O cérebro pode ter mais camadas de comunicação do que se pensava. Pesquisadores da Johns Hopkins University, nos Estados Unidos, descobriram uma forma de conexão entre neurônios até então desconhecida — finíssimas pontes físicas que ligam as ramificações das células.
Esse mecanismo, diferente das sinapses tradicionais, permite a passagem direta de íons, moléculas e até proteínas implicadas em doenças neurológicas. O achado, publicado na revista Science em 2 de outubro, amplia a compreensão sobre como os neurônios se comunicam e como certas patologias podem se propagar no cérebro.
As estruturas, chamadas de “nanotubos dendríticos”, foram identificadas em cortes de cérebro de camundongos e seres humanos com o auxílio de microscopia de super-resolução e análise por máquina de aprendizado.
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Elas se diferem das sinapses clássicas porque não fazem parte da junção química que conhecíamos; em vez disso, são prolongamentos finos que ligam diretamente dendrito a dendrito, sem os sinais típicos de junção de células.
Funcionalmente, os cientistas observaram que os nanotubos permitem a propagação de cálcio entre neurônios — um dos sinais elétrico-químicos usados pelas células cerebrais — e também o transporte de moléculas pequenas e da proteína amiloide‑β (Aβ), conhecida por se acumular em pessoas com Alzheimer.
Em experimentos, quando os pesquisadores injetaram Aβ em um neurônio, viram que ela era transportada para neurônios vizinhos através dessas pontes. Quando bloquearam a formação dos nanotubos, a propagação parou.
Em camundongos geneticamente moldados para desenvolver quadro semelhante ao do Alzheimer, a densidade dos nanotubos aumentou antes da formação das placas clássicas de amiloide, sugerindo que o mecanismo pode atuar no início da doença, antes mesmo de sintomas claros.
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Alzheimer é uma doença degenerativa causada pela morte de células cerebrais e que pode surgir décadas antes do aparecimento dos primeiros sintomas
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Por ser uma doença que tende a se agravar com o passar dos anos, o diagnóstico precoce é fundamental para retardar o avanço. Portanto, ao apresentar quaisquer sintomas da doença é fundamental consultar um especialista
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Apesar de os sintomas serem mais comuns em pessoas com idade superior a 70 anos, não é incomum se manifestarem em jovens por volta dos 30. Aliás, quando essa manifestação “prematura” acontece, a condição passa a ser denominada Alzheimer precoce
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Na fase inicial, uma pessoa com Alzheimer tende a ter alteração na memória e passa a esquecer de coisas simples, tais como: onde guardou as chaves, o que comeu no café da manhã, o nome de alguém ou até a estação do ano
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Desorientação, dificuldade para lembrar do endereço onde mora ou o caminho para casa, dificuldades para tomar simples decisões, como planejar o que vai fazer ou comer, por exemplo, também são sinais da manifestação da doença
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Além disso, perda da vontade de praticar tarefas rotineiras, mudança no comportamento (tornando a pessoa mais nervosa ou agressiva), e repetições são alguns dos sintomas mais comuns
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Segundo pesquisa realizada pela fundação Alzheimer’s Drugs Discovery Foundation (ADDF), a presença de proteínas danificadas (Amilóide e Tau), doenças vasculares, neuroinflamação, falha de energia neural e genética (APOE) podem estar relacionadas com o surgimento da doença
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O tratamento do Alzheimer é feito com uso de medicamentos para diminuir os sintomas da doença, além de ser necessário realizar fisioterapia e estimulação cognitiva. A doença não tem cura e o cuidado deve ser feito até o fim da vida
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Por outro lado, ainda há muitas perguntas em aberto: não se sabe exatamente quando e com que frequência essas pontes se formam no cérebro saudável, qual é o seu papel normal (além da doença) e se participam de outras patologias além do Alzheimer. Os pesquisadores alertam que este ainda é um estágio inicial da investigação.
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