No porão da Igreja Nossa Senhora da Glória, na cidade mineira de Juiz de Fora, o ar é tomado por um aroma inesperado de malte e cevada. É ali que funciona, há 130 anos, a Cervejaria Hofbauer, única cervejaria de convento totalmente artesanal do país. Mantida por religiosos redentoristas, o espaço segue receitas europeias originais de missionários holandeses desde sua fundação.

A produção começou quando os padres holandeses Mathias Tulkens e Francisco Lohmeyer trouxeram ao Brasil não só a fé redentorista, mas também o costume europeu de fabricar cerveja dentro dos mosteiros. Na Europa, a bebida era parte da rotina religiosa, uma tradição que foi adaptada pelos missionários às condições de Juiz de Fora, sem abrir mão da técnica e das receitas originais.

Uma tradição que nasceu da fé

O nome da cervejaria é uma homenagem a São Clemente Maria Hofbauer, sacerdote austríaco do século 17 e propagador da Congregação do Santíssimo Redentor. Canonizado em 1909, ele defendia que os conventos fossem autossuficientes e a Cervejaria Hofbauer segue à risca essa filosofia. Toda a renda das vendas é revertida para projetos sociais da Igreja da Glória.

Os primeiros lotes da cervejaria de 1894 eram preparados em caldeirões simples. Poucos anos depois, em 1907, chegaram as máquinas vindas da Holanda, que seguem em uso até hoje, num processo inteiramente manual, que respeita o tempo natural de fermentação e maturação. Atualmente, Taylor Bertoli é o mestre cervejeiro e responsável pela produção do local, coordenando uma pequena equipe que mantém a fábrica ativa e faz questão de seguir as receitas originais trazidas pelos fundadores.

A tradição foi interrompida algumas vezes por falta de religiosos com conhecimento técnico, mas nunca esquecida. Em 2009, o padre Flávio Leonardo Santos Campos restaurou as antigas máquinas e retomou a produção artesanal. Anos depois, o trabalho foi assumido pelo padre Jonas Pacheco Machado e, desde 2024, está sob os cuidados do irmão Taylor.

Estilos de cerveja

A produção, feita com ingredientes selecionados e equipamentos centenários, dá origem a sete estilos de cerveja artesanal. Cada rótulo leva semanas para ficar pronto e passa por um rigoroso controle de temperatura, que garante aroma, sabor e equilíbrio.

Entre os estilos está a Pilsen, clara e levemente turva, ela revela notas de malte e um toque cítrico. Já a Belgian Blond Ale, dourada e adocicada, destaca-se como a mais premiada da casa, tendo ganhado o primeiro lugar na categoria “belgian-style blonde ale” do Concurso Mineiro de Cerveja, que aconteceu em abril deste ano.

Há ainda a Belgian Pale Ale, de tom acobreado com notas de caramelo e sabor suave; a Dubbel, com aromas de passas e ameixas; e a Wassbier, feita com maltes de cevada e trigo, marcada pelo perfume de cravo e frutas maduras. Completam a carta a Session IPA, leve e refrescante, e a intensa Russian Imperial Stout, de corpo escuro e sabor tostado.

As garrafas contam com o slogan “A Cerveja do Convento” em seu rótulo, e são vendidas a partir de R$ 25 na biblioteca redentorista da igreja ou pelo site oficial, com entrega em todo o país. 

Visitas guiadas

Em 2024, o espaço foi aberto ao público e passou a integrar o programa “Caminhando pela História”, da Secretaria de Turismo de Juiz de Fora.

As visitas guiadas acontecem aos sábados, das 10h às 12h, e precisam ser agendadas pelo WhatsApp (+55 32 9906-4848). Mais do que um simples passeio, a experiência é uma imersão na história religiosa e da própria tradição cervejeira.

O roteiro começa pela igreja, segue até o porão onde estão as máquinas de 1907 e termina com uma degustação de dois rótulos da casa, servidos com quibe e pãezinhos de cevada.

Serviço 

Visitas Guiadas

Onde? Igreja Nossa Senhora da Glória – Av. dos Andradas, 855, Morro da Glória, Juiz de Fora (MG).

Quando? Aos sábados, mediante agendamento, para grupos de até 30 pessoas.

Quanto? R$ 65 por pessoa. Menores de 18 anos não pagam.

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