Esse peixe da Amazônia tem uma reação surpreendente ao estresse

O tambaqui, de nome científico Colossoma macropomum, é o principal peixe amazônico cultivado no Brasil. Animal de água doce, o tambaqui pode chegar facilmente aos 30 quilos, e costuma mudar de cor quando se vê numa situação de estresse. 

O tambaqui costuma ser cultivado também em outros países como China, Vietnã, Indonésia e Malásia, mas, em termos de criação, o Brasil é maior produtor, atingindo cerca de 110 toneladas em 2022, segundo o IBGE. Também por isso, o tambaqui acaba por ser um tema de interesse de muitos pesquisadores.

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Por que o tambaqui muda de cor quando está estressado?

Fator herdado dos ancestrais e estresse são as duas causas principais para mudança de cor no tambaqui. (Imagem Vladimir Wrangel/Shutterstock)

O tambaqui tem um padrão muito específico de coloração da pele, caracterizado como um contra-sombreamento, que varia de acordo com o ambiente em que ele está inserido. E esse foi um dos focos de um estudo brasileiro publicado na revista Aquaculture, conduzido por pesquisadores da Unesp, em Jaboticabal, em parceria com a Embrapa.

Quando acontece essa mudança, o lado dorsal, ou seja, a parte de cima permanece no tom habitual verde-oliva, enquanto o lado ventral, a parte de baixo, torna-se verde-escuro ou preto. 

Existem duas causas principais para a mudança de cor no peixe amazônico, a primeira delas é a mudança morfológica de longo prazo, ou seja, uma estratégia da seleção natural para camuflagem, sobrevivência ou adaptação ao ambiente ao longo do tempo. E a outra causa é a mudança fisiológica de cor por estímulos de curto prazo – ambientes em que o animal se sinta ameaçado ou com pouco espaço. 

“Esse processo é regulado tanto pelo sistema nervoso simpático, quanto pelo sistema endócrino que também está envolvido na resposta ao estresse em peixes. O cortisol é considerado o principal hormônio do estresse em peixes”, afirma o estudo.

Como a IA pode ajudar na detecção de estresse do peixe amazônico?

Durante a fase de reprodução do tambaqui, as fêmeas depositam os ovos no rio, posteriormente eles serão fertilizados pelos machos. (Imagem: Afanasiev Andrii/Shutterstock)

Investimentos em programas de melhoramento para espécies amazônicas tem recebido um grande enfoque nos últimos anos visando o bem-estar dos animais, bem como para garantir um aumento no desenvolvimento da aquicultura no Brasil.

Por isso, os pesquisadores da Unesp também criaram uma ferramenta que usa a inteligência artificial (IA) para avaliar o estresse do tambaqui. Os pesquisadores fotografaram 3.780 tambaquis, sendo 1.280 da Caunesp e 2.500 da Embrapa Pesca e Agricultura, em Palmas, no Tocantins. 

A partir daí, cada imagem foi sinalizada indicando a metade inferior do corpo – parte que deveria ser avaliada pelo software. Então, os pesquisadores treinaram um modelo de aprendizado profundo (deep learning) que identifica por meio do número de pixels pretos em relação aos brancos o nível de estresse dos tambaquis. 

Em um dos experimentos, seis tambaquis foram retirados de tanques de 200 metros quadrados em que estavam habituados e foram transferidos para outros bem menores – de 2 mil litros, com 85 centímetros de altura e 1,66 de diâmetro. Os peixes foram fotografados antes e depois do experimento.

Após dez dias, as fotografias desse período evidenciaram a diferença de coloração nos tambaquis, confirmando o potencial de mudança de cor quando os peixes são expostos a ambientes menores e mais confinados, que geram mais estresse. 

A ferramenta de IA pode ser uma alternativa importante para monitorar o estresse dos peixes cultivados, sendo um disparador de mudanças práticas, como reduzir o número de peixes por tanque, por exemplo. Os resultados podem ter impacto tanto para o aumento do bem-estar dos animais quanto para a seleção de exemplares mais tolerantes ao ambiente de cultivo.

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