Estudo indica em quais partes do corpo o HIV se esconde

Pesquisadores da Western University e da University of Calgary, no Canadá, publicaram um novo estudo que lança luz sobre o mistério da persistência do HIV no organismo, mesmo quando controlado por terapia antirretroviral.

Eles descobriram que o HIV não se integra de forma aleatória no genoma das células infectadas, mas também adota padrões específicos para cada tipo de tecido — como sangue, cérebro e trato digestivo — o que permite ao vírus “se esconder” em zonas menos ativas do DNA, onde há pouca expressão de genes e menor ação do sistema imunológico.

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No cérebro, por exemplo, a pesquisa observou que o HIV prefere zonas do DNA que estão em “modo silencioso”, fazendo com que a célula infectada funcione quase normalmente, sem despertar atenção imunológica.

Essa característica ajuda a explicar por que, mesmo com o uso de medicamentos antirretrovirais que reduzem a carga viral a níveis indetectáveis, o vírus pode voltar a se manifestar se o tratamento for interrompido.

O estudo aponta que os diferentes tecidos do corpo não são apenas “reservatórios” genéricos, mas ambientes com microcaracterísticas que moldam a forma de persistência viral — imunidade local, atividade genética, metabolismo e microambiente são fatores que parecem influenciar como o HIV permanece.

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HIV é a sigla em inglês do vírus da imunodeficiência humana. O causador da aids ataca o sistema imunológico, responsável por defender o organismo de doenças. Os primeiros sintomas são muito parecidos com os de uma gripe, como febre e mal-estar. Por isso, a maioria dos casos passa despercebida

Arte Metrópoles/Getty Images2 de 13

A baixa imunidade permite o aparecimento de doenças oportunistas, que recebem esse nome por se aproveitarem da fraqueza do organismo. Com isso, atinge-se o estágio mais avançado da doença, a aids

Anna Shvets/Pexels3 de 13

Os medicamentos antirretrovirais (ARV) surgiram na década de 1980 para impedir a multiplicação do HIV no organismo. Esses medicamentos ajudam a evitar o enfraquecimento do sistema imunológico

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O uso regular dos ARV é fundamental para aumentar o tempo e a qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV e reduzir o número de internações e infecções por doenças oportunistas

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O tratamento é uma combinação de medicamentos que podem variar de acordo com a carga viral, estado geral de saúde da pessoa e atividade profissional, devido aos efeitos colaterais

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Em 2021, um novo medicamento para o tratamento de HIV, que combina duas diferentes substâncias em um único comprimido, foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)

Hugo Barreto/Metrópoles7 de 13

A empresa de biotecnologia Moderna, junto com a organização de investigação científica Iavi, anunciou no início de 2022 a aplicação das primeiras doses de uma vacina experimental contra o HIV em humanos

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O ensaio de fase 1 busca analisar se as doses do imunizante, que utilizam RNA mensageiro, podem induzir resposta imunológica das células e orientar o desenvolvimento rápido de anticorpos amplamente neutralizantes (bnAb) contra o vírus

Arthur Menescal/Especial Metrópoles9 de 13

Nos Estados Unidos, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças aprovou o primeiro medicamento injetável para prevenir o HIV em grupos de risco, inclusive para pessoas que mantém relações sexuais com indivíduos com o vírus

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O Apretude funciona com duas injeções iniciais, administradas com um mês de intervalo. Depois, o tratamento continua com aplicações a cada dois meses

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O PrEP HIV é um tratamento disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) feito especificamente para prevenir a infecção pelo vírus da Aids com o uso de medicamentos antirretrovirais

Joshua Coleman/Unsplash12 de 13

Esses medicamentos atuam diretamente no vírus, impedindo a sua replicação e entrada nas células, por isso é um método eficaz para a prevenção da infecção pelo HIV

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É importante que, mesmo com a PrEP, a camisinha continue a ser usada nas relações sexuais: o medicamento não previne a gravidez e nem a transmissão de outras doenças sexualmente transmissíveis, como clamídia, gonorreia e sífilis, por exemplo

Keith Brofsky/Getty Images

Do ponto de vista terapêutico, essa descoberta abre caminho para estratégias mais refinadas contra o HIV. Em vez de apenas focar na redução da carga viral no sangue, os cientistas agora consideram a necessidade de alcançar esses esconderijos específicos no corpo, possivelmente com medicamentos que atinjam áreas como o sistema nervoso central ou o trato gastrointestinal — onde o vírus parece adotar seu modo “furtivo”.

Além disso, a nova informação pode ajudar no desenvolvimento de abordagens combinadas que visem tanto ativar essas células latentes — para que o vírus seja exposto ao sistema imune ou a tratamentos — quanto eliminar ou silenciar os locais onde o vírus se esconde por longos períodos.

Embora esta ainda não seja a resposta completa para a cura do HIV, o estudo reforça que o combate ao vírus não é apenas uma questão de reduzir o número de partículas virais circulantes, mas também de entender e desbloquear os esconderijos internos nos tecidos do corpo.

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