Bactéria essencial à saúde humana desafia o espaço e aumenta chances de viver em Marte

Um estudo do Instituto Real de Tecnologia de Melbourne (RMIT), na Austrália, revelou que esporos da bactéria Bacillus subtilis, um microrganismo vital para a saúde humana, são capazes de sobreviver às condições extremas de um lançamento espacial, microgravidade e reentrada na atmosfera terrestre. 

Essa descoberta, publicada no periódico Nature Partner Journals Microgravity na segunda-feira (6), é um passo crucial para viabilizar missões de longa duração a Marte, garantindo o suporte biológico necessário para a saúde dos astronautas.

Em resumo:

Esporos da bactéria Bacillus subtilis demonstraram resiliência notável a forças extremas de lançamento, microgravidade e reentrada espacial;

A sobrevivência dessas bactérias é fundamental para a saúde dos astronautas, auxiliando na manutenção do sistema imunológico, saúde intestinal e circulação sanguínea em missões de longa duração;

O experimento utilizou um foguete de sondagem para levar as bactérias à beira do espaço, simulando as condições de uma viagem interplanetária;

As descobertas abrem portas para o desenvolvimento de sistemas de suporte à vida mais eficientes e para inovações biotecnológicas tanto no espaço quanto na Terra.

Foguete de sondagem M15 59, usado para lançar as bactérias ao espaço, posicionado na plataforma de montagem. Crédito: Gail Iles/RMIT

Pesquisa traz respostas sobre a resistência da bactéria a situações extremas

A colonização de Marte representa um dos maiores desafios da humanidade, e a manutenção da saúde dos astronautas durante a longa jornada tem sido uma preocupação central.

Desde a década de 1970, sabemos que humanos podem passar períodos curtos no espaço, mas uma missão de anos ao Planeta Vermelho exige um planejamento biológico muito mais robusto. 

Estudos anteriores (como este de 2023 e este de fevereiro deste ano) já testaram microrganismos como o Bacillus subtilis, que são vistos como componentes essenciais de sistemas de suporte à vida, capazes de sustentar a saúde humana em um ambiente marciano por décadas.

No entanto, a dúvida central residia em saber se essas bactérias benéficas suportariam a radiação intensa do espaço profundo e as alterações comportamentais induzidas pela microgravidade, fatores que podem danificar seu DNA e comprometer a saúde dos tripulantes. Esta nova abordagem oferece uma resposta encorajadora.

Para testar a resiliência do Bacillus subtilis, os esporos da bactéria foram embarcados em um foguete de sondagem e lançados até a borda do espaço. Durante a ascensão, eles suportaram forças de até 13g (treze vezes a gravidade terrestre), seguidas por mais de seis minutos de microgravidade a cerca de 260 km de altitude. A fase de reentrada foi igualmente desafiadora, com o foguete enfrentando forças de desaceleração de até 30g, enquanto girava a impressionantes 220 vezes por segundo.

Análise morfológica dos esporos: a–b – Esporos de bactérias cultivados na Terra; c–d – Esporos que foram enviados ao espaço e voltaram. Eles têm aparência muito parecida com os da Terra; e – O tamanho dos esporos foi medido em imagens de microscópio, e não houve diferença entre os dois grupos; f – Ambos germinaram normalmente em laboratório, mostrando que o voo espacial não afetou o crescimento das bactérias. Crédito: Yang, E., Dhanaraj, JJ, Tharushi Perera, PG et al. 

Após toda essa provação, as bactérias não apenas cresceram normalmente, mas também mantiveram sua estrutura original. “Nossa pesquisa mostrou que um tipo importante de bactéria para nossa saúde pode suportar mudanças rápidas de gravidade, aceleração e desaceleração”, afirmou Elena Ivanova, coautora do estudo, em um comunicado. Segundo ela, “isso ampliou nossa compreensão dos efeitos dos voos espaciais de longo prazo sobre os microrganismos que vivem em nossos corpos e nos mantêm saudáveis”.

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Objetivo é estabelecer uma presença humana saudável e duradoura em Marte

As descobertas têm implicações imediatas para o desenvolvimento de sistemas de suporte à vida mais eficazes para astronautas. Além disso, as empresas farmacêuticas agora dispõem de dados de base valiosos para conduzir experimentos de ciências biológicas em ambientes de microgravidade. 

“Ao garantir que esses micróbios possam suportar alta aceleração, quase ausência de peso e desaceleração rápida, podemos dar melhor suporte à saúde dos astronautas e desenvolver sistemas sustentáveis ​​de suporte à vida”, disse Gail Iles, especialista em ciências espaciais do RMIT.

Concepção artística retrata astronautas e habitats humanos em Marte. Crédito: JPL/NASA

A equipe também destaca que o conhecimento sobre os limites da sobrevivência microbiana pode impulsionar inovações biotecnológicas na Terra, auxiliando no desenvolvimento de novos tratamentos antibacterianos e na luta contra bactérias resistentes a antibióticos.

O sucesso do Bacillus subtilis em suportar as rigorosas condições de um lançamento espacial real estabelece uma base sólida para futuras pesquisas. Este experimento inicial abre caminho para estudos com organismos mais complexos e nos aproxima da possibilidade de estabelecer uma presença humana saudável e duradoura em Marte. 

A equipe de pesquisadores agora busca mais financiamento para expandir os experimentos de ciências biológicas em microgravidade, com o objetivo de aprofundar ainda mais nosso entendimento sobre a vida em ambientes extremos e suas aplicações, tanto no espaço quanto aqui, em nosso planeta.

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