A qualidade nutricional das merendas no Brasil tem caído e muitas vezes a desculpa está no preço — a principal explicação é que os lanches prontos reduzem custos da cadeia de produção. Um estudo recente, porém, mostrou que a escolha também é ruim do ponto de vista econômico.
Um artigo feito por pesquisadores da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e da Universidade de São Paulo (USP) mostra que refeições como base no clássico nacional arroz e feijão têm melhor desempenho na relação entre custo e qualidade nutricional do que lanches nas escolas brasileiras.
O estudo foi publicado na revista Cadernos de Saúde Pública nesta sexta-feira (19/9). Os resultados podem otimizar os recursos públicos para o combate à fome e à insegurança alimentar. O estudo avaliou 191 dias de alimentação no ano letivo de 2021. As avaliações ocorreram em escolas públicas de Morro da Fumaça, município em Santa Catarina.
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Para o estudo, foram considerados lanches os cardápios com pão, bolo, bolacha ou rosca como principal fonte de carboidrato. Normalmente são acompanhados por café, leite ou suco integral. Uma porção de fruta também faz parte da merenda.
Já as refeições são preparações que envolvem cozimento e produção mais elaborada. Elas demandam maior mão-de-obra e tempo para preparo. Arroz, feijão, macarrão e carnes são exemplos, acompanhados de saladas e uma porção de frutas.
A realização do estudo
Pesquisadores aplicaram a razão custo-efetividade ao relacionar o gasto monetário de cada dia de alimentação com os benefícios nutricionais, considerando que era preciso que o cardápio atendesse a pelo menos 20% das necessidades nutricionais dos alunos. O cálculo dos custos foi feito a partir das Autorizações de Fornecimento da Prefeitura Municipal.
Refeições obtiveram uma mediana de custo-efetividade superior à dos lanches. Apesar disso, os lanches não tiveram desempenho tão ruim do ponto de vista nutricional, o que surpreendeu os pesquisadores.
“Uma das explicações que encontramos para isso é que os lanches desse cardápio específico eram bastante variados e compostos por alimentos de boa qualidade, como sanduíches de carne ou frango com salada, leite com cacau ou café, suco integral sem açúcar, produtos da agroindústria familiar da região e boa oferta de frutas”, ressalta Daniele Botelho Vinholes, pesquisadora da UFCSPA e uma das autoras do artigo.
Os lanches apresentaram maior quantidade de carboidratos, gorduras, fibras alimentares, ferro, vitamina C, gorduras saturadas e açúcares de adição. As refeições, por sua vez, mostraram-se significativamente mais ricas em proteínas e gorduras insaturadas do que lanches, mas com maior quantidade de sódio e colesterol. Para as refeições, cardápios com maior qualidade nutricional também eram mais caros.
Qualidade nutricional do arroz e feijão
Alimentos como arroz e feijão, pilares da alimentação brasileira, são essenciais na dieta diária das crianças. A nutricionista Aline Maldonado F. de Alcântara, consultora da produtora de alimentos Josapar, explica que a combinação desses grãos oferece nutrientes que se complementam e têm propriedades essenciais para o desenvolvimento infantil. Eles são ricos em proteínas, carboidratos saudáveis, vitaminas do complexo B, fibras, ferro, zinco e outros minerais.
“Existe a ilusão da praticidade oferecida por lanches prontos, mas uma hora a conta chega. Vemos, hoje, crianças com sobrepeso e obesas, e ainda assim desnutridas. Para reverter esse cenário, o melhor caminho é oferecer diferentes tipos de carboidratos, proteínas, verduras, legumes e frutas”, destaca Aline.
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