Cientistas desenvolveram, pela primeira vez, neurônios artificiais capazes de reproduzir quase exatamente o comportamento dos neurônios biológicos, incluindo a forma como emitem sinais elétricos, respondem a estímulos químicos e gastam energia.
O avanço foi descrito e publicado em 29 de setembro na revista Nature Communications e representa um passo importante para a criação de dispositivos que possam se comunicar de forma direta com o corpo humano.
Até agora, os neurônios artificiais disponíveis conseguiam simular a atividade elétrica de células nervosas, mas exigiam voltagens muito maiores do que as observadas em sistemas biológicos. Isso tornava inviável o contato direto com tecidos vivos.
Leia também
Condições neurológicas atingem 42% da população mundial, alerta OMS
Cérebro flex: estudo descobre que gordura é combustível dos neurônios
Câncer de pulmão usa neurônios para crescer e acelerar metástases
Exercitar os músculos pode fazer os neurônios crescerem 4 vezes mais
No novo estudo, os pesquisadores conseguiram ajustar o dispositivo para operar na mesma faixa de tensão e energia dos neurônios naturais, criando uma interface mais realista entre biologia e eletrônica.
Neurônios funcionais
O modelo criado combina um memristor — componente que imita a capacidade do cérebro de armazenar informações elétricas — com um circuito simples formado por resistores e capacitores.
Essa estrutura permitiu que o dispositivo produzisse pulsos elétricos de cerca de 120 milivolts, amplitude semelhante à dos potenciais de ação de um neurônio humano. Além disso, o gasto energético por disparo foi muito baixo, aproximando-se do consumo de uma célula nervosa verdadeira.
O estudo também mostrou que esses neurônios artificiais conseguem reagir a substâncias químicas externas, como íons de sódio e dopamina. Ao detectar mudanças nas concentrações dessas moléculas, o dispositivo altera automaticamente a frequência de seus disparos elétricos — uma característica central dos neurônios biológicos, que modulam sua atividade de acordo com o ambiente químico ao redor.
Em um dos experimentos, o grupo conectou o neurônio artificial a células cardíacas cultivadas em laboratório. O circuito conseguiu responder em tempo real aos sinais elétricos emitidos pelas células vivas, sincronizando sua atividade de forma autônoma.
Segundo os pesquisadores, isso demonstra o potencial de criar uma “ponte” entre circuitos eletrônicos e tecidos orgânicos, o que pode futuramente permitir a construção de próteses neurais, sensores médicos e sistemas híbridos capazes de interagir diretamente com o cérebro ou com outros órgãos.
Os autores destacam que o estudo ainda está em fase experimental e foi realizado apenas em condições controladas, fora do corpo. Serão necessários novos testes para avaliar a durabilidade e a segurança do dispositivo em ambientes biológicos complexos.
Ainda assim, o avanço é visto como um marco na engenharia neuromórfica — área que busca replicar o funcionamento do cérebro em sistemas eletrônicos de baixo consumo energético.
Se no futuro for possível conectar milhares desses neurônios artificiais entre si e a tecidos vivos, especialistas acreditam que será possível criar redes híbridas que combinem o poder de adaptação do cérebro humano com a velocidade e a precisão das máquinas.
Siga a editoria de Saúde e Ciência no Instagram e fique por dentro de tudo sobre o assunto!