Com a crescente de casos de intoxicação por metanol por consumo de bebidas alcoólicas adulteradas no Brasil, pesquisadores da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) criaram uma tecnologia para detectar a presença de metanol em bebidas de maneira rápida e simples: um canudo que muda de cor ao ter contato com a substância.
Dados mais recentes do Ministério da Saúde revelam que foram registradas ao menos 259 notificações, sendo 29 casos confirmados. São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul são os únicos estados com pacientes infectados pelo produto tóxico.
“A tecnologia é extremamente simples: o canudo contém reagentes químicos que, em contato com a bebida, geram um produto que tem cor destacada. É só colocar o canudo no recipiente com a bebida e, por capilaridade, o líquido entra em contato com os reativos, detectando ou não o metanol”, explica um dos autores envolvidos na pesquisa, Germano Veras, professor do Departamento de Química da UEPB, em entrevista ao Metrópoles.
Além do canudo, outra tecnologia estava sendo desenvolvida desde 2023: um equipamento que emite luz infravermelha sobre a garrafa lacrada e agita as moléculas. Os dados são coletados por um sistema que interpreta as informações e detecta substâncias incomuns na composição original do produto, desde metanol até a adição de água para fazer o produto render mais.
Testado em cachaças na Paraíba, o método identifica modificações em pouco tempo, com taxa de acerto de 97%. Todo o processo é feito sem a utilização de produtos químicos.
Previsão da chegada do canudo
Atualmente, o projeto está na fase de ensaio para produção em larga escala — o próximo passo é testar oficialmente o método, de forma controlada, comprovando sua eficácia e segurança. O crescimento de casos de intoxicação por metanol aceleraram os trabalhos.
Assim que aprovados, a ideia é que o equipamento de luz infravermelha e o canudo sejam distribuídos primeiramente a órgãos fiscalizadores. Em seguida, os planos são ampliar o acesso aos canudos para a população.
“O equipamento de luz infravermelha tem a finalidade de atender órgãos fiscalizadores, porque não é um aparelho barato para a população. Já o canudo é mais acessível para todos e vai fazer aquele trabalho de formiguinha”, diz Germano.
O cientista afirma que os pesquisadores estão em contato direto com o Governo Federal, através do Ministério da Saúde e do Ministério da Justiça. As negociações financeiras para aprovação e distribuição do método contam com o apoio da reitoria da universidade.
“A questão do canudo é proteger a saúde das pessoas, prioritariamente. Ao termos testes rápidos e baratos, poderemos ampliar o processo de microfiscalização, permitindo atender a todos. Assim, esperamos que esta tecnologia ajude a população”, ressalta o pesquisador.
Pesquisadores da UEPB realizam estudos para detectar substâncias em bebidas adulteradas desde 2023
Sintomas iniciais da intoxicação por metanol
Os primeiros indicativos começam a surgir de 12h a 24h após a ingestão da bebida adulterada. Entre os principais sintomas estão:
Dor de cabeça.
Náuseas e vômitos.
Dor abdominal.
Confusão mental.
Visão turva repentina ou cegueira.
Como o metanol age no organismo
Ao entrar na corrente sanguínea, o metanol é transformado em ácido fórmico, uma substância que diminui a oxigenação das células, as intoxica e ainda pode atacar o sistema nervoso central, rins e olhos.
Na saúde ocular, os altos níveis de toxicidade combinados com a falta de oxigênio impactam o nervo óptico, provocando neuropatia óptica, condição inflamatória que provoca dor ao movimentar os olhos, além de perda temporária de visão. Caso não seja tratada imediatamente, pode causar cegueira.
Segundo o oftalmologista Antônio Sardinha, o nervo óptico é como se fosse o “cabo” que leva as informações oculares até o cérebro. “Quando ele é danificado por toxinas, inflamações ou problemas de circulação, pode comprometer a visão de forma temporária ou definitiva”, explica o médico do Hospital de Olhos de Cuiabá (HOC), no Mato Grosso.
Já a intoxicação no sistema nervoso central pode ocasionar prejuízos sérios no fígado, rins, pâncreas e até no cérebro, podendo levar ao óbito.
Atualmente, o diagnóstico da condição depende de exames laboratoriais e testes específicos. Já para tratar a intoxicação, o uso rápido de antídotos, como fomepizol ou etanol farmacêutico, além de hemodiálise para acelerar a eliminação do metanol e de suas substâncias tóxicas produzidas, é essencial para a recuperação do paciente.
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