Pesquisadores brasileiros encontraram pela primeira vez na Amazônia a versão pálida do mosquito da dengue. O Aedes aegypti var. queenslandensis foi identificado em Macapá, no Amapá.
O mosquito também é transmissor de doenças como dengue, zika, chikungunya e febre amarela. O mais curioso é que o inseto gosta de ambientes urbanos, quentes e secos, diferentemente da espécie predominante no Brasil, melhor adaptada a locais mais úmidos.
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O estudo foi liderado por pesquisadores do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Amapá (IEPA), em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), a Secretaria Municipal de Vigilância em Saúde de Macapá (SMVS) e o Laboratório de Saúde Pública do Amapá (Lacen/AP). A descoberta foi publicada na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, em agosto.
Para capturar 191 exemplares da variante pálida, foram instaladas armadilhas em uma floresta urbana macapaense entre 19 e 24 de dezembro do ano passado. A ocorrência desse tipo de mosquito é rara no Brasil, sendo registrada apenas uma vez em 2020 na cidade de Taubaté, em São Paulo.
A suspeita é que a versão pálida do mosquito tenha chegado ao Brasil pelo porto de Santana, a menos de 9,5 km do lugar de coleta e que frequentemente recebe embarcações internacionais. Outro tipo de Aedes amplamente difundido em Macapá chegou por lá em 2019: o Aedes albopictus.
Diferenças com o Aedes aegypti comum
O Aedes aegypti var. queenslandensis é encontrado com maior frequência em ambientes urbanos, quentes e secos, como localidades da Austrália e no Mediterrâneo. A principal diferença para o Aedes aegypti endêmico do Brasil está nas características físicas: ele possui padrão de escamas abdominais claras.
“Até o momento, não há evidências de que a variedade seja mais resistente a inseticidas ou transmita doenças com mais eficiência”, afirma o autor principal do estudo, José Ferreira Saraiva, em comunicado.
A armadilha foi posicionada em uma floresta urbana de Macapá
Por outro lado, o fato de um mosquito da dengue habituado a ambientes quentes e secos ser encontrado na Amazônia preocupa os cientistas. “Acende um alerta para possível ampliação da faixa de distribuição e da sazonalidade, especialmente durante a estação mais quente e seca do ano, já que esta é uma variedade mais resiliente a essas condições”, ressalta Saraiva.
Medidas para frear o avanço do mosquito
De acordo com os pesquisadores, é necessário a adoção de medidas urgentes para frear o avanço da variedade pálida no Brasil. O fortalecimento da vigilância de insetos em portos, aeroportos e áreas estratégicas, além de inspeções regulares e instalação de armadilhas são boas alternativas.
Enquanto isso, o papel da população se mantém o mesmo. “A medida mais eficaz continua sendo a eliminação sistemática de água parada ao menos uma vez por semana, mantendo quintais sem lixo ou entulho e guardando objetos sob cobertura”, ensina Saraiva. O uso de telas em portas e janelas, repelentes na pele e roupas de mangas compridas quando possível também é bem-vindo.
A equipe pretende aumentar a vigilância de insetos no porto de Santana e outras regiões de Macapá, incluindo coletas trimestrais e análises genéticas com o objetivo de identificar a origem da espécie no Brasil.
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