Governo Lula rebate Trump: “paracetamol não causa autismo”

O Ministério da Saúde divulgou, nesta terça-feira (23), um comunicado alertando que as informações que relacionam autismo ao uso de paracetamol são “infundadas”. O aviso ocorre um dia depois da fala do presidente dos EUA, Donald Trump, de que o consumo do remédio durante a gravidez “pode ​​estar associado a um risco muito maior de autismo”.

“O anúncio de que autismo é causado pelo uso de paracetamol na gestação pode causar pânico e prejuízo para a saúde de mães e filhos, inclusive, com a recusa de tratamento em casos de febre e dor, além do desrespeito às pessoas que vivem com Transtorno do Espectro Autista e suas famílias”, diz a nota.

Informações que relacionam autismo ao uso de paracetamol são “infundadas”, diz governo brasileiro (Imagem: george martin studio/Shutterstock)

O governo Lula reforçou que o paracetamol foi amplamente estudado, com evidências robustas de sua segurança e eficácia. E destacou que o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece acolhimento das famílias e linha de cuidado para pessoas com TEA, com foco no diagnóstico e intervenção precoce, seguindo evidências científicas.

“O Brasil busca reverter os prejuízos causados pelo negacionismo, que impactou na adesão da população às vacinas em um país que já foi referência mundial neste tema. O combate à desinformação é uma batalha cultural e política e um pilar fundamental na construção de um novo SUS capaz de responder aos desafios da atualidade”, diz a nota.

Brasil não está sozinho

No mesmo dia da declaração de Trump, o Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas (ACOG, na sigla em inglês) emitiu um comunicado afirmando que as falas não são apenas preocupantes para os médicos, mas, também, “irresponsáveis” ​​quando se considera a mensagem prejudicial e confusa que transmitem às pacientes grávidas;

“O anúncio não é respaldado por evidências científicas e simplifica, perigosamente, as muitas e complexas causas dos problemas neurológicos em crianças. É altamente preocupante que nossas agências federais de saúde estejam dispostas a fazer um anúncio que afetará a saúde e o bem-estar de milhões de pessoas sem o respaldo de dados confiáveis”, disse Steven J. Fleischman, presidente da ACOG;

A entidade explicou que o paracetamol é uma das poucas opções disponíveis para pacientes grávidas no tratamento da dor e febre, que podem ser prejudiciais à gestante quando não tratadas;

As condições que as pessoas usam para tratar o paracetamol durante a gravidez são muito mais perigosas do que quaisquer riscos teóricos e podem gerar morbidade grave e mortalidade para a gestante e o feto”, diz a nota.

Paracetamol é uma das poucas opções disponíveis para pacientes grávidas no tratamento da dor e febre (Imagem: Prostock-Studio/iStock)

No Reino Unido, a Sociedade Nacional do Autismo classificou a fala de Trump como alarmista. “Isso é perigoso, é anticientífico e irresponsável. O presidente Donald Trump está propagando os piores mitos das últimas décadas. Essa pseudociência perigosa está colocando mulheres grávidas e crianças em risco e desvalorizando pessoas autistas”, disse Mel Merritt, Chefe de Políticas e Campanhas da entidade.

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Em busca do diagnóstico precoce do autismo

No Brasil, a estimativa é que 1% da população viva com Transtorno do Espectro Autista, sendo que 71% apresenta também outras deficiências. Com o objetivo de promover autonomia e interação social futura, o Ministério da Saúde atualizou as diretrizes para cuidados dessas pessoas.

O documento orienta que os profissionais da atenção primária façam o teste de sinais de autismo em todas as crianças entre 16 e 30 meses de idade como parte da rotina de avaliação do seu desenvolvimento. A expectativa é que as intervenções e estímulos a esses pacientes ocorram antes mesmo do diagnóstico fechado.

No SUS, questionário é usado para identificar sinais precoces do autismo (Imagem: vejaa/iStock)

A triagem é feita através do M-Chat, um questionário já está disponível na Caderneta Digital da Criança e no prontuário eletrônico E-SUS. O SUS também oferece o Projeto Terapêutico Singular (PTS), que garante um plano de tratamento individualizado construído entre equipes multiprofissionais e famílias.

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