IA pode ajudar na prevenção de doenças; entenda como

Um grupo de pesquisadores da Europa desenvolveu um modelo de Inteligência Artificial capaz de antecipar o risco de mais de mil doenças a partir da análise de registros médicos em larga escala.

A pesquisa, publicada na revista científica Nature, usou dados de 400 mil participantes do UK Biobank, no Reino Unido, e de 1,9 milhão de pacientes do Registro Nacional de Saúde da Dinamarca. O estudo é considerado um dos mais amplos já feitos sobre o uso de IA para prever a evolução de doenças humanas (Nature, 2025).

O que a tecnologia consegue prever

A ferramenta foi desenhada para funcionar de maneira parecida com modelos de linguagem, como os usados em aplicativos de texto, mas aplicada ao histórico médico.

Cada diagnóstico, informação de estilo de vida e intervalo de tempo entre eventos de saúde é tratado como parte de uma sequência. Assim, o algoritmo aprende padrões e calcula a probabilidade de surgimento de determinadas condições.

Os resultados foram especialmente eficazes para doenças com progressão bem definida, como alguns tipos de câncer, infartos e septicemia. 

Já em problemas de evolução mais variável, como transtornos mentais ou complicações durante a gravidez, a precisão foi menor.

IA pode ajudar na detecção de doenças. Foto: FreePik

Resultados

O sistema conseguiu calcular riscos muito diferentes dentro de um mesmo grupo populacional. Entre homens de 60 a 65 anos, o risco anual de ataque cardíaco variou de 4 em cada 10 mil até 1 em cada 100, dependendo de fatores como estilo de vida e diagnósticos prévios. Esses valores se confirmaram quando comparados aos casos observados na prática.

Entre mulheres da mesma faixa etária, as probabilidades foram menores, mas mostraram distribuição semelhante. Esses dados reforçam que a IA pode funcionar como uma espécie de “previsão do tempo” para a saúde: não garante certezas, mas indica cenários de maior ou menor risco.

Limitações

Os pesquisadores reconhecem que a ferramenta ainda não pode ser usada em consultórios ou hospitais. Por enquanto, o modelo serve como recurso de pesquisa para entender a progressão das doenças, simular cenários de saúde pública e avaliar o impacto de hábitos de vida na prevenção.

Entre as limitações, está o viés das populações estudadas.

O UK Biobank, por exemplo, é formado majoritariamente por adultos brancos de 40 a 60 anos, o que não reflete a diversidade étnica e social. Além disso, o desempenho é menos confiável em condições médicas altamente variáveis.

Privacidade em foco

O estudo também reforçou a importância da segurança dos dados. No Reino Unido, os participantes deram consentimento para o uso das informações. Na Dinamarca, os dados foram analisados em sistemas virtuais fechados, que não permitem transferência para fora do país.

Os especialistas acreditam que, em alguns anos, modelos desse tipo poderão ajudar a personalizar atendimentos médicos, antecipar necessidades de pacientes e orientar estratégias de prevenção em larga escala. Embora ainda seja uma prova de conceito, o estudo abre caminho para um novo olhar sobre como prever e lidar com doenças antes que os sintomas apareçam.

Resumo: 

Um estudo publicado na revista Nature mostrou que a inteligência artificial pode prever riscos de mais de mil doenças com até 20 anos de antecedência. Testado em 2,3 milhões de pessoas do Reino Unido e da Dinamarca, o modelo funciona como uma previsão de saúde, mas ainda não está pronto para uso clínico. Pesquisadores destacam o potencial da tecnologia para transformar a prevenção de doenças em escala global.

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