A inteligência artificial (IA) pode começar a ocupar espaço em laboratórios de reprodução assistida e mudar a forma como a fertilização in vitro (FIV) é conduzida. A comunidade científica discute de que forma os algoritmos podem apoiar decisões médicas e aumentar as chances de gravidez sem substituir a análise clínica. Na prática, a IA pode ser usada em várias etapas do processo.
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Segundo o médico especialista em reprodução assistida Emerson Barchi Cordts, existem softwares em aparelhos de ultrassom que indicam o melhor momento para a coleta dos óvulos, sistemas que analisam imagens de embriões e dispositivos capazes de selecionar os espermatozoides mais promissores.
Também existem programas que avaliam a qualidade dos óvulos coletados, comparando-os a grandes bancos de dados para estimar a probabilidade de gerar uma gestação. “A avaliação feita com auxílio da IA é mais precisa e menos sujeita a falhas do que a observação humana isolada”, explica Cordts.
Outro recurso são as incubadoras inteligentes, equipadas com câmeras que monitoram continuamente os embriões em desenvolvimento. Os dados são processados por algoritmos que ranqueiam quais deles têm maior potencial de sucesso.
Para o embriologista Ivan Yoshida, esse é um exemplo prático de como a tecnologia pode ajudar. “A IA é capaz de avaliar, por meio de imagens, a qualidade dos embriões e estimar suas chances de implantação. Assim, auxilia os embriologistas a selecionar os que oferecem maior chance de gestação bem-sucedida”, diz.
Além da seleção de óvulos, espermatozoides e embriões, a IA também pode apoiar a personalização dos tratamentos. O sistema cruza informações como idade da paciente, histórico médico e exames hormonais, ajudando a indicar protocolos mais adequados para cada caso.
“A tendência é que a tecnologia contribua para ajustar doses de medicamentos, prever a necessidade de novos ciclos e indicar estratégias mais seguras e eficazes”, reforça Yoshida.
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Apesar do entusiasmo, especialistas lembram que ainda é cedo para falar em resultados definitivos. Segundo Cordts, o consenso clínico precisa de tempo e de estudos mais amplos. “A experiência precisa ser compartilhada e discutida. Algumas tecnologias se consolidam, outras acabam se mostrando irrelevantes. Estamos vivendo esse período de avaliação”, afirma.
A recomendação é que a IA seja vista como ferramenta de apoio, nunca como substituta da sensibilidade e da análise do médico. Outro desafio é o custo: o investimento em equipamentos, softwares e treinamento ainda limita a adoção em larga escala.
A nova tecnologia será um dos pontos debatidos no Congresso Brasileiro de Reprodução Assistida (CBRA) 2025, em São Paulo. O evento, segundo os organizadores, será uma oportunidade de ampliar o debate e democratizar a ciência em torno do uso responsável da inteligência artificial.
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