Entenda como formigas conseguem carregar até 50 vezes o próprio peso

As formigas são conhecidas por transportar objetos muito maiores que o próprio corpo. Essa força não está ligada a uma única estrutura corporal, mas sim a um conjunto de características biológicas e comportamentais que garantem vantagens a esses insetos.

A força elevada se deve principalmente à sua anatomia, mas o trabalho coletivo, a divisão de funções e a organização social são algumas das estratégias que também permitem que elas sobrevivam em diferentes ambientes e sejam tão abundantes nos ecossistemas.

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O que explica a força das formigas

A biomecânica é o primeiro fator que ajuda a entender a resistência das formigas. Por serem muito pequenas, a relação entre massa e musculatura é diferente em relação a animais maiores. O corpo delas concentra mais músculos proporcionalmente, o que aumenta a força relativa.

Além disso, sofrem menos com a ação da gravidade, o que favorece a capacidade de transportar objetos pesados em comparação ao tamanho. Outro elemento importante é o exoesqueleto de quitina, uma estrutura rígida e leve que funciona como uma espécie de armadura externa, protegendo os órgãos internos das formigas.

Esse revestimento distribui melhor a força, impede que o corpo colapse durante o esforço e ainda ajuda a economizar energia. Somado a isso, o tórax concentra fibras musculares que são adaptadas para movimentos rápidos e intensos, o que torna o corpo otimizado para tarefas como cortar, cavar e carregar.

“A leveza do corpo e a coordenação entre patas aumentam a eficiência. Diferente de animais maiores, elas não precisam sustentar grandes volumes, o que favorece a força relativa. Tudo isso as torna verdadeiras operárias biomecânicas”, explica Sérgio Bocalini, biólogo da Associação dos Controladores de Vetores e Pragas Urbanas (APRAG) e diretor do Sindicato das Empresas de Controle de Vetores e Pragas Urbanas.

Trabalho em equipe

Embora a força individual seja notável, o trabalho em conjunto é o que torna as formigas tão eficientes. As colônias funcionam de maneira organizada e cada indivíduo exerce uma função específica. A cooperação permite que obstáculos muito maiores sejam superados com facilidade.

A comunicação entre as formigas ocorre principalmente por feromônios, substâncias químicas liberadas no ambiente que orientam as demais. Assim, elas conseguem sincronizar movimentos e se coordenar para transportar alimentos volumosos, abrir caminhos ou defender a colônia.

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Em muitas espécies, existe ainda uma divisão de tarefas: algumas formigas se dedicam apenas à defesa, enquanto outras se especializam em corte ou transporte, aumentando a eficiência do grupo.

Diferenças entre espécies

Nem todas as formigas apresentam a mesma capacidade física. Algumas são mais rápidas, outras mais fortes. As cortadeiras, por exemplo, podem carregar até 50 vezes o próprio peso corporal. Já espécies como a Paratrechina longicornis, além da força, também são muito rápidas.

Marcello Lasneaux, professor de biologia da Heavenly International School, explica que há diferenças de comportamento ligadas à força entre espécies de formigas que vivem em ambientes tropicais e as que habitam regiões mais frias.

“As formigas tropicais tendem a ser maiores e mais fortes, individual e coletivamente. As pressões evolutivas e a boa oferta de recursos ambientais tanto em massa quanto em disponibilidade o ano inteiro são explicações para a seleção desses animais. Entretanto, nos trópicos, como a vida é muito diversa, também aumentam os parasitas, os competidores e predadores, outra força seletiva importante para a diferença corporal entre as espécies”, detalha.

Essa diferença ocorre porque as condições ambientais influenciam no tamanho e na resistência das espécies. Em regiões tropicais, onde há alimento disponível durante todo o ano, as formigas conseguem se desenvolver mais e manter colônias maiores.

Ao mesmo tempo, a diversidade de inimigos naturais nesses ambientes faz com que precisem ser mais fortes e, em alguns casos, mais agressivas. Já em áreas frias, onde os recursos são mais limitados, as espécies tendem a ser menores e menos robustas.

Estratégia de sobrevivência

O hábito de carregar alimentos muito maiores do que o corpo é uma forma de garantir a sobrevivência da colônia. Esse comportamento permite formar reservas para períodos de escassez e manter o fornecimento de recursos para todos os indivíduos, se caracterizando como uma estratégia de sobrevivência fundamental.

Além disso, a organização no transporte e no armazenamento torna as colônias mais resilientes diante de desafios ambientais. A estratégia coletiva é um dos principais motivos que explicam a ampla distribuição das formigas pelo mundo e sua presença em ecossistemas tão diversos.

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