Entenda anomalia rara de bezerra que nasceu com dois rostos em SC

Um nascimento incomum chamou a atenção de moradores em Belmonte, no interior de Santa Catarina. Na madrugada de 25 de setembro, uma bezerra nasceu com dois rostos em uma propriedade rural. O filhote foi encaminhado para a Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc), onde seria estudado, mas não resistiu e morreu no dia seguinte.

O caso despertou curiosidade e levantou questionamentos sobre o que poderia ter causado essa anomalia tão rara. Segundo especialistas ouvidos pelo Metrópoles, a condição é conhecida como diprosopia, uma malformação congênita que ocorre nas primeiras semanas de formação do embrião.

Leia também

Brasil

Bezerra que nasceu com 2 rostos em SC será estudada: “Raro”

Brasil

Morre bezerra que nasceu com dois rostos em propriedade rural em SC

É o bicho!

Caso raro: égua surpreende ao dar à luz gêmeos idênticos e saudáveis

Brasil

Em caso raro, mula dá à luz uma égua no Paraná; entenda

O que é diprosopia?

A veterinária Patrícia Malard, professora da Universidade Católica de Brasília (UCB), explica que a diprosopia é uma duplicação craniofacial em que parte ou toda a face é reproduzida parcialmente.

“O animal pode apresentar desde estruturas faciais repetidas, como nariz ou boca, até dois rostos quase completos unidos. Trata-se de uma anomalia extremamente rara, tanto em animais quanto em humanos”, diz.

O médico veterinário Emanuel Faleiros, professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e especialista em produção e reprodução bovina, acrescenta que a alteração se enquadra na área da teratologia, que estuda malformações embrionárias.

“Esses defeitos surgem ainda no início do desenvolvimento, quando há falhas nos processos de diferenciação celular e formação das estruturas anatômicas do embrião”, explica.

Como a anomalia se forma

A diprosopia surge devido a alterações genéticas que afetam a via de sinalização da proteína Sonic Hedgehog (SHH), fundamental para organizar as estruturas da face. Quando essa via é desregulada, pode ocorrer a duplicação da linha média da cabeça.

“Essa desorganização pode acontecer por motivos genéticos, como mutações espontâneas, ou por fatores ambientais específicos”, detalha Patrícia.

Entre os fatores de risco estudados estão desequilíbrios nutricionais durante a gestação — como excesso ou deficiência de vitamina A e falta de ácido fólico —, além da exposição a substâncias tóxicas. “Apesar disso, a maioria dos casos descritos é considerada esporádica, sem causa ambiental claramente identificada”, completa.

Faleiros reforça que erros genéticos herdados da mãe ou do pai também podem contribuir. “Fatores hereditários, uso de medicamentos durante a gestação ou exposição a agentes agressores podem aumentar as chances de falhas no desenvolvimento embrionário”, afirma.

Chances de sobrevivência são pequenas

Casos de diprosopia geralmente são incompatíveis com a vida, já que as duplicações faciais costumam vir acompanhadas de malformações internas, especialmente no cérebro e nas vias respiratórias.

“A maior parte dos filhotes nasce morta ou sobrevive por poucas horas. Há relatos isolados de animais que viveram por algum tempo, mas são exceções muito raras”, aponta a veterinária.

Faleiros explica que as alterações anatômicas não se limitam ao rosto. “Esses indivíduos frequentemente apresentam problemas no sistema nervoso, digestivo e circulatório, o que torna a sobrevivência extremamente difícil”, afirma.

Como reduzir o risco de malformações

Embora muitas malformações congênitas sejam imprevisíveis, os especialistas afirmam que boas práticas de manejo podem reduzir riscos. Entre as recomendações estão evitar consanguinidade, proteger as fêmeas gestantes de substâncias potencialmente tóxicas, manter alimentação equilibrada e utilizar programas de melhoramento genético responsáveis.

“É essencial garantir manejo sanitário e nutricional adequados, com insumos de origem segura e acompanhamento veterinário. Essas medidas ajudam a preservar a saúde do rebanho e diminuir a ocorrência de defeitos congênitos”, finaliza Faleiros.

Siga a editoria de Saúde e Ciência no Instagram e fique por dentro de tudo sobre o assunto!