“A redução no número de fornecedores independentes pode limitar as opções de compra para os compradores brasileiros, afetando a estabilidade de preços, os prazos de entrega e a confiabilidade no fornecimento”, disse a Corex.

Impactos internacionais e legislação brasileira

Embora o acordo tenha sido formalizado entre a Anglo American e a MMG, a legislação brasileira determina que os direitos de exploração mineral são concedidos pelo Estado, independentemente da empresa detentora das concessões.

Assim, o que ocorreu foi a transferência dessas concessões, antes sob controle de uma empresa anglo-australiana, para a subsidiária de uma estatal chinesa.

Nos Estados Unidos, a venda também foi alvo de reação.

O Instituto Americano do Ferro e do Aço (AISI) solicitou ao governo do presidente Donald Trump que pressione o Brasil a reconsiderar a operação, argumentando que o negócio reforça a dependência global da China em minerais estratégicos.

Aproximação da Anglo American com a China

Nos últimos anos, a Anglo American intensificou seus laços comerciais com empresas chinesas.

Em 2023, firmou acordo com a Jiangxi Copper para promover cadeias de suprimento mais rastreáveis e sustentáveis.

Já em 2024, assinou parcerias com Sinochem Fertilizer e BeiFeng AMP para ampliar o mercado de polihalita na China, mostrando que, mesmo depois de reduzir sua presença no setor de níquel brasileiro, a mineradora mantém cooperação estratégica com o país asiático em áreas-chave para seu portfólio.

A Anglo American informou que a venda está alinhada com sua estratégia de priorizar investimentos em cobre, minério de ferro e nutrientes agrícolas.

Por sua vez, a MMG declarou que cumprirá todas as exigências regulatórias e destacou que o acordo “representa uma grande realização para empregados, comunidades locais e acionistas”.

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