O Comitê Consultivo de Práticas de Imunização (ACIP), ligado ao Centro de Controle de Doenças e Prevenção dos EUA (CDC), cedeu à pressão do governo Trump e votou para restringir a recomendação de diversas vacinas nos EUA.
Na noite dessa sexta-feira (19/9) os conselheiros votaram para retirar a recomendação universal da vacina contra Covid-19, passando a indicar que as pessoas consultem um profissional de saúde antes de se imunizar a cada seis meses ou um ano, dependendo da faixa etária, como era a recomendação anterior.
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O novo guia recomenda que a “decisão individual com orientação do profissional de saúde”. A decisão foi unânime. A restrição quase foi maior ainda: em um país onde as consultas médicas são caras e difíceis de obter, a vacina de Covid-19 quase passou a ter exigência de receita. A proposta ainda mais restritiva empatou em 6 votos a 6 e foi derrotada pelo voto de minerva do presidente do comitê, Martin Kulldorff.
Os membros também recomendaram que os provedores de saúde comuniquem os riscos conhecidos da vacina antes de fazerem a aplicação. Segundo o comitê, a intenção é melhorar a transparência quanto a efeitos adversos e incertezas dos imunizantes.
Alterações nas vacinas de crianças
ACIP ainda votou pela restrição de outros imunizantes nos últimos dias. Na quinta-feira (18/9) o órgão decidiu restringir a apenas maiores de 4 anos a aplicação de uma dose combinada MMRV (sarampo, caxumba, rubéola e catapora).
O comitê indicou que o risco de febres altas associadas à aplicação justificam que entre menores desta idade, seja aplicada a vacina dividida em uma contra a tríplice viral e outra contra o catapora. Como os imunizantes são todos pagos nos EUA, restringir os imunizantes combinados diminui muito a cobertura.
Os membros chegaram até a iniciar uma discussão para impedir a vacinação de hepatite B em recém-nascidos, mas com os apelos fortes da comundiade médica, esta votação foi adiada.
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Diante do cenário de pandemia e da ampliação da dose de reforço, algumas pessoas ainda se perguntam qual é a importância da terceira dose da vacina contra a Covid-19
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A dose de reforço deve ser administrada com um intervalo mínimo de quatro meses após o indivíduo completar o esquema vacinal inicial. A aplicação extra serve para aumentar a quantidade de células de memória e fortalecer, ainda mais, os anticorpos que elas produzem
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Especialistas destacam que uma das principais medidas proporcionadas pela dose de reforço consiste na ampliação da resposta imune. A terceira dose ocasiona o aumento da quantidade de anticorpos circulantes no organismo, o que reduz a chance de a pessoa imunizada ficar doente
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Aos idosos e aos imunossuprimidos, a dose de reforço amplia a efetividade da imunização, uma vez que esses grupos não desenvolvem resposta imunológica adequada
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Outra medida importante é a redução da chance de infecção em caso de novas variantes. O anticorpo promovido pela vacina é direcionado para a cepa que deu origem à fórmula e, nesse processo, as pessoas também produzem anticorpos que possuem diversidade. Quanto maior o alcance das proteínas que defendem o organismo, maior é a probabilidade que alguns se liguem à variante nova
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O diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e membro do Comitê Técnico Assessor do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde, Renato Kfouri afirma que o esquema de mistura de vacinas de laboratórios diferentes é uma
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Um estudo conduzido pela University Hospital Southampton NHS Foundation Trust, no Reino Unido, mostrou que pessoas que receberam duas doses da AstraZeneca tiveram um aumento de 30 vezes nos níveis de anticorpos após reforço da vacina da Moderna, e aumento de 25 vezes com o reforço da Pfizer
Arthur Menescal/Especial Metrópoles8 de 9
As reações à dose de reforço são semelhantes às duas doses anteriores. É esperado que ocorram sintomas leves a moderados, como cansaço excessivo e dor no local da injeção. Porém, há também relatos de sintomas que incluem vermelhidão ou inchaço local, dor de cabeça, dor muscular, calafrios, febre ou náusea
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Vale ressaltar que o uso de três doses tem o principal objetivo de diminuir a quantidade de casos graves e o número de hospitalizações por Covid-19
Vinícius Schmidt/Metrópoles
Reações médicas e autoridades
Grupos médicos criticaram as decisões, principalmente tendo em vista a composição do painel ACIP. O órgão recebeu uma intervenção direta do secretário de saúde dos EUA, Robert F. Kennedy Jr., e abriu cadeiras para uma série de cientistas com menos formação e que têm histórico de ceticismo em relação às vacinas. Kennedy já comparou a imunização obrigatória de Covid, em 2021, no auge da pandemia, a viver em um regime nazista.
Um comunicado do presidente do diretor do Centro de Pesquisa e Política de Doenças Infecciosas (CIDRAP) da Universidade de Minnesota, criticou duramente a decisão do comitê do CDC.
“Em suas decisões, os membros do comitê ignoraram, mal interpretaram ou descaracterizaram as informações dos relatórios de saúde pública. Em suas manifestações, citaram dados próprios que não podem ser verificados e também pareciam frequentemente desconhecer as leis e regulamentações que regem a administração de vacinas e a prestação de serviços de saúde nos EUA”, afirmou.
Osterholm disse que a decisão revela “substituição de sistema baseado em evidência por política baseada em ideologia”. Ele teme queda na cobertura vacinal e aumento de doenças preveníveis.
Associações pediátricas entraram com ação judicial contra a diretriz que remove recomendação da vacina de Covid-19 para grávidas e crianças saudáveis, decisão tomada em maio. Elas alegam falha de procedimento e falta de base científica para essa retirada.
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