Novo remédio protege barreira cerebral e pode ajudar no Alzheimer

O Alzheimer continua sendo um dos maiores desafios da medicina moderna. Estima-se que quase 10 milhões de pessoas sejam diagnosticadas com algum tipo de demência todos os anos, e os tratamentos atuais possuem eficácia limitada.

Agora, uma nova abordagem testada em camundongos traz esperança ao focar em outro alvo, que envolve a inflamação no cérebro e a proteção da barreira hematoencefálica. Desenvolvido por pesquisadores da Case Western Reserve University, nos Estados Unidos, o composto chamado SW033291 age bloqueando uma enzima do sistema imunológico conhecida como 15-PGDH.

O que é o Alzheimer?

O Alzheimer é uma doença que afeta o funcionamento do cérebro de forma progressiva, prejudicando a memória e outras funções cognitivas.
Ainda não se sabe exatamente o que causa o problema, mas há indícios de que ele esteja ligado à genética.
É o tipo mais comum de demência em pessoas idosas e, segundo o Ministério da Saúde, responde por mais da metade dos casos registrados no Brasil.
O sinal mais comum no início é a perda de memória recente. Com o avanço da doença, surgem outros sintomas mais intensos, como dificuldade para lembrar de fatos antigos, confusão com horários e lugares, irritabilidade, mudanças na fala e na forma de se comunicar.

A pesquisa, publicada na revista científica PNAS em 21 de maio, mostrou que, ao inibir a enzima, foi possível preservar a barreira hematoencefálica, evitar a degeneração do tecido cerebral e manter intactas as funções cognitivas dos animais mesmo após lesões traumáticas no cérebro.

Proteção para o cérebro

A barreira hematoencefálica é uma espécie de filtro que protege o cérebro contra substâncias potencialmente perigosas presentes no sangue, como toxinas, bactérias e vírus. Quando essa barreira se rompe, como pode acontecer após um traumatismo craniano ou durante o avanço de doenças neurodegenerativas, as células cerebrais ficam mais vulneráveis a danos.

Os pesquisadores identificaram que a enzima 15-PGDH aparece em níveis elevados justamente em situações de envelhecimento, Alzheimer e lesões cerebrais, tanto em camundongos quanto em humanos. Essa enzima, produzida por células de defesa do corpo (as células mieloides), parece estar diretamente envolvida na deterioração da barreira.

“Descobrir que o medicamento bloqueia a inflamação cerebral e protege a barreira hematoencefálica foi uma descoberta nova e empolgante”, afirmou o patologista Sanford Markowitz, um dos autores do estudo, em comunicado.

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Alzheimer é uma doença degenerativa causada pela morte de células cerebrais e que pode surgir décadas antes do aparecimento dos primeiros sintomas

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Por ser uma doença que tende a se agravar com o passar dos anos, o diagnóstico precoce é fundamental para retardar o avanço. Portanto, ao apresentar quaisquer sintomas da doença é fundamental consultar um especialista

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Apesar de os sintomas serem mais comuns em pessoas com idade superior a 70 anos, não é incomum se manifestarem em jovens por volta dos 30. Aliás, quando essa manifestação “prematura” acontece, a condição passa a ser denominada Alzheimer precoce

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Na fase inicial, uma pessoa com Alzheimer tende a ter alteração na memória e passa a esquecer de coisas simples, tais como: onde guardou as chaves, o que comeu no café da manhã, o nome de alguém ou até a estação do ano

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Desorientação, dificuldade para lembrar do endereço onde mora ou o caminho para casa, dificuldades para tomar simples decisões, como planejar o que vai fazer ou comer, por exemplo, também são sinais da manifestação da doença

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Além disso, perda da vontade de praticar tarefas rotineiras, mudança no comportamento (tornando a pessoa mais nervosa ou agressiva), e repetições são alguns dos sintomas mais comuns

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Segundo pesquisa realizada pela fundação Alzheimer’s Drugs Discovery Foundation (ADDF), a presença de proteínas danificadas (Amilóide e Tau), doenças vasculares, neuroinflamação, falha de energia neural e genética (APOE) podem estar relacionadas com o surgimento da doença

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O tratamento do Alzheimer é feito com uso de medicamentos para diminuir os sintomas da doença, além de ser necessário realizar fisioterapia e estimulação cognitiva. A doença não tem cura e o cuidado deve ser feito até o fim da vida

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Resultados promissores, mas ainda iniciais

No experimento, camundongos que receberam o novo medicamento após sofrerem lesões cerebrais não apresentaram os danos típicos da neurodegeneração. “A cognição e a capacidade de memória foram completamente preservadas”, destacou o neurocientista Andrew Pieper, também coautor do estudo.

Além disso, os níveis de proteína beta-amiloide — principal alvo de diversos tratamentos atuais — permaneceram os mesmos, indicando que a ação do novo fármaco se dá por um caminho completamente diferente.

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A descoberta é importante porque medicamentos que atuam apenas na remoção de amiloide vêm mostrando resultados limitados na prática clínica. “A inibição da 15-PGDH oferece, portanto, uma abordagem completamente nova para o tratamento da doença de Alzheimer”, reforçou Markowitz.

A equipe ainda alerta que, embora os resultados em animais sejam promissores, mais pesquisas são necessárias antes que o tratamento possa ser testado e aplicado em humanos. Ainda assim, o estudo abre caminho para terapias mais eficazes e com menos efeitos adversos. “Nossas descobertas estabelecem a 15-PGDH como uma guardiã da integridade da barreira hematoencefálica, e um alvo atraente para proteção contra doenças neurodegenerativas”, concluem os autores no artigo.

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